sábado, 25 de agosto de 2012

Casa onde não há pão...

Há muitos anos, um senhor chamado Maslow estabeleceu que os seres humanos, constitucionalmente, têm um conjunto de necessidades físicas e psicológicas que precisam de ser satisfeitas. A não satisfação dessas necessidades pelo ambiente envolvente (as famílias, as escolas, os trabalhos, os amigos, os países) traduz-se num sentimento de mal-estar subjectivo e, frequentemente também em formas de adoecer físicas ou psicológicas devidamente reconhecidas.
Sabe-se hoje, ou deveria saber-se, que estas necessidades humanas não são umas quaisquer, conforme a pessoa, mas têm um carácter universal, fixo, desenvolvimental e hierárquico.
Na base destas necessidades estão obviamente, as de índole fisiológica. Todos nós precisamos de comer, beber e dormir e o comprometimento da satisfação de qualquer dessas necessidades básicas transforma os seres civilizados que costumamos ser em criaturas primitivas.
Depois disso, vem a necessidade de segurança. Segurança que, na medida em que é mediada pela percepção do próprio e sofre as evoluções do próprio percurso de vida, começa por ser estabelecida no contexto das relações interpessoais (do bebé com os seus cuidadores) e, na idade adulta, se exprime de múltiplas e diversas maneiras. Sente-se segurança por viver numa sociedade sem níveis elevados de atentados à própria vida, mas também se sente segurança quando existe estabilidade relacional, de emprego, de expressão de convicções ou ideias.
Só depois vem a necessidade de amor e pertença, ou seja, só depois de satisfeitas as necessidades dos níveis anteriores é que nos disponibilizamos para amar, constituir familia, preocupamo-nos com os grupos sociais a que pertencemos ou não pertencemos e por aí fora.
Depois destas, a lista de necessidades continua, apelando cada vez mais funções superiores e mais sofisticadas. Mas, para o caso vertente, que é no essencial explicar levemente por que é que "em casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão", acho que chega.
Talvez a nossa questão não seja literalmente a do pão, mas, sobre a falta de segurança sentida actualmente, parece que não há grande dúvida.
Feitas as contas, talvez nos enganem ou nos enganemos, sobre o mundo em que afinal vivemos.

                                                          Joaquim Maneta Alhinho


Nota: Esta crónica não está de acordo com o Novo Acordo Ortográfico por expressa vontade do autor.

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