quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Só um Alentejano percebe…

 

Todo o bom alentejano “abala”, para um sítio qualquer, que normalmente é já ali. 

O ser já ali é uma forma de dizer que não é muito longe, mas claro que qualquer aldeia perto aqui no Alentejo, está no mínimo a cerca de 30 km. 

Só um alentejano sabe ser alentejano! Mais nada…

Um alentejano “amanha” as suas coisas, não as arranja, um alentejano tem “cargas de fezes”, não tem problemas, um alentejano “inteira-se das coisas” não fica a saber… No Alentejo não há aldrabões há “pantomineiros” e aqui também não se brinca, “manga-se”.

No Alentejo não se deita nada fora, “aventa-se” qualquer coisa e come-se “ervilhanas” ou “alcagoitas” (amendoins) e “brinhol” (farturas). Os alentejanos não espreitam nada nem ninguém, apenas se “assomam”… E quando se “assomam” muitas vezes podem mesmo ter dores nos “artelhos” (tornozelos)!

As coisas velhas são “caliqueiras” e muitas vezes viaja-se de “furgonete” (carrinha de caixa aberta), algo que pode deixar as pessoas “alvoreadas” (desassossegadas). Quando algo não corre bem, é uma “moideira” (chatice) e ficamos “derramados” (aborrecidos) com a situação, levando muitas vezes a que as pessoas acabem por “garrear” (discutir) umas com as outras e a fazerem grandes “descabeches” (alaridos).

“Ainda-bem-não” (regularmente) as pessoas tem que puxar pela “mona” (cabeça) para se desenrascarem quando muitas vezes a solução dos seus problemas está mesmo “escarrapachada” (bem visível) à sua frente.

Não estou “repeso” (arrependido) de ter escrito esta pequena crónica, com vista a lembrar detalhes do património oral, que nos é tão próximo e muitas vezes de “bradar” aos céus. “Dei fé” (pesquisei) algumas expressões e tentei não vos criar, a vós leitores, uma grande “moenga” (confusão), apenas quero que guardem algumas destas expressões na vossa “alembradura” (lembrança)!

Ora porra, “atão” se não me virem por aqui é porque “Abalei” (fui-me embora e pronto)…

                                                  

                                                          


 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O Amar e o Armar

 

O brilho da aurora nos olhos de quem ama, é um presente, uma dádiva de Deus.

Viajar com o amor no coração equivale a viver com um sol no peito.

É o mesmo que portar a essência das estrelas num sopro vital. Significa respirar o subtil no sentimento e comungar pensamentos que só alguém na mesma sintonia perceberá.

O amor forma laços vitais entre as pessoas.

Porém, muitas vezes algumas pré-disposições internas (filhas do passado mal resolvido emocionalmente) interferem, formando barreiras e separando-as sem que o motivo real seja detectado. Outras vezes, é apenas o ego sabotando o carinho e tirando das pessoas o seu melhor: a capacidade de enternecer o coração.

Muitas destroem o carinho por demandas do ego negativo e passam a fazer do relacionamento uma disputa de poder. Confundem o amor com dependência alienante e a própria arrogância com força de vontade. Corrompem o amor com posturas teimosas e encapam o coração com camadas de auto-defesa e armam as suas vidas com carradas de ironias. Parecem firmes por fora, mas perderam postura por dentro.

Para aqueles que disputam a supremacia sobre o outro, há um preço alto a pagar: perde-se o brilho da aurora do amor nos olhos. No entanto, de que adianta empertigar a cabeça e parecer auto-suficiente emocionalmente por fora, se por dentro o coração está cercado pelas trevas da insegurança e os olhos já não brilham mais?

Ah, meus amigos!  Parecemos crianças nos relacionamentos. Magoamo-nos  facilmente e perdemos o presente do amor. Pensem no seguinte: relacionamento é ancoragem. Espíritos afins ancoram-se mutuamente no coração e assim os laços vitais são formados. Essa ancoragem é necessária para que os parceiros possam evoluir juntos. No entanto, muitos fogem desse presente e armam trincheiras cheias de explosivos emocionais  junto do próprio coração.

Parecem estar presentes no relacionamento, mas estão prontos para detonar as bombas a qualquer instante.

Nesse caso, há que se perguntar: qual é a sintonia entre amar e se armar? É possível colher flores tranquilamente em terreno minado? É possível ouvir a sinfonia do amor no meio do trovejar de canhões emocionais?

Como nós  somos tão complicados na arte do amor! Sem o brilho da aurora do amor nos seus olhos que luz poderá guiar os seus caminhos no mundo sem brilho? Com o peso do passado incomodando (consciente ou inconscientemente) e espetando o presente com as suas repercussões insólitas no campo afectivo, o que será o futuro do coração?

Flores ou trincheiras? Música ou o espocar das armas emocionais ensurdecendo o coração? O crescimento dos parceiros ou aquela constante tensão surda solapando a ternura? Trocar o brilho da aurora do amor nos olhos pelos vulcões emocionais de uma aventura comandada pela escuridão do ego. Dar valor apenas à forma carnal (refém do tempo, pois todos envelhecem) e não perceber o brilho real além das aparências é apenas iludir-se com o transitório.

A paz nos relacionamentos está nesse brilho. Pensem nisso: o brilho que não tem idade e não depende da forma…

O brilho que permite a comunicação silenciosa entre os parceiros…

A aurora que encontra a aurora nos olhos do parceiro, os pensamentos que eliminam a distância e os corações que se admiram mutuamente são frutos desse brilho. Sem esse brilho, o que existe é apenas o turbilhão das paixões desencontradas e as suas agonias.

Podemos estar magoados com o fim de algum relacionamento, mas tudo passa e as trevas da dor da perda serão naturalmente transcendidas pela aurora do amor.

Banhem-se na luz eterna. Fechem os olhos e pensem na luz branca brilhante que permeia  tudo. Preencham o coração com essa luz. Tornem-se essa luz. Sintam-se presentes nesse brilho.

O amor é um presente da luz…Um presente de Deus!

Vamos fazer para que sejamos mais felizes?