quarta-feira, 25 de maio de 2022

Condenado

Fui condenado a 2 anos de prisão.

Depois da sentença lida pela juiz do Tribunal de Setúbal, vieram dois policias delicadamente junto a mim e colocaram-me uma braçadeira plástica (qual algemas?) nas mãos, pediram desculpa e até perguntaram se estavam a magoar. Gente boa, pensei!

O destino era a prisão do Montijo. Confortavelmente sentado na carrinha, dei por mim a pensar que estava num luxuoso iate a curtir as suaves ondas do Rio Sado.

Chegado ao destino, fizeram-me assinar alguma papelada, deram-me a chave da cela, roupas novas a estrear e mostraram-me as instalações.

Durante o percurso apercebi-me de um silêncio asfixiante, muito similar ao barulho baixinho. Chegados ao pátio deparo com uns cinco “fregueses”. Uns estavam a ler, outros a rezar.

«Bonito serviço», disse para comigo.

Abeirei-me de um deles e perguntei em tom altivo: - «É pá, o que é que estás aqui a fazer, ó meu?»

- Respondeu-me baixinho: - «Estava à pesca no Rossio e trouxeram-me para aqui».

Dirige-me a outro e fiz a mesma pergunta. Respondeu-me entre dentes, que estava ali, porque «afiava facas e tesouras ao domicilio».

Viro-me para o agente/guia e perguntei: «Afinal isto é uma prisão ou um colégio?» Respondeu-me com um encolher de ombros. «Porra, aqui nem o guarda prisional fala…», exclamei em voz alta.

Eu nem queria acreditar no que estava a presenciar. Sentei-me no cadeirão verde instalado dentro de uma das balizas e dou por mim a pensar na alhada onde estava metido.

Lamentei-me diversas vezes, «isto não é vida para mim. É demasiado monótono e não vou aguentar muito tempo aqui. Esta não é a minha onda…»

Enquanto fumava um cigarro, chamei o guarda e mandei-o ir à minha cela buscar a aparelhagem e duas grades de cervejas médias que tinha no congelador.

Ai mãe, aquilo num ápice virou um pandemónio ao som dos “Metálica” e dos “Alcoolémia”. Gente divertida, aos pulos e sorridentes. Bonito de ver…

Inesperadamente, ouvi uma voz feminina aos gritos e só percebi uma frase, esta: «Parou…O que vem a ser isto, meus meninos?»

Dirigiu-se a mim, olhou-me dos pés à cabeça e perguntou: - «Quem é o senhor? O que está aqui a fazer no meu estabelecimento?»

Firme e hirto que nem uma barra de ferro, respondi-lhe: - «Trouxeram-me minha senhora, porque de livre vontade não vinha, acredite!»

«O senhor está a gozar com a Doutora Directora deste estabelecimento? Tenho ganho todos os anos o prémio de qualidade do estabelecimento com menos presos do mundo e os mais educados de sempre. Aqui, só entram prisioneiros de boa conduta, ouviu?» Acenei-lhe com a cabeça de forma afirmativa.

- «O seu processo?» - perguntou e respondi de pronto: - «Não tenho, nem o quero…Bolas!»

- «Afinal o que é que fez para estar aqui no meu estabelecimento?»

- «Chamei “chata” à minha 12.ª esposa, senhora Doutora Directora. As outras, não se queixaram porque estão ao serviço do Senhor e Ele não as dispensou. Que Deus as conserve em paz».

- «Ai é? O senhor é um desordeiro e não o quero aqui misturado com os meus meninos. Faça o favor de sair. Senhor guarda Bentinho, coloque o Senhor Joaquim na rua».

- «Agora, digo eu, ai é???? E vou viver para onde?

- «Para os “Diabos do Inferno”…» - replicou.

Apesar de não saber onde fica este local, dirigi-me para a saída. Os prisioneiros ao verem-me sair fizeram uma rebelião na prisão. Foram chamados ao local, a policia de intervenção, de choque, a especial, para colocar termo aos desacatos.

Por incrível que pareça é a segunda vez que sou expulso de uma instituição. 

A primeira, no Seminário de Vila Viçosa por ter levantado a saia a uma freira. Agora, não me querem na prisão por ser desobediente.

Que sina a minha, pá!