Entre a ausência e a presença que sinto todos os dias em cada
passo que dou, invariavelmente, a saudade cobre-me com um manto de tristeza por
todos os passos que passei a dar sozinho, sem a mão dada ou a passar-me pela
cabeça, sem a palmadinha nas costas, sem o amparo das escorregadelas de quem
pensa que tudo sabe. A falta que me fazem os conselhos sábios de quem viveu mil
vidas!
Hoje sou o fruto de tudo o que ouvi e insisti em fazer o
contrário, sou um acumulado de erros corrigidos pelas cábulas que escrevi
durante os 35 anos em tive o melhor professor do mundo. Com o tempo, voltei
atrás e fui fazendo a "revisão da matéria dada" baseada nos sumários
de tempos idos onde os tópicos de uma educação exemplar começaram a fazer
sentido a partir do momento em que eu, o aluno disciplinado, decidiu ser pai.
Tudo muda. A tecnologia, a moda, a arquitetura, os hábitos e
tantas outras coisas mas, os valores e os princípios depositados nas velhinhas
sebentas escritas e rasuradas, guardadas no fundo do baú, como se do rascunho
da bíblia se tratasse, não mudam. Nunca mudam! As páginas que outrora pensei
não me servirem, são hoje o meu manual de instruções nesta difícil caminhada da
vida.
Revejo-me, orgulhosamente, na sombra do meu “Deus”!
Ensinou-me que os verdadeiros heróis combatem o ódio com
amor. Mostrou-me que o "olho por olho" apenas faz de nós cegos
poetas, de punho em riste, a tentar salvar rabiscos errantes de valores
deturpados em mares revoltos de egoísmo.
As sebentas, essas continuaram a servir de índice ao que
todos os dias tentei passar aos meus filhos. Infelizmente, não resultou…
Quando o senhor meu pai decidiu partir, escrevi-lhe na
campa... "Pai, esta foi a única viagem que não pudeste contar-nos! A morte
despiu-te de nós para vestir o teu humanismo!".
Quando eu morrer, escrevam na minha campa: "Aqui, jaz, o
Joaquim, pai de três filhos, casado com Nanda Alves e filho de Domingos
Alhinho, um homem digno que nunca se deixou vergar pelos valores deturpados que
a sociedade lhe quis impor"!
Estamos juntos! Ámen, meu Pai!
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