Eu vi no seu olhar e senti no abraço forte que me deu seguido de um silêncio mordaz.
Depois disse-me ainda com voz trémula: «Vocês são fantásticas(os)».
Ele sente que o povo o crucificou sem provas mas é reconhecedor de que muita gente do seu país sempre acreditou na sua inocência.
Para mim a visita a este amigo foi carregado de peripécias logo desde a entrada.
A máquina não parava de apitar. Tire os sapatos, dizia a guarda prisional. Mais uma passagem e a máquina insistia no apito. Tire o cinto, por favor!
Aqui, respondi: - «Mau...Querem ver que ainda vou nu!» A jovem guarda sorria, mas ainda me perguntou: Têm alguma prótese? E eu respondi de pronto: - «Que eu saiba não!» Aqui é que foram elas, a jovem guarda dobrou-se de tanto rir, pegou-me no braço e lá fui eu com os sapatos e o cinto numa mão e com a outra a segurar as calças, no trajecto pelas escadarias, pelo enorme corredor até chegar ao amigo Carlos Cruz. Não me largou o braço até que o Carlos ao abraçar-me perguntou: «Então Alhinho, continuas um modelo, pá! Como vão as tuas mulheres?» Aqui, a jovem guarda encostou-se à ombreira da porta com dores no estômago de tanto sorrir e caminhou deambulando curvada pelo corredor.
Ambos ficámos felizes e durante a hora que dialogámos li no seu olhar a sua inocência. Só um cego não vê...Sente-se injustiçado, inconformado e revoltado, mas com muita coragem para enfrentar a decisão que a juíza irá proferir a partir de 2 de Dezembro.
As dores nas costas e no ombro são penosas, mas resisti firme, qual guerrilheiro na primeira fila da batalha e que não tem medo de dar o corpo às balas.
Falámos do seu próximo livro que acabou de corrigir e também falámos do meu, que vai ser muito polémico. Aqui, depois de lhe traçar ao de leve sobre o seu conteúdo, avisou-me: «Alhinho, vê lá onde te vais meter!»
Amanhã, conto o resto, ok?
Ah, na saída já composto fui buscar os meus pertences à recepção. Quem lá estava? A jovem guarda que me deu uma bolsa de pano. Agradeci-lhe com um sorriso e dirigi-me à porta de saída de sacola às costas. De repente ouço a sua voz, «Ó senhor, a bolsa não é para levar para casa é só os seus pertences». Voltei-me e deixei de a ver. Aproximei-me do balcão e lá estava ela novamente curvada com a mão no estômago de tanto sorrir.
Lá diz o velho ditado: "Vale mais cair em graça do que ser engraçado."
Ficou-me a satisfação de ter deixado naquela manhã duas pessoas felizes: O amigo Carlos Cruz e a morena guarda prisional.
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