Pediu aos pais uma bicicleta
e gostava que fosse azul. Nem mais nem menos, azul como a cor do mar.
A primeira bicicleta que
teve, tinha três rodas e chamava-se triciclo e aquela que pedira, diziam os
pais, iria ter também 3 rodas, a roda grande e duas pequenas atrás para ele se
equilibrar e não cair.
Tude certo pensou, desde que
fosse azul, como aquela do palhaço equilibrista que tanto o impressionou, nas
últimas férias, quando os pais o levaram ao circo do Coliseu. Ida que foi uma
aventura, a sua primeira grande aventura, com tigres e leões domados e
pacíficos mas que, mesmo assim o assustaram. E os ginastas e trapezistas que
voavam de um lado para o outro que até pareciam as gaivotas na praia onde
ensaiou os primeiros banhos de mar. Também, as mulheres do circo eram bonitas,
como a mãe e a educadora do jardim infantil, mas que faziam ginásticas
complicadas em fato de banho, de pé em cima de cavalos brancos que rodopiavam
na pista e lhe punham a cabeça a girar sem perceber porquê.
Mas, desta iniciática
experiência, o que se lhe fixou mais na memória e que puxava agora à lembrança,
foi o tal palhaço de bicicleta azul que fazia uma variedade enorme de piruetas
e depressa desmontou parte da bicicleta e ficou só como uma roda e, mesmo
assim, saltou uma prancha e parou em cima dela, indeciso se ia para um lado ou
para outro e, mais estranho ainda, aterrou numa corda esticada entre dois
tripés que os companheiros seguravam bem e só com uma roda andava de trás para
a frente e de frente para trás, com uma comprida barra de ferro nas mãos e
ficava assim, parado no ar, a receber aplausos da assistência, os dele também,
para alegria dos pais que se sentiam gratificados por o miúdo ter gostado do
circo.
Veio para casa e, mesmo ainda
pelo caminho, pediu uma bicicleta azul como aquela do palhaço. Foi-lhe feita a
vontade e o miúdo depressa se transformou num “às do pedal”, à custa de uns
tantos arbustos amachucados no jardim da cidade, de algumas negras nos braços e
nas pernas e alguns arranhões arrancados do cimento dos passeios. Era uma
obsessão pela bicicleta azul que os pais se esforçavam por compreender.
Só quanto tentou imitar o
palhaço do circo e se estatelou abruptamente sobre um canteiro de roseiras que
o deixaram a sangrar, é que percebeu que a sua bicicleta azul não era igual à
daquele palhaço que lhe ficara na memória.
Na vida … (conclua o leitor esta crónica)
E a leitora Carla Ferreira, da Moita, concluiu desta forma:
E a leitora Carla Ferreira, da Moita, concluiu desta forma:
Na vida todos andamos de bicicleta de maneira diferente e o
menino percebeu que o importante era conseguir andar na bicicleta azul, mesmo
que não o fizesse tão bem como o palhaço que tentou imitar no circo. Pois ele
iria levantar-se e ergue-se de novo quantas vezes cai-se, porque o importante é
nunca desistir mesmo que se fique machucado e se estrague o canteiro do vizinho,
pois a dor e a persistência é que nos fazem fortes!