Só a mim...Encontrei um Burro em Lisboa.
Existem mais, mas este estava abandonado!
Estava eu descansado da minha vida a sair do Monumental em
Lisboa e observo um burro ao pé dos caixotes do lixo.
Pensei cá para comigo, mas o que é que o burro está a fazer
em pleno centro duma das capitais dum país europeu?
Não resisti à curiosidade e acerquei-me dele. Abri-lhe a
boca para ver se sabia a idade dele, mas nada. Já lhe faltavam umas mozes na
cremalheira.
Quem estava comigo era a Isabel Oliveira que me advertia
para deixar o animal em paz. Claro que respondi de pronto com uma pergunta,
«mas ó rapariga, então vou deixar o burro aqui sozinho no centro da cidade?»
Podia lá ser? Esperei, esperei e o dono do burro não
aparecia. Perguntei a um taxista qual era a esquadra mais perto dali.
Respondeu-me que era nas Picoas. Muito bem...
Chegado à esquadra com o burro preso por um cordel, o
oficial de dia, fez-me uma catarreada de perguntas: Nome, idade, morada, estado
civil e até o nome dos pais (do burro, claro!). Eu fiquei atónico a olhar para
ele. Nisto e num repente, diz-me zangado: «Então o que quer que eu faça? O
senhor não sabe dados nenhuns do animal...» E eu respondi: «Caro agente, como
hei-de saber se encontrei o burro abandonado sem qualquer identificação na
Rotunda do Monumental?». Olhe - disse-me ele - prenda aí o burro no parque da
esquadra e depois logo vemos se aparece o dono.
Pensei para comigo, já me desenrasquei e fui prender o burro
no lugar que dizia: Reservado ao Comandante. (era o único lugar que estava
vago).
Não tinha passado 10 minutos de sair da esquadra já me
estavam a ligar para ir buscar o animal. Mau...- pensei eu! Querem ver que
tenho que ficar com o burro? Certinho e direitinho!
As autoridades passaram-me uma guia para circular e entregaram-me
o burro. E agora? perguntava-me insistentemente.
Aqui parado é que eu não faço nada. Bora lá...Sentei-me em
cima do burro e lá vamos nós em direcção ao Marquês de Pombal parando em todos
os sinais, descer a Avenida na via do BUS até chegar ao Terreiro do Paço.
Imaginam a reacção das pessoas e dos turistas ao verem passar aquele lindo
"quadro" que nem o Picasso se desdenharia a pintar. Bom...Chegados lá
fui para comprar 2 bilhetes para Cacilhas, mas a menina viu-me com o burro e
não me vendeu nenhum. Está aqui uma coisa esperta, lamentava-me eu! Então, como
é que levo o burro para a Azeitão? Tentei o comboio que passa debaixo da ponte
e o fadário foi o mesmo. Quem de longe apreciava a cena era o Augusto Manuel
Duarte, um homem corpulento cantarolando um fado, abeirou-se de mim a sorrir e
disse: «Ó Alhinho estás metido numa grande alhada. E agora?»
Enquanto pensávamos numa solução para o meu problema e no
momento em que me queixava a este amigo que estava todo dorido, pois tinha as
nalgas a ferver tal como as miudezas, avistámos ao longe o Toni Cardoso. Estou
safo, pensei eu! Ele é um homem batido e havemos de arranjar uma solução para
levar o burro até à margem sul. Com resposta sempre pronta na ponta da língua,
o Toni só me conseguiu dar por conselho, dado que tinha a guia passada pela
PSP, que fosse pela Ponte. Boa...Grande ajuda! - pensei eu.
Lá me fiz à 24 de Julho, passei Alcântara e entrei na Ponte
a grande velocidade sem fazer pisca. Foi um engarrafamento total como nunca se
tinha visto antes nas horas de ponta. O primeiro homem sentado num burro a
passar a Ponte. Fotos e mais fotos e palavras de incentivo e outros piropos
menos abonatórios que tive que ouvir durante o trajecto.
Chegados ao fim do tabuleiro já estava um carro da GNR que
nos mandou encostar.
Tem os seus documentos? - perguntou o mais graduado. E o do
burro? Respondi-lhe que só tinha a guia emitida pela PSP de Lisboa e mais nada.
Temos que apreender o animal, disse de pronto o agente. Ó
senhor Tenente Dino Balula (chamei-lhe assim) que favor o senhor me faz. Nem
imagina...Venho todo assadinho que nem consigo estar de pé.
Enquanto as entidades policiais preenchiam uma dúzia de
papéis para elaborarem o auto de transgressão, o burro carregado de fome subiu
a encosta comendo ervinha fresca até chegar ao Cristo Rei. Um dos agentes ainda
foi a correr atrás dele mas já não o apanhou. O burro sumiu e nunca mais foi
visto com muita pena minha.
O auto que deu em processo seguiu os trâmites usuais e a
sentença foi proferida pela jurista Otilia Pombo, desta forma:
Eu, fui acusado como culpado por ter "montado em
propriedade alheia" e o burro foi acusado de ter "abandonado o local
do crime".
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