A indústria do entretenimento é uma das mais poderosas do mundo.
Inexplicávelmente é uma indústria que apenas três ou quatro países levam a sério e cultivam com o mesmo empenho com que os nossos ancestrais se dedicaram a fazer proliferar novas actividades. Também é verdade que foram poucos os que apostaram nas Descobertas e que acharam, na altura, que trazer chá, canela ou pimenta do outro lado do mundo era o jackpot que depois se verificou.
Mas parece que, numa compreensível e atávica angústia relacionada com o interesse e utilidade intrínsecos do que se faz, são muitos mais os que preferem intervir em processos, ou produzir produtos de primeira necessidade, do que aqueles que apostam sem medo no que é, objectivamente, supérfluo.
Claro que o supérfluo tem que se diga.
Dando de barato o chá, a canela ou a pimenta, quem é capaz de sustentar que carros pessoais, auto-estradas, casas de praia e no campo, roupas novas todas as estações, cosméticos, enlatados, rações para animais, dúzias de aparelho electrodomésticos, computadores pessoais, iPods, milhares de produtos sortidos que atafulham grandes superfícies são de primeira necessidade?
Quem é que defende que viveríamos pior se não tivéssemos água engarrafada, sumos e refrigerantes de todas as cores, pratos pré-cozinhados, dúzias de marcas de iogurtes, cereais, gelados ou bolachas? Quem é que acha que seria sumamente infeliz se não tivesse acesso às frutas, peixes e carnes de lugares distantes?
Ou seja, vivemos num tempo em que, assumidamente, estamos mergulhados em necessidades fabricadas, em produtos de valor intrínseco mais que discutível, em indústrias que só são importantes porque existem e movimentam pessoas e dinheiro.
Sabemos que alguns entretenimentos afectam a nossa vida quotidiana - o futebol, por exemplo -, mas endossamo-los para a categoria "desporto", como se isso lhe desse uma dignidade diferente.
Quando habitamos fora das cidades, queixamo-nos da falta de oferta cultural, um modo elegante de dizer que não há espectáculos, entretenimento, suficiente para as nossas eventuais necessidades.
E, no entanto, o outrora esplendoroso cinema europeu definha, os compositores e músicos europeus não passam nas rádios nem nas televisões, os teatros mais intelectualizados ou mais populares não são estimulados, as iniciativas amadoras são mal amadas ou olhadas com sobranceria.
No pressuposto que não conseguimos fazer melhor do que os que estão na indústria do entretenimento há mais tempo, não fazemos ou caímos numa contra-atitude elitista, muito preocupada com a qualidade cultural, que é como quem diz "estão verdes, não prestam" ou, melhor, "chapéu há muitos".
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