Ao fim de um dia de trabalho, de preocupações, de luta, atirado ao mundo ilimitado de interesses e ambições, sabe bem aquela expectativa de paz, de aconchego, do nosso pequeno mundo entre quatro paredes.
Tenho uma pena infinita daqueles que não podem voltar, ou não têm tecto onde se abrigar. São como pássaros que tivessem que permanecer em vôo, sem um embalo de um ramo, ou a quentura de um ninho.
Na pressa do retorno, no fim da jornada, em plena rua, nos bancos das praças, os vultos indigentes dos que não voltam, dos que terão de ficar, dos que veêm chegar a noite, indiferentes ao estranho burburinho humano que lembra o dos pardais, nas árvores da cidade.
Então, não consigo evitar que um pensamento amargo turve o meu apressado egoísmo e uma tristeza inevitável esvoaça por momentos como uma borboleta negra que entrasse por uma janela aberta.
Todos nós, diariamente, ao entardecer, somos como marinheiros de nós mesmos; navios que se avizinham do porto de origem, ansiamos por avistar a paisagem do coração, por encontrar os que nos são queridos, os que justificam as partidas de todos os dias, o quotidiano exílio do trabalho.
Sou um homem que acha que, até nas viagens de puro prazer, a grande alegria é o regresso a casa.
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