domingo, 20 de março de 2022

As saudades que tenho do meu pai

 

Entre a ausência e a presença que sinto todos os dias em cada passo que dou, invariavelmente, a saudade cobre-me com um manto de tristeza por todos os passos que passei a dar sozinho, sem a mão dada ou a passar-me pela cabeça, sem a palmadinha nas costas, sem o amparo das escorregadelas de quem pensa que tudo sabe. A falta que me fazem os conselhos sábios de quem viveu mil vidas!

Hoje sou o fruto de tudo o que ouvi e insisti em fazer o contrário, sou um acumulado de erros corrigidos pelas cábulas que escrevi durante os 35 anos em tive o melhor professor do mundo. Com o tempo, voltei atrás e fui fazendo a "revisão da matéria dada" baseada nos sumários de tempos idos onde os tópicos de uma educação exemplar começaram a fazer sentido a partir do momento em que eu, o aluno disciplinado, decidiu ser pai.

Tudo muda. A tecnologia, a moda, a arquitetura, os hábitos e tantas outras coisas mas, os valores e os princípios depositados nas velhinhas sebentas escritas e rasuradas, guardadas no fundo do baú, como se do rascunho da bíblia se tratasse, não mudam. Nunca mudam! As páginas que outrora pensei não me servirem, são hoje o meu manual de instruções nesta difícil caminhada da vida.

Revejo-me, orgulhosamente, na sombra do meu “Deus”!

Ensinou-me que os verdadeiros heróis combatem o ódio com amor. Mostrou-me que o "olho por olho" apenas faz de nós cegos poetas, de punho em riste, a tentar salvar rabiscos errantes de valores deturpados em mares revoltos de egoísmo.

As sebentas, essas continuaram a servir de índice ao que todos os dias tentei passar aos meus filhos. Infelizmente, não resultou…

Quando o senhor meu pai decidiu partir, escrevi-lhe na campa... "Pai, esta foi a única viagem que não pudeste contar-nos! A morte despiu-te de nós para vestir o teu humanismo!".

Quando eu morrer, escrevam na minha campa: "Aqui, jaz, o Joaquim, pai de três filhos, casado com Nanda Alves e filho de Domingos Alhinho, um homem digno que nunca se deixou vergar pelos valores deturpados que a sociedade lhe quis impor"!

Estamos juntos! Ámen, meu Pai!

 

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