sábado, 7 de novembro de 2015

O meu "Ti Jaquim": De saudável até à supultura

O meu tio “Jaquim” sempre esteve bem de saúde.
Ao completar 70 anos, quer a minha tia Genoveva, quer a minha prima Bia conseguiram convencer o meu tio a ir ao médico para fazer um check-up.
Embora se sentisse óptimo e cheio de energia, mas com a palavra prevenção na cabeça, lá fez uma deslocação ao clínico.
Sabiamente, o médico, mandou-o fazer análises, radiografias, ecografias e afins. Duas semanas mais tarde, foi mostrar os resultados ao médico e soube que estavam bons, mas que tinha algumas coisas em que poderia melhorar.
Receitou-lhe:
Comprimidos Atorvastatina para o colesterol.
Losartan para a hipertensão.
Metformina para evitar diabetes.
Polivitaminas para aumentar as defesas.
Desloratadina para a alergia.
Como eram muitos medicamentos, tinha de proteger o estômago, então recomendou-lhe o Omeprazol e um diurético para os inchaços.
O meu tio “Jaquim” foi à farmácia e gastou uma boa parte da sua magra pensão de reforma em várias caixas requintadas com nomes esquisitos e de cores sortidas.
Como não conseguia lembrar- se se os comprimidos verdes para a alergia deviam ser tomados antes ou depois das cápsulas para o estômago e se devia tomar o branco para a hipertensão antes ou depois das refeições, voltou ao médico.
Este deu-lhe uma caixinha com várias divisões, mas achou que o meu tio estava tenso e algo contrariado. Receitou-lhe, então, Alprazolan e Sucedal para dormir.
Naquela tarde, quando ele entrou na farmácia com as receitas, o farmacêutico e os seus funcionários fizeram uma fila dupla para ele passar pelo meio, enquanto o aplaudiam.
O que é facto evidente era que o meu tio em vez de melhorar foi piorando.
Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saía de casa. Já não ia à taberna do velho Bagulho beber um copito e já não se sentava nos bancos com os amigos, no Largo de S. Francisco, em Vila Boim.
Dias depois, o laboratório fabricante de vários medicamentos que ele usava, atribuiu-lhe um cartão de “Cliente Preferencial”, um termômetro, um frasco estéril para análise de urina e uma caneta com o logotipo da farmácia.
No pouco tempo que lhe sobrava entre as tomas dos remédios dava uma volta pelo quintal da sua casa e acabou por ficar engripado.
A minha tia, como de costume, fez com que fosse para a cama, mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o médico.
Ele disse que não se preocupassem que não era nada de grave, mas prescreveu Tapsin para tomar durante o dia e Sanigrip com Efedrina para tomar à noite. Como estava com uma pequena taquicardia, receitou Atenolol e um antibiótico, 1 g de Amoxicilina a cada 12 horas, durante 10 dias. Entretanto, começaram-lhe a aparecer fungos e herpes, e ele receitou o Fluconol com Zovirax.
Para piorar a situação, o tio “Jaquim” começou a ler os folhetos de todos os medicamentos que tomava e ficou sabendo as contra-indicações, advertências, precauções, reações adversas, efeitos colaterais e interacções médicas.
Leu coisas horríveis… Não só podia morrer mas poderia ter também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do estado mental e um cento de coisas terríveis.
Com medo de morrer, chamou o médico, que disse para não se preocupar com essas coisas, porque os laboratórios só colocavam essas coisas todas nos folhetos para se isentarem de culpas.
- Calma, Sr. Joaquim, não fique aflito? - disse o médico, enquanto prescrevia uma nova receita com um antidepressivo Sertralina com Rivotil 100 mg e como o meu tio estava com dores nas articulações deu-lhe o Diclofenac.
Nessa altura, sempre que o meu tio recebia a pensão ia directo para a farmácia, onde já tinha sido eleito cliente “VIP”.
Os dias passavam depressa com tanta toma de medicamentos que uma noite deitou-se e já não acordou. O meu tio “Jaquim” tinha morrido!
No funeral tinha muita gente mas quem mais chorava era o farmacêutico. A minha tia dizia aos familiares que felizmente mandou o marido ao médico na altura certa, porque senão, ele teria morrido mais cedo.

Qualquer semelhança com casos reais é pura coincidência!

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