sábado, 19 de dezembro de 2015

As dores de cabeça e o sexo



Esta semana jantei com duas amigas. Ambas casadas. Uma há uma boa dúzia de anos. A outra recente. Conversas à mesa de um restaurante e veio a tema, os seus homens, claro. As promessas que fazem, os que cumprem nos primeiros tempos e depois, devagarinho, vão-se esquecendo, deixando para depois. A "conversa do costume" quando chegam a casa: "Estou cansadíssimo. Tive um dia horrível" ou "não exijas muito de mim que hoje foi terrível" ou, pior que tudo: "mas tu só pensas nisso?!". As duas contavam a história e riam - para não chorar, claro. "Sabes, Quim, por isso é que quando me dizem que as mulheres estão sempre cansadas, acho que é uma piada. Nós temos uma vitalidade incrível. Vocês homens é que não têm pedalada para nós...", suspirava, enfim, a mais madura em matéria de casamento, já com filhos crescidos. A outra acenava com a cabeça afirmativamente.
Se tivesse sido esta a única conversa do género no espaço de uma semana e eu ficaria tranquilo. Significava que as minhas amigas tinham simplesmente energia a mais para os seus maridos. O pior é que a coisa não ficou por aqui, porque passado uma semana estive num outro jantar, este "misturado" - ou seja, com casais. Mas aqueles casais em que as mulheres conversam com mulheres, e homens com homens. Uma seca, digo eu! Quando me acerco do grupo das mulheres uma delas tinha iniciado um desabafo em voz baixa sobre a "falta de marido"... "Ele anda sempre cansado. Agora já anda cansado há dois meses?!"
Fiquei calado, abri os olhos, encolhi os ombros e soltei um silencioso: "É pá...".
Pois, pensei depois, a verdade é que já é tempo de acabar com o mito criado pelo sexo masculino de que as mulheres estão sempre cheias de dores de cabeça. Essa velha desculpa para se virarem para o outro lado e adormecerem. Pois, pelos vistos, a coisa está a mudar, pelo menos para um certo tipo de mulheres: as emancipadas, seguras de si, que quando chegam a casa, após um longo e estafante dia de trabalho, depois de resolverem tudo e cuidar das crianças, querem exactamente aquilo que eles reclamaram: que ninguém naquela relação tenha dores de cabeça. Não naquele momento de...poder viver! Achei que o que estava a mudar não eram as mulheres sentirem isso - não tenho dúvidas que sempre o pensaram, nas alturas certas. O que mudou é que agora não têm tabus de falar abertamente sobre a situação. Aquela situação frustrante de ser só um a querer... e, neste caso, elas.
"Agora tu vê: uns são gays, os outros casados, os nossos estão sempre cansados... O mundo está perdido!" Por tudo isto, aqui fica um alerta aos homens deste país (e além fronteiras, já agora): amigos, antes de dizerem que estão com dores e cansados, passem na farmácia, comprem um analgésico, daqueles potentes, e já agora tragam mais alguma coisa para "alegrar" as vossas mulheres nas horas que se seguem. O mundo mudou, acreditem!
Onde estão os machos latinos que tão boa conta dava do recado? Será que estão em vias de extinção?
Vamos lá, depois não digam que ninguém vos avisou…


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