Acaba-se o ano. Mais um. Num exercício quase único e deveras esperto, o que fazemos na chamada passagem de ano é muito mais dar as boas-vindas ao ano que chega, novinho em folha, cheio de expectativas, de dias e noites inteiras para gastar, do que a despedida do ano velho, gasto, acabado.
Contra o que é costumeiro, em corte mesmo com os mais corriqueiros e arreigados hábitos de nos agarrarmos ao que se passou, ao que se deixou de ser e mudou, com unhas e dentes; promovendo despedidas trágicas, chorosas e ramelosas; experimentando uma desconfortável sensação de perda com que, dá a impressão, lidamos muito mal; o adeus a cada ano é leve e esperançoso.
Esta comemoração que repetimos ritualmente com passas, desejos, muito barulho, muitos votos de coisas boas, muitos beijos, muitos abraços, muitos telefonemas, muitas mensagens, muitos pinotes e muito álcool a acalorar uma noite fria de Inverno, valendo o que vale, vale alguma coisa.
Pode ser que valha só pela intenção, sempre renovada, sempre recomeçada, de que fazer do que passou - história - e do que está para vir - um destino bem-vindo.
Mesmo que saibamos que as boas intenções enchem vários infernos, que os recomeços do ano novo vão-se esboroando ao ritmo da passagem dos meses, que o peito aberto ao futuro é um gesto grandioso mas rápido que apenas exorciza o medo do novo e do desconhecido, ainda assim, haver um momento num ano em que o que passou, o que aconteceu de bom e de mau, se ofusca perante as expectativas vagas de que se consegue tecer melhor sorte, já é um feito.
De facto, isto de carregarmos o passado às costas, de termos uma disposição imensa, quase constitucional, para aproveitar qualquer pretexto para reactualizar sensações nefastas, é tão notório a maioria do tempo que nos deixa alquebrados e tensos sem vontade de agarrar os novos dias e o que está para vir com a intensidade e o envolvimento capazes de significarem e validarem, positivamente, o que nos vai acontecendo.
Sabendo nós que não controlamos quase nada e que o futuro é uma construção mental tão interessante quanto organizadora, é definitivamente esperto inventar ânimo para enfrentar o que há-de vir com a esperança risonha que se usa para jogar às cartas com os amigos nos fins de tarde dos dias felizes.
Mesmo que não faça diferença, dispõe bem, o que já é alguma coisa.
E há quem precise tanto...
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Azeitonas - "Queixa ao Pai Natal" / Filomena Cautela / 5 Para a Meia Noite
Desde 2009, que eu e os Azeitonas nos queixamos do Pai Natal...
A meia continua pendurada e vazia. Será este ano que aparece cheia?
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Natal: Confrontação da Família
Podendo ser muitas coisas, de facto o Natal é hoje a festa da família. E as famílias idealizadas que o marketing todo-poderoso não se cansa de promover.
Como a distância entre as famílias reais e as outras que vamos interiorizando que deviam ser, é enorme, o Natal acaba por ser um tempo de confrontação.
Confrontação com a falta de família, com os conflitos de família, com os assuntos pendentes na família, com os limites e também com famílias que temos e de quem não gostamos ou que não gostam de nós.
Vivemos num tempo de famílias muito pequenas. São muitos os filhos únicos e as famílias à beira da extinção pela não reprodução. TEmos mais idosos que jovens e muitas separações e divórcios.
O simples facto de um casal jovem de filhos únicos, por exemplo, ter que rodar pelas casas dos respectivos pais já implica que cada família de origem fique com a sensação de que tem um Natal coarctado. Se este mesmo casal jovem tiver um dos pais em segundas núpcias, a complicação agudiza-se porque fica logo com dois dias para estar com três famílias. Se, por acaso, um deles tiver um filho de uma anterior relação, o drama instala-se, porque a separação das pessoas mais significativas é incontornável.
Cresce depois a questão dos idosos, dos inúmeros idosos, pais, tios, avós que nesta época se torna visíveis em nome de uma invocada solidariedade familiar e intergeracional.
As visitas aos lares ou o instalar em casas pequenas avós e tios que foram ficando isolados porque quanto mais velho se é, maior é a possibilidade de tal acontecer, torna-se uma obrigação que se quer cumprir mas, também, numa confrontação, muitas das vezes dramática, com inúmeros e difíceis problemas que não se sabem resolver.
Posto isto, e chegando ao fim de festa, é preciso perceber que não é só connosco que as coisas não correm tão bem como se desejaria.
Que não somos só nós que não temos a família perfeita. Se conseguirmos perceber que a festa da família é uma das obrigações que se pode cumprir com o mesmo "fair play" que se usa para casamentos, baptizados e funerais, pode ser que se consiga escapar ao sentimento mais patente nestes dias: a autopiedade.
Como se sabe, os fins de festa dão sempre em ressaca.
Nota: Todas as crónicas deste blogue não se regem pelo Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Como a distância entre as famílias reais e as outras que vamos interiorizando que deviam ser, é enorme, o Natal acaba por ser um tempo de confrontação.
Confrontação com a falta de família, com os conflitos de família, com os assuntos pendentes na família, com os limites e também com famílias que temos e de quem não gostamos ou que não gostam de nós.
Vivemos num tempo de famílias muito pequenas. São muitos os filhos únicos e as famílias à beira da extinção pela não reprodução. TEmos mais idosos que jovens e muitas separações e divórcios.
O simples facto de um casal jovem de filhos únicos, por exemplo, ter que rodar pelas casas dos respectivos pais já implica que cada família de origem fique com a sensação de que tem um Natal coarctado. Se este mesmo casal jovem tiver um dos pais em segundas núpcias, a complicação agudiza-se porque fica logo com dois dias para estar com três famílias. Se, por acaso, um deles tiver um filho de uma anterior relação, o drama instala-se, porque a separação das pessoas mais significativas é incontornável.
Cresce depois a questão dos idosos, dos inúmeros idosos, pais, tios, avós que nesta época se torna visíveis em nome de uma invocada solidariedade familiar e intergeracional.
As visitas aos lares ou o instalar em casas pequenas avós e tios que foram ficando isolados porque quanto mais velho se é, maior é a possibilidade de tal acontecer, torna-se uma obrigação que se quer cumprir mas, também, numa confrontação, muitas das vezes dramática, com inúmeros e difíceis problemas que não se sabem resolver.
Posto isto, e chegando ao fim de festa, é preciso perceber que não é só connosco que as coisas não correm tão bem como se desejaria.
Que não somos só nós que não temos a família perfeita. Se conseguirmos perceber que a festa da família é uma das obrigações que se pode cumprir com o mesmo "fair play" que se usa para casamentos, baptizados e funerais, pode ser que se consiga escapar ao sentimento mais patente nestes dias: a autopiedade.
Como se sabe, os fins de festa dão sempre em ressaca.
Nota: Todas as crónicas deste blogue não se regem pelo Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
sábado, 1 de dezembro de 2012
Miguel Araújo - Os Maridos Das Outras
Tantos comentários e tanta polémica à volta deste tema, mas ainda não vi ninguém no Youtube tentar saber o significado de "Arquétipo" e do "Pináculo"...
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