quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Desalento versus Optimismo

Vivemos num país lindíssimo. Claro que existem muitos outros países bonitos. Uns em belezas naturais, outros com cidades notáveis nas suas arquitecturas antigas ou muito modernas; alguns em que a História se cheira e nos acompanha nas ruas; outros que parecem destinados a férias permanentes. Há países habitados por povos muito simpáticos; outros com uma gastronomia que nos desenha roteiros; outros tão exóticos que só lá estar já é uma aventura; outros tão cosmopolitas que nos sentimos em banho cultural.
Mas, não retirando o mérito e a beleza aos que o têm, e comparando-os, obviamente, com países de idêntica dimensão, sempre se tem de concluir que a nossa mistura, mesmo desarrumada, tem encanto.
Há o mar ali sempre perto, há a luminosidade dos dias, que é um bem sem preço, há gente calorosa, comida bem feita, vinho saboroso, monumentos a pontuar as vistas quanto baste. Há uma paisagem que muda, permitindo-nos a sensação de, num só dia, viver muitos sítios e muitas experiências.
Já agora, em que se está a gabar o garbo cá da terra, diga-se que se encontram detalhes memoráveis: igrejinhas, hotéis de charme, lugares bem conservados, com um toque de requinte de outros tempos.
Posto isto, vamos ao resto, ao enorme resto, que suscita desolação e que é mais notório em período de férias, em que a dispersão das pessoas e a interrupção dos ritmos normais facilita a contemplação e a emergência de outros olhares.
As cidades, as vilas, os lugarejos, quase todos, são locais de uma decadência que escorre dos letreiros de vende-se e aluga-se; das lojas fechadas ou a trespasse; dos taipais nas janelas; dos milhares de edifícios antigos ao abandono, e os novos, sobretudo os que se dizem de escritórios, com ar de que não hão-de chegar a velhos, porque ninguém lhes pega. Depois, há os jardins maltratados; os caixotes do lixo, ladeados por entulho, à beira das estradas; os muitos subúrbios cheios de rotundas absurdas ou de obras de engenharia, ridículas, a tornear zonas candidatas a indiscutível implosão.
Mesmo o que está habituado e em uso tem, por regra, falta de tinta, falta de gosto, falta de investimento; ou. então, é arrumado, limpo, bonitinho e choca terrivelmente com tudo o resto, que o não é.
Deste quadro de decadência que todos vemos, sobressai depois o optimismo de alguns, que continuam a construir estradas paralelas às que já existem e novos condomínios, prefrencialmente de luxo, com nomes fabulosos.
Será que vemos todos o mesmo?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Velhos...Mas não trapos!

Com um bocado de sorte chegaremos a velhos. A alternativa é irmos ficando pelo caminho, o que, se para alguns dos mais jovens é capaz de parecer uma boa possibilidade, para muitos outros, de qualquer idade, é uma perspectiva pouco atraente: porque a perspectiva que se tem do ciclo de vida implica chegar a netos e a bisnetos; porque se empurra com a barriga, para um futuro longínquo, mil coisas que se gostaria de fazer e conhecer; porque se tem uma imensa curiosidade sobre o mundo que há-de vir; porque se detesta a ideia de fim, acabamento ou morte; em última análise, porque sim.
Por outras palavras, lado a lado com uns tantos que fazem uma negação maciça do envelhecimento - eventualmente porque projectam neles um declínio e uma decadência que temem - existem os outros todos que, consideradas todas as possiblidades, concluem, nem que seja nem que seja por exclusão de partes, que nem é mau de todo. Ou como dizia um miudinho um destes dias a propósito deste mesmo assunto: "embora lá".
Esta assumpção deve ter como consequência uma observação mais atenta da forma como nós próprios e o mundo que nos rodeia trata os nossos idosos. Entre muitas outras situações, deixem-me destacar duas que testemunho frequentemente.
A primeira, que imagino ser do desconhecimento geral, é que no Estado os professores universitários quando se jubilam (reformam por limite de idade), mesmo que queiram, mesmo que estejam - como é desejável que esteja hoje uma pessoa de setenta anos - na posse de todas as capacidades úteis ao desempenho da sua função, têm que ter autorização do primeiro-ministro para continuar qualquer actividade, mesmo que seja a título gratuito.
A complicação burocrática chega e sobra para fazer desistir qualquer um. Assim, de um dia par o outro, se descartam pessoas com um valor acumulado intrínseco extraordinário. Chama-se a isto um enorme desperdício.
Outra situação, muito diferente, ocorre no sistema de saúde, mas também nas famílias, quando uma pessoa idosa adoece. Assume-se (leia-se, assumem alguns) que por vezes é velha e começa a sair do prazo de validade não vale a pena desperdiçar muito tempo, dinheiro ou recursos com os tratamentos mais adequados. Ainda que toda a vida tenha feito enormes descontos para garantir cuidados quando precisasse, a atitude circundante anula os planos feitos e passa-se a um discurso inclassificável sobre a relação custo-benefício de qualquer intervenção.
Em vez de se ter em conta os interesses dos sujeitos em situação, deambula-se por ideias feitas sobre o valor social dos velhos que, infelizmente é - com rarísimas e notáveis excepções - próximo do nulo.
Estes são apenas dois, entre muitos outros exemplos que poderíamos dar, sobre a forma como tratamos os nossos idosos, exemplos que dão o testemunho daquilo que nós somos, como pessoas e como sociedade.

Nota: Todas as crónicas publicadas neste blogue não estão em consonãncia com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.

                                                                     Joaquim Maneta Alhinho