Sei que é
inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a protecção
do ninho. Sei que é inevitável que eles voem em todas as direcções como
andorinhas adoidadas.
Sei que é
inevitável que eles construam os seus próprios ninhos e eu fique com o ninho
abandonado no alto da serra.
Mas, o que
eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo…
Existem
muitos jeitos de voar. Até mesmo o voo dos filhos ocorre por etapas. A nossa
impotência de estarmos com eles 24 horas por dia, o desmame, o “vigiado” soltar
da rédea, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, a primeira noite fora
de casa, a primeira viagem solitária, o “avisar” e “deixar bater com a cabeça
na parede”, porque por vezes tal também é necessário e positivo.
Desde o
nascimento dos nossos filhos que temos a oportunidade de aprender sobre esse
estranho movimento de ir e vir, segurar e soltar, acolher e libertar. Nem
sempre percebemos que esses momentos tão singelos são pequenos ensinamentos
sobre o exercício da liberdade.
Mas, chega
um momento em que a realidade bate à porta e escancara novas verdades,
impossíveis de recusar, contudo difíceis de encarar. É a sua ida para a ama, o
infantário, depois a escola, o liceu, a faculdade, o emprego… enfim o “PROGRESSIVO”
“grito do Ipiranga“ da independência, a força da vida em movimento, o poder do
tempo que tudo transforma sem disso darmos conta.
Quando nos
damos conta, que já um dia o fizemos aos nossos pais, de que os nossos filhos
cresceram (e muitas das vezes, por “não termos tempo” nem demos por isso) e
apesar de insistirmos em ocupar o lugar de destaque, eles sentem urgência de
conquistar o seu próprio espaço, o seu mundo ligeiramente à distância, longe de
nós.
E nós filhos,
que outrora só demos preocupações e problemas, muito embora “salpicados”, por
aqui e por ali, com sorrisos e sucessos, ao vermos os nossos pais perderem as
suas forças, o seu vigor e tristemente a sua independência e faculdades, dando
ao cuidado de estranhos, porque nos sentimos impotentes para deles tratar, com
alguma dignidade, porque a vida assim está organizada. Olhamo-nos ao espelho e começamos
a verificar, também em nós próprios, cansaço, rugas, cabelos brancos, pequenas
“rabugices”, ao irmos (nas suas costas rectificar coisas que outrora jamais
necessitavam de rectificação), dando-lhes sempre razão para não os desmotivar,
querendo às vezes (para não dizer sempre) “parecer” fortes, (pura ilusão) damos
por nós olhando para o espelho e dizer: Esta vida tem que continuar.
Alguém
invisível, está a tomar conta das operações muito discretamente e não permite
que os “normais” tropeções da vida nos magoem demasiado.
É chegado
então o tempo de recolher as nossas asas. Aprender a abraçar à distância, a
estar sempre pronto a colaborar, mas nunca a sufocar, a comemorar vitórias das
quais não participamos directamente, apoiando decisões, (por vezes erradas) porque
a fazer asneiras também se aprende. Por isso caminhamos para longe, permitindo
o prosseguir desta coisa tão bela, que se desenrola completamente de improviso,
que se chama VIDA.
Tudo isto é
amor, sabiam?
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