O que nos
deixa satisfeitos, langorosos e ronronantes como gatos são meia dúzia de coisas
que satisfazem os sentidos e enchem a alma, como se esta ocupasse espaço entre
nós.
Parece que a
satisfação se aproxima de um sentido geral da sociedade, como se tivéssemos
múltiplos e diferentes estômagos sensíveis a diferentes tons da sensorialidade.
Podem ser odores, paladares, sonoridades, visões esplendorosas ou inolvidáveis.
Pode ser toques leves ou gamas de envolvência corporal que nos mergulham, mesmo
que por breves momentos, numa espécie de conhecimento da completude.
A
insatisfação, pelo contrário, tolda-nos o humor, escurece os dias, e rói dentro
de nós como se fosse uma moinha próxima da dor. Distraímo-la como podemos,
inventando objectivos, tecendo metas e propósitos, criando acontecimentos e
entreténs, investindo em emoções fortes, interesses que sabemos explicar,
valores que erigimos como princípios fundadores. Fazemos de tudo para a manter
silenciosa, dormente, enroscada num qualquer canto escuro que existe em nós, à
revelia de qualquer senso ou determinação treinada e bem-educada. Detestamos o
que não percebemos e não percebemos porque é que, no fim de tudo, a
insatisfação nos assalta como se tivesse vida própria e fosse indiferente aos
nossos melhores esforços.
Dizem
alguns, com o tom próprio dos filósofos a quem nada espanta, nem a própria
ignorância, que a insatisfação é própria do homem. Que reside nela a chama viva
de sermos construtores diligentes de culturas e civilizações, que carecemos
dela para gerar novos seres, outras descobertas, obras de arte. Que, para lá de
todas as pequenas insatisfações resultantes da frustração própria de quem não
vê os seus desejos cumpridos, há uma outra, enorme, imensa e construtiva.
Parece que é essa que nos move em direcção ao divino, e também que nos dispõe a
aceitar o nosso efémero trajecto, como se no fim houvesse um lugar de
desprendimento ou de encontro pleno em que finalmente a insatisfação nos
abandonasse. Ou nós a ela…
Joaquim Maneta Alhinho