Vivemos num país lindíssimo. Claro que existem muitos outros países bonitos. Uns em belezas naturais, outros com cidades notáveis nas suas arquitecturas antigas ou muito modernas; alguns em que a História se cheira e nos acompanha nas ruas; outros que parecem destinados a férias permanentes. Há países habitados por povos muito simpáticos; outros com uma gastronomia que nos desenha roteiros; outros tão exóticos que só lá estar já é uma aventura; outros tão cosmopolitas que nos sentimos em banho cultural.
Mas, não retirando o mérito e a beleza aos que o têm, e comparando-os, obviamente, com países de idêntica dimensão, sempre se tem de concluir que a nossa mistura, mesmo desarrumada, tem encanto.
Há o mar ali sempre perto, há a luminosidade dos dias, que é um bem sem preço, há gente calorosa, comida bem feita, vinho saboroso, monumentos a pontuar as vistas quanto baste. Há uma paisagem que muda, permitindo-nos a sensação de, num só dia, viver muitos sítios e muitas experiências.
Já agora, em que se está a gabar o garbo cá da terra, diga-se que se encontram detalhes memoráveis: igrejinhas, hotéis de charme, lugares bem conservados, com um toque de requinte de outros tempos.
Posto isto, vamos ao resto, ao enorme resto, que suscita desolação e que é mais notório em período de férias, em que a dispersão das pessoas e a interrupção dos ritmos normais facilita a contemplação e a emergência de outros olhares.
As cidades, as vilas, os lugarejos, quase todos, são locais de uma decadência que escorre dos letreiros de vende-se e aluga-se; das lojas fechadas ou a trespasse; dos taipais nas janelas; dos milhares de edifícios antigos ao abandono, e os novos, sobretudo os que se dizem de escritórios, com ar de que não hão-de chegar a velhos, porque ninguém lhes pega. Depois, há os jardins maltratados; os caixotes do lixo, ladeados por entulho, à beira das estradas; os muitos subúrbios cheios de rotundas absurdas ou de obras de engenharia, ridículas, a tornear zonas candidatas a indiscutível implosão.
Mesmo o que está habituado e em uso tem, por regra, falta de tinta, falta de gosto, falta de investimento; ou. então, é arrumado, limpo, bonitinho e choca terrivelmente com tudo o resto, que o não é.
Deste quadro de decadência que todos vemos, sobressai depois o optimismo de alguns, que continuam a construir estradas paralelas às que já existem e novos condomínios, prefrencialmente de luxo, com nomes fabulosos.
Será que vemos todos o mesmo?
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Velhos...Mas não trapos!
Com um bocado de sorte chegaremos a velhos. A alternativa é irmos ficando pelo caminho, o que, se para alguns dos mais jovens é capaz de parecer uma boa possibilidade, para muitos outros, de qualquer idade, é uma perspectiva pouco atraente: porque a perspectiva que se tem do ciclo de vida implica chegar a netos e a bisnetos; porque se empurra com a barriga, para um futuro longínquo, mil coisas que se gostaria de fazer e conhecer; porque se tem uma imensa curiosidade sobre o mundo que há-de vir; porque se detesta a ideia de fim, acabamento ou morte; em última análise, porque sim.
Por outras palavras, lado a lado com uns tantos que fazem uma negação maciça do envelhecimento - eventualmente porque projectam neles um declínio e uma decadência que temem - existem os outros todos que, consideradas todas as possiblidades, concluem, nem que seja nem que seja por exclusão de partes, que nem é mau de todo. Ou como dizia um miudinho um destes dias a propósito deste mesmo assunto: "embora lá".
Esta assumpção deve ter como consequência uma observação mais atenta da forma como nós próprios e o mundo que nos rodeia trata os nossos idosos. Entre muitas outras situações, deixem-me destacar duas que testemunho frequentemente.
