Fui condenado a 2 anos de prisão.
Depois da sentença lida pela juiz do Tribunal de Setúbal,
vieram dois policias delicadamente junto a mim e colocaram-me uma braçadeira
plástica (qual algemas?) nas mãos, pediram desculpa e até perguntaram se
estavam a magoar. Gente boa, pensei!
O destino era a prisão do Montijo. Confortavelmente sentado
na carrinha, dei por mim a pensar que estava num luxuoso iate a curtir as
suaves ondas do Rio Sado.
Chegado ao destino, fizeram-me assinar alguma papelada,
deram-me a chave da cela, roupas novas a estrear e mostraram-me as instalações.
Durante o percurso apercebi-me de um silêncio asfixiante,
muito similar ao barulho baixinho. Chegados ao pátio deparo com uns cinco
“fregueses”. Uns estavam a ler, outros a rezar.
«Bonito serviço», disse para comigo.
Abeirei-me de um deles e perguntei em tom altivo: - «É pá, o
que é que estás aqui a fazer, ó meu?»
- Respondeu-me baixinho: - «Estava à pesca no Rossio e
trouxeram-me para aqui».
Dirige-me a outro e fiz a mesma pergunta. Respondeu-me entre
dentes, que estava ali, porque «afiava facas e tesouras ao domicilio».
Viro-me para o agente/guia e perguntei: «Afinal isto é uma
prisão ou um colégio?» Respondeu-me com um encolher de ombros. «Porra, aqui nem
o guarda prisional fala…», exclamei em voz alta.
Eu nem queria acreditar no que estava a presenciar. Sentei-me
no cadeirão verde instalado dentro de uma das balizas e dou por mim a pensar na
alhada onde estava metido.
Lamentei-me diversas vezes, «isto não é vida para mim. É
demasiado monótono e não vou aguentar muito tempo aqui. Esta não é a minha onda…»
Enquanto fumava um cigarro, chamei o guarda e mandei-o ir à
minha cela buscar a aparelhagem e duas grades de cervejas médias que tinha no
congelador.
Ai mãe, aquilo num ápice virou um pandemónio ao som dos
“Metálica” e dos “Alcoolémia”. Gente divertida, aos pulos e sorridentes. Bonito
de ver…
Inesperadamente, ouvi uma voz feminina aos gritos e só
percebi uma frase, esta: «Parou…O que vem a ser isto, meus meninos?»
Dirigiu-se a mim, olhou-me dos pés à cabeça e perguntou: -
«Quem é o senhor? O que está aqui a fazer no meu estabelecimento?»
Firme e hirto que nem uma barra de ferro, respondi-lhe: -
«Trouxeram-me minha senhora, porque de livre vontade não vinha, acredite!»
«O senhor está a gozar com a Doutora Directora deste
estabelecimento? Tenho ganho todos os anos o prémio de qualidade do
estabelecimento com menos presos do mundo e os mais educados de sempre. Aqui,
só entram prisioneiros de boa conduta, ouviu?» Acenei-lhe com a cabeça de forma
afirmativa.
- «O seu processo?» - perguntou e respondi de pronto: - «Não
tenho, nem o quero…Bolas!»
- «Afinal o que é que fez para estar aqui no meu
estabelecimento?»
- «Chamei “chata” à minha 12.ª esposa, senhora Doutora
Directora. As outras, não se queixaram porque estão ao serviço do Senhor e Ele
não as dispensou. Que Deus as conserve em paz».
- «Ai é? O senhor é um desordeiro e não o quero aqui misturado
com os meus meninos. Faça o favor de sair. Senhor guarda Bentinho, coloque o
Senhor Joaquim na rua».
- «Agora, digo eu, ai é???? E vou viver para onde?
- «Para os “Diabos do Inferno”…» - replicou.
Apesar de não saber onde fica este local, dirigi-me para a
saída. Os prisioneiros ao verem-me sair fizeram uma rebelião na prisão. Foram
chamados ao local, a policia de intervenção, de choque, a especial, para
colocar termo aos desacatos.
Por incrível que pareça é a segunda vez que sou expulso de uma instituição.
A primeira, no Seminário de Vila Viçosa por ter levantado a
saia a uma freira. Agora, não me querem na prisão por ser desobediente.
Que sina a minha, pá!