sábado, 28 de março de 2020

A RAÇA DE UM ALENTEJANO




Como é um alentejano?
É, assim, a modos que atravessado.
Nem é bem branco, nem negro, nem castanho, nem amarelo, nem vermelho...
E também não é bem judeu, nem bem cigano.
Como é que hei-de explicar?
É uma mistura disto tudo com uma pinga de azeite e uma côdea de pão:
- Dos amarelos, herdámos a filosofia oriental, a paciência de chinês e aquela paz interior do tipo "não há nada que me chateie"…
- Dos negros, o gosto pela savana, por não fazer nada e pelos prazeres da vida;
- Dos judeus, o humor cáustico e refinado e as anedotas curtas e autobiográficas;
- Dos árabes, a pele curtida pelo sol do deserto e esse jeito especial de nos escarrancharmos nos camelos;
- Dos ciganos, a esperteza de enganar os outros, convencendo-os de que são eles que nos estão a enganar;
- Dos brancos, o olhar intelectual de carneiro mal morto;
- Dos vermelhos, essa grande maluqueira de sermos todos iguais.
O alentejano, como se vê, mais do que uma raça pura, é uma raça apurada.
Ou melhor, uma caldeirada feita com os melhores ingredientes de cada uma das raças.
Não é fácil fazer um alentejano.
Por isso há tão poucos!
É certo que os judeus são o povo eleito de Deus.
Mas os alentejanos têm uma enorme vantagem sobre os judeus: nunca foram eleitos por ninguém, o que é o melhor certificado da sua qualidade.
E já imaginaram o que seria o mundo governado por um alentejano?
Era um descanso!
Ah, magano…



terça-feira, 24 de março de 2020

Paciência


Paciência

Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados…
Seriam muitos os que iriam gastar uma parte do seu ordenado nessa “mercadoria” tão rara hoje em dia…
Por quase nada, a mulher diz palavrões que fazem lembrar as antigas vendedoras do Bulhão.
E o bem-comportado administrativo? O “cavalheiro” de outros tempos, transforma-se num “animal selvagem”, no trânsito que ele mesmo ajuda a criar confusão…
Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o feitio do chefe é de bradar aos céus, a esposa tornou-se numa chata e o marido virou um cabide sem roupa.
Ida ao cinema com 200 canais de TV em casa? Não! Ao teatro? Nem pensar…Até o passeio virou telenovela.
O saldo bancário via internet demora a abrir. Puxa… O email com um assunto importante era longo e foi para a lixeira.
Pobre de nós, homens e mulheres sem paciência e sem tempo para a vida.
A paciência está em falta no mercado, e pelos vistos, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta.
Pergunte a alguém, que saiba que é “demasiado ansioso”, onde é que ele quer chegar? Qual o objectivo da sua vida?
Surpreenda-se com a falta de metas e com o vazio das suas respostas.
E tu? Onde queres chegar? Estás tão apressado para quê? Por quem? O teu coração vai aguentar esse ritmo? Se morreres amanhã, pensas que o mundo vai parar? A empresa onde trabalhas vai acabar? As pessoas que amas vão parar também?
Respira e acalma-te!
O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia o Sol vai completar o seu ciclo, com ou sem paciência…
Não somos seres humanos a passar por uma experiência espiritual…Somos seres espirituais a passar por uma experiência humana…
Pensa nisto e tem Paciência!



quinta-feira, 19 de março de 2020

Bastou apenas meia dúzia de dias


Algo invisível chegou e colocou tudo no sítio.  
De repente os combustíveis baixaram, a poluição baixou, as pessoas passaram a ter tempo, tanto tempo que nem sabem o que fazer com ele, os pais estão com os filhos em família, o trabalho deixou de ser prioritário, as viagens e o laser também.
De repente silenciosamente voltamo-nos para dentro de nós próprios e entendemos o valor da palavra solidariedade.
Num instante damos conta que estamos todos no mesmo barco, ricos e pobres, que as prateleiras dos supermercados estão vazias e os hospitais cheios e que o dinheiro e os seguros de saúde que o dinheiro pagava não têm nenhuma importância, porque os hospitais privados foram os primeiros a fechar.
Nas garagens ou nos parqueamentos estão parados igualmente os carros topo de gama ou ferro velhos antigos, simplesmente porque ninguém pode sair.
Bastaram meia dúzia de dias para que o Universo estabelecesse a igualdade social que se dizia ser impossível de repor.
O MEDO invadiu toda a gente.
Que ao menos isto sirva para nos darmos conta da vulnerabilidade do ser humano.
BASTOU APENAS MEIA DÚZIA DE DIAS.





sexta-feira, 13 de março de 2020

A relação acabou. E agora? Agora é a hora da mudança...



Quem nunca passou por isto?  Nós recalculamos, reinventamos, reaprendemos…
Um dia destes em conversa com um amigo falámos sobre os recomeços, sobre esta etapa da vida em que temos de nos reencontrar e recomeçar uma nova vida, pós separação.
Ele contava-me sobre a dificuldade de se relacionar com uma casa vazia, e fiquei a pensar: -«Com o nosso novo espaço também se vive com esse processo de mudança, em aprendizagem e evolução».
Se a relação acabou, se a companheira partiu ou ficou, a relação que permanece é uma só: Agora és só tu e a tua casa. Tu cuidas dela e ela cuida de ti.
É claro que passamos por aqueles momentos de solidão e introspecção, em que não existe a menor possibilidade de qualquer manifestação de proactividade. Sim! E é importante respeitar e viver o seu tempo, até que essa resenha comece a fornecer um certo cansaço. E acredite, essa hora vai chegar. Não tenhamos dúvidas…
E já que estamos a falar em recomeço, vamos começar por deixar de lado uma palavra que sempre teve que lidar na hora de decidir: “Ok, tu é que sabes…”
Chegou a hora de praticar o egoísmo e isso vai ser maravilhoso. Não precisas de voltar a estar de acordo com tudo, nem nas escolhas, nem nas decisões. Basta seres sincero contigo mesmo.
Quanto a mim, cá me vou desenrascando…Estou a aprender a gatinhar novamente!



sábado, 7 de março de 2020

O meu coração ficou Lindo


Antes de mudar de casa e optar por viver sozinho, dei por mim a pensar assim:
Comecei por forrar o coração. Estava a precisar, confesso! Deixava entrar as humilhações, o meu sentido de liberdade e a humidade da mágoa agarrava-se ao meu peito.
Agora, o meu coração parece outro. Vive livre. Usei o amor-próprio que tinha colocado de lado, debruei-o com tule e veludo e estampei-o na minha mala, gasta e corroída pelas mudanças. Ficou lindo…
Um coração que gosta de si próprio, conserva melhor o calor, a ternura e o amor ao próximo.