A primeira, que imagino ser do desconhecimento geral, é que no Estado os professores universitários quando se jubilam (reformam por limite de idade), mesmo que queiram, mesmo que estejam - como é desejável que esteja hoje uma pessoa de setenta anos - na posse de todas as capacidades úteis ao desempenho da sua função, têm que ter autorização do primeiro-ministro para continuar qualquer actividade, mesmo que seja a título gratuito.
A complicação burocrática chega e sobra para fazer desistir qualquer um. Assim, de um dia par o outro, se descartam pessoas com um valor acumulado intrínseco extraordinário. Chama-se a isto um enorme desperdício.
Outra situação, muito diferente, ocorre no sistema de saúde, mas também nas famílias, quando uma pessoa idosa adoece. Assume-se (leia-se, assumem alguns) que por vezes é velha e começa a sair do prazo de validade não vale a pena desperdiçar muito tempo, dinheiro ou recursos com os tratamentos mais adequados. Ainda que toda a vida tenha feito enormes descontos para garantir cuidados quando precisasse, a atitude circundante anula os planos feitos e passa-se a um discurso inclassificável sobre a relação custo-benefício de qualquer intervenção.
Em vez de se ter em conta os interesses dos sujeitos em situação, deambula-se por ideias feitas sobre o valor social dos velhos que, infelizmente é - com rarísimas e notáveis excepções - próximo do nulo.
Estes são apenas dois, entre muitos outros exemplos que poderíamos dar, sobre a forma como tratamos os nossos idosos, exemplos que dão o testemunho daquilo que nós somos, como pessoas e como sociedade.
Nota: Todas as crónicas publicadas neste blogue não estão em consonãncia com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Joaquim Maneta Alhinho
Por outras palavras, lado a lado com uns tantos que fazem uma negação maciça do envelhecimento - eventualmente porque projectam neles um declínio e uma decadência que temem - existem os outros todos que, consideradas todas as possiblidades, concluem, nem que seja nem que seja por exclusão de partes, que nem é mau de todo. Ou como dizia um miudinho um destes dias a propósito deste mesmo assunto: "embora lá".
Esta assumpção deve ter como consequência uma observação mais atenta da forma como nós próprios e o mundo que nos rodeia trata os nossos idosos. Entre muitas outras situações, deixem-me destacar duas que testemunho frequentemente.
A primeira, que imagino ser do desconhecimento geral, é que no Estado os professores universitários quando se jubilam (reformam por limite de idade), mesmo que queiram, mesmo que estejam - como é desejável que esteja hoje uma pessoa de setenta anos - na posse de todas as capacidades úteis ao desempenho da sua função, têm que ter autorização do primeiro-ministro para continuar qualquer actividade, mesmo que seja a título gratuito.
A complicação burocrática chega e sobra para fazer desistir qualquer um. Assim, de um dia par o outro, se descartam pessoas com um valor acumulado intrínseco extraordinário. Chama-se a isto um enorme desperdício.
Outra situação, muito diferente, ocorre no sistema de saúde, mas também nas famílias, quando uma pessoa idosa adoece. Assume-se (leia-se, assumem alguns) que por vezes é velha e começa a sair do prazo de validade não vale a pena desperdiçar muito tempo, dinheiro ou recursos com os tratamentos mais adequados. Ainda que toda a vida tenha feito enormes descontos para garantir cuidados quando precisasse, a atitude circundante anula os planos feitos e passa-se a um discurso inclassificável sobre a relação custo-benefício de qualquer intervenção.
Em vez de se ter em conta os interesses dos sujeitos em situação, deambula-se por ideias feitas sobre o valor social dos velhos que, infelizmente é - com rarísimas e notáveis excepções - próximo do nulo.
Estes são apenas dois, entre muitos outros exemplos que poderíamos dar, sobre a forma como tratamos os nossos idosos, exemplos que dão o testemunho daquilo que nós somos, como pessoas e como sociedade.
Nota: Todas as crónicas publicadas neste blogue não estão em consonãncia com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Joaquim Maneta Alhinho
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