sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O segredo de ser pai e ser filho


Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a protecção do ninho. Sei que é inevitável que eles voem em todas as direcções como andorinhas adoidadas.
Sei que é inevitável que eles construam os seus próprios ninhos e eu fique com o ninho abandonado no alto da serra.
Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo…
Existem muitos jeitos de voar. Até mesmo o voo dos filhos ocorre por etapas. A nossa impotência de estarmos com eles 24 horas por dia, o desmame, o “vigiado” soltar da rédea, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, a primeira noite fora de casa, a primeira viagem solitária, o “avisar” e “deixar bater com a cabeça na parede”, porque por vezes tal também é necessário e positivo.
Desde o nascimento dos nossos filhos que temos a oportunidade de aprender sobre esse estranho movimento de ir e vir, segurar e soltar, acolher e libertar. Nem sempre percebemos que esses momentos tão singelos são pequenos ensinamentos sobre o exercício da liberdade.
Mas, chega um momento em que a realidade bate à porta e escancara novas verdades, impossíveis de recusar, contudo difíceis de encarar. É a sua ida para a ama, o infantário, depois a escola, o liceu, a faculdade, o emprego… enfim o “PROGRESSIVO” “grito do Ipiranga“ da independência, a força da vida em movimento, o poder do tempo que tudo transforma sem disso darmos conta.
Quando nos damos conta, que já um dia o fizemos aos nossos pais, de que os nossos filhos cresceram (e muitas das vezes, por “não termos tempo” nem demos por isso) e apesar de insistirmos em ocupar o lugar de destaque, eles sentem urgência de conquistar o seu próprio espaço, o seu mundo ligeiramente à distância, longe de nós.
E nós filhos, que outrora só demos preocupações e problemas, muito embora “salpicados”, por aqui e por ali, com sorrisos e sucessos, ao vermos os nossos pais perderem as suas forças, o seu vigor e tristemente a sua independência e faculdades, dando ao cuidado de estranhos, porque nos sentimos impotentes para deles tratar, com alguma dignidade, porque a vida assim está organizada. Olhamo-nos ao espelho e começamos a verificar, também em nós próprios, cansaço, rugas, cabelos brancos, pequenas “rabugices”, ao irmos (nas suas costas rectificar coisas que outrora jamais necessitavam de rectificação), dando-lhes sempre razão para não os desmotivar, querendo às vezes (para não dizer sempre) “parecer” fortes, (pura ilusão) damos por nós olhando para o espelho e dizer: Esta vida tem que continuar.
Alguém invisível, está a tomar conta das operações muito discretamente e não permite que os “normais” tropeções da vida nos magoem demasiado.
É chegado então o tempo de recolher as nossas asas. Aprender a abraçar à distância, a estar sempre pronto a colaborar, mas nunca a sufocar, a comemorar vitórias das quais não participamos directamente, apoiando decisões, (por vezes erradas) porque a fazer asneiras também se aprende. Por isso caminhamos para longe, permitindo o prosseguir desta coisa tão bela, que se desenrola completamente de improviso, que se chama VIDA.
Tudo isto é amor, sabiam?


Joaquim Maneta Alhinho

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