quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O menino e a bicicleta azul



Pediu aos pais uma bicicleta e gostava que fosse azul. Nem mais nem menos, azul como a cor do mar.
A primeira bicicleta que teve, tinha três rodas e chamava-se triciclo e aquela que pedira, diziam os pais, iria ter também 3 rodas, a roda grande e duas pequenas atrás para ele se equilibrar e não cair.
Tude certo pensou, desde que fosse azul, como aquela do palhaço equilibrista que tanto o impressionou, nas últimas férias, quando os pais o levaram ao circo do Coliseu. Ida que foi uma aventura, a sua primeira grande aventura, com tigres e leões domados e pacíficos mas que, mesmo assim o assustaram. E os ginastas e trapezistas que voavam de um lado para o outro que até pareciam as gaivotas na praia onde ensaiou os primeiros banhos de mar. Também, as mulheres do circo eram bonitas, como a mãe e a educadora do jardim infantil, mas que faziam ginásticas complicadas em fato de banho, de pé em cima de cavalos brancos que rodopiavam na pista e lhe punham a cabeça a girar sem perceber porquê.
Mas, desta iniciática experiência, o que se lhe fixou mais na memória e que puxava agora à lembrança, foi o tal palhaço de bicicleta azul que fazia uma variedade enorme de piruetas e depressa desmontou parte da bicicleta e ficou só como uma roda e, mesmo assim, saltou uma prancha e parou em cima dela, indeciso se ia para um lado ou para outro e, mais estranho ainda, aterrou numa corda esticada entre dois tripés que os companheiros seguravam bem e só com uma roda andava de trás para a frente e de frente para trás, com uma comprida barra de ferro nas mãos e ficava assim, parado no ar, a receber aplausos da assistência, os dele também, para alegria dos pais que se sentiam gratificados por o miúdo ter gostado do circo.
Veio para casa e, mesmo ainda pelo caminho, pediu uma bicicleta azul como aquela do palhaço. Foi-lhe feita a vontade e o miúdo depressa se transformou num “às do pedal”, à custa de uns tantos arbustos amachucados no jardim da cidade, de algumas negras nos braços e nas pernas e alguns arranhões arrancados do cimento dos passeios. Era uma obsessão pela bicicleta azul que os pais se esforçavam por compreender.
Só quanto tentou imitar o palhaço do circo e se estatelou abruptamente sobre um canteiro de roseiras que o deixaram a sangrar, é que percebeu que a sua bicicleta azul não era igual à daquele palhaço que lhe ficara na memória.

Na vida … (conclua o leitor esta crónica)
E a leitora Carla Ferreira, da Moita, concluiu desta forma:


Na vida todos andamos de bicicleta de maneira diferente e o menino percebeu que o importante era conseguir andar na bicicleta azul, mesmo que não o fizesse tão bem como o palhaço que tentou imitar no circo. Pois ele iria levantar-se e ergue-se de novo quantas vezes cai-se, porque o importante é nunca desistir mesmo que se fique machucado e se estrague o canteiro do vizinho, pois a dor e a persistência é que nos fazem fortes!
                                            



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