Podendo ser muitas coisas, de facto o Natal é hoje a festa da família. E as famílias idealizadas que o marketing todo-poderoso não se cansa de promover.
Como a distância entre as famílias reais e as outras que vamos interiorizando que deviam ser, é enorme, o Natal acaba por ser um tempo de confrontação.
Confrontação com a falta de família, com os conflitos de família, com os assuntos pendentes na família, com os limites e também com famílias que temos e de quem não gostamos ou que não gostam de nós.
Vivemos num tempo de famílias muito pequenas. São muitos os filhos únicos e as famílias à beira da extinção pela não reprodução. TEmos mais idosos que jovens e muitas separações e divórcios.
O simples facto de um casal jovem de filhos únicos, por exemplo, ter que rodar pelas casas dos respectivos pais já implica que cada família de origem fique com a sensação de que tem um Natal coarctado. Se este mesmo casal jovem tiver um dos pais em segundas núpcias, a complicação agudiza-se porque fica logo com dois dias para estar com três famílias. Se, por acaso, um deles tiver um filho de uma anterior relação, o drama instala-se, porque a separação das pessoas mais significativas é incontornável.
Cresce depois a questão dos idosos, dos inúmeros idosos, pais, tios, avós que nesta época se torna visíveis em nome de uma invocada solidariedade familiar e intergeracional.
As visitas aos lares ou o instalar em casas pequenas avós e tios que foram ficando isolados porque quanto mais velho se é, maior é a possibilidade de tal acontecer, torna-se uma obrigação que se quer cumprir mas, também, numa confrontação, muitas das vezes dramática, com inúmeros e difíceis problemas que não se sabem resolver.
Posto isto, e chegando ao fim de festa, é preciso perceber que não é só connosco que as coisas não correm tão bem como se desejaria.
Que não somos só nós que não temos a família perfeita. Se conseguirmos perceber que a festa da família é uma das obrigações que se pode cumprir com o mesmo "fair play" que se usa para casamentos, baptizados e funerais, pode ser que se consiga escapar ao sentimento mais patente nestes dias: a autopiedade.
Como se sabe, os fins de festa dão sempre em ressaca.
Nota: Todas as crónicas deste blogue não se regem pelo Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
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