Era uma vez um velho agricultor. Homem
sério e honesto, que tinha feito uma pequena fortuna, à custa do seu árduo
trabalho, ao longo dos anos.
Sempre trabalhara de sol a sol,
cultivando os campos de onde retirava excelentes colheitas.
Alguns meses antes de morrer, o homem
chamou os seus três filhos e disse-lhes:
– Meus filhos, já tenho uma vida
longa e sinto que a mesma está a terminar. Por isso, antes de partir para a
minha última morada quero perguntar-vos quais são os bens que cada um de vocês
quer que eu lhes deixe.
O filho mais velho, sendo o primeiro
a falar, pediu:
– Pai, eu queria que me deixasses
todo o dinheiro que ganhaste nos teus anos de vida. Com ele poderei ter uma
vida desafogada e dedicar-me a viajar e conhecer os lugares que nunca pude
conhecer por estar aqui ao teu lado. O pai assentiu.
O filho do meio, chegada a sua vez de
falar, disse:
– Meu pai, sei o quanto trabalhaste
nesta terra e como ela é valiosa, por isso, queria que me deixasses ficar com os
teus campos. Eu os cultivarei e tirarei um bom rendimento deles.
Sendo esta a sua vontade, o pai concordou.
Por fim, chegou a vez do filho mais
novo. O pai, um pouco triste com o egocentrismo demonstrado pelos outros
filhos, questionou-o:
– Meu filho, os teus irmãos já
ficaram com o dinheiro e os campos, o que poderás tu querer de mim?
– Pai – respondeu este – não penses
que fico triste porque os meus irmãos já ficaram com o dinheiro e os campos!
Acontece que não era nenhuma dessas coisas que te queria pedir.
O velho camponês surpreendeu-se:
– A sério? Então o que me queres
pedir?
O filho segurou-lhe na mão
carinhosamente e disse:
– Ao longo de todos estes anos
observei, dia após dia, a forma como trabalhaste a terra, o dinheiro que
fizeste e o que investiste, mas por muito que tenha observado, receio ainda não
ser capaz de ser tão bom como tu. Eu sei que tens um caderno sujo e amarelado
onde foste registando cada uma das aprendizagens que fizeste no teu percurso de
vida e seria uma grande honra para mim poder ficar com ele.
O pai, ao ouvir aquelas palavras
emocionou-se. Os irmãos entreolharam-se e silenciosamente perguntaram-se se o
irmão teria perdido o juízo, mas nada disseram.
– Se é esse o teu desejo, assim será.
O homem morreu e a vontade dele e de
cada um dos filhos foi cumprida.
O mais velho partiu nas viagens que
sempre sonhara, reunindo o conhecimento que desejava, mas, em pouco tempo o
dinheiro acabou-se e, não sabendo o que fazer com o resultado das suas viagens,
viu-se forçado a voltar a casa.
Lá iria encontrar os campos do seu
pai abandonados e maltratados porque o irmão do meio simplesmente não sabia o
que fazer com eles. Este ainda tentara inicialmente, mas depois de algum tempo
de tentativas falhadas e muitos endividamentos, acabou por desistir.
O filho mais novo, esse também tinha partido,
mas, ao contrário do mais velho, saíra para trabalhar, aplicando os conhecimentos
do seu pai. Primeiro nas terras de outros, depois num pequeno campo que
conseguira comprar para si e cujas dimensões iam progressivamente aumentando
com o resultado do seu trabalho.
Também ele voltou a casa algum tempo
depois para uma visita e, perante a situação que lá encontrou, não hesitou em comprar
os campos do seu pai, ao seu irmão do meio.
Quando isto aconteceu, os irmãos mais
velhos aproximaram-se do mais novo e desabafaram:
– Meu irmão, como sabes estamos
falidos e não nos resta outra opção senão ficar aqui a trabalhar para ti… Se
nos quiseres, claro!
O rapaz olhou para eles e disse:
– Não quero que trabalhem para mim…Quero
que trabalhem comigo! Embora vocês tenham perdido a herança que o nosso pai vos
deixou, eu quero partilhar a minha convosco!
E assim aconteceu. Os três irmãos
trabalharam em conjunto, partilhando do conhecimento que o pai tinha reunido
durante toda a sua vida e, com o esforço do seu trabalho reergueram toda a
fortuna que este tinha construído.
Não há maior herança a deixar, do que os conhecimentos que
transmitimos aos nossos filhos.
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