sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Encontrei um burro em Lisboa.


Só a mim...Encontrei um Burro em Lisboa.

Existem mais, mas este estava abandonado!

Estava eu descansado da minha vida a sair do Monumental em Lisboa e observo um burro ao pé dos caixotes do lixo.

Pensei cá para comigo, mas o que é que o burro está a fazer em pleno centro duma das capitais dum país europeu?

Não resisti à curiosidade e acerquei-me dele. Abri-lhe a boca para ver se sabia a idade dele, mas nada. Já lhe faltavam umas mozes na cremalheira.

Quem estava comigo era a Isabel Oliveira que me advertia para deixar o animal em paz. Claro que respondi de pronto com uma pergunta, «mas ó rapariga, então vou deixar o burro aqui sozinho no centro da cidade?»

Podia lá ser? Esperei, esperei e o dono do burro não aparecia. Perguntei a um taxista qual era a esquadra mais perto dali. Respondeu-me que era nas Picoas. Muito bem...

Chegado à esquadra com o burro preso por um cordel, o oficial de dia, fez-me uma catarreada de perguntas: Nome, idade, morada, estado civil e até o nome dos pais (do burro, claro!). Eu fiquei atónico a olhar para ele. Nisto e num repente, diz-me zangado: «Então o que quer que eu faça? O senhor não sabe dados nenhuns do animal...» E eu respondi: «Caro agente, como hei-de saber se encontrei o burro abandonado sem qualquer identificação na Rotunda do Monumental?». Olhe - disse-me ele - prenda aí o burro no parque da esquadra e depois logo vemos se aparece o dono.

Pensei para comigo, já me desenrasquei e fui prender o burro no lugar que dizia: Reservado ao Comandante. (era o único lugar que estava vago).

Não tinha passado 10 minutos de sair da esquadra já me estavam a ligar para ir buscar o animal. Mau...- pensei eu! Querem ver que tenho que ficar com o burro? Certinho e direitinho!

As autoridades passaram-me uma guia para circular e entregaram-me o burro. E agora? perguntava-me insistentemente.

Aqui parado é que eu não faço nada. Bora lá...Sentei-me em cima do burro e lá vamos nós em direcção ao Marquês de Pombal parando em todos os sinais, descer a Avenida na via do BUS até chegar ao Terreiro do Paço. Imaginam a reacção das pessoas e dos turistas ao verem passar aquele lindo "quadro" que nem o Picasso se desdenharia a pintar. Bom...Chegados lá fui para comprar 2 bilhetes para Cacilhas, mas a menina viu-me com o burro e não me vendeu nenhum. Está aqui uma coisa esperta, lamentava-me eu! Então, como é que levo o burro para a Azeitão? Tentei o comboio que passa debaixo da ponte e o fadário foi o mesmo. Quem de longe apreciava a cena era o Augusto Manuel Duarte, um homem corpulento cantarolando um fado, abeirou-se de mim a sorrir e disse: «Ó Alhinho estás metido numa grande alhada. E agora?»

Enquanto pensávamos numa solução para o meu problema e no momento em que me queixava a este amigo que estava todo dorido, pois tinha as nalgas a ferver tal como as miudezas, avistámos ao longe o Toni Cardoso. Estou safo, pensei eu! Ele é um homem batido e havemos de arranjar uma solução para levar o burro até à margem sul. Com resposta sempre pronta na ponta da língua, o Toni só me conseguiu dar por conselho, dado que tinha a guia passada pela PSP, que fosse pela Ponte. Boa...Grande ajuda! - pensei eu.

Lá me fiz à 24 de Julho, passei Alcântara e entrei na Ponte a grande velocidade sem fazer pisca. Foi um engarrafamento total como nunca se tinha visto antes nas horas de ponta. O primeiro homem sentado num burro a passar a Ponte. Fotos e mais fotos e palavras de incentivo e outros piropos menos abonatórios que tive que ouvir durante o trajecto.

Chegados ao fim do tabuleiro já estava um carro da GNR que nos mandou encostar.

Tem os seus documentos? - perguntou o mais graduado. E o do burro? Respondi-lhe que só tinha a guia emitida pela PSP de Lisboa e mais nada.

Temos que apreender o animal, disse de pronto o agente. Ó senhor Tenente Dino Balula (chamei-lhe assim) que favor o senhor me faz. Nem imagina...Venho todo assadinho que nem consigo estar de pé.

Enquanto as entidades policiais preenchiam uma dúzia de papéis para elaborarem o auto de transgressão, o burro carregado de fome subiu a encosta comendo ervinha fresca até chegar ao Cristo Rei. Um dos agentes ainda foi a correr atrás dele mas já não o apanhou. O burro sumiu e nunca mais foi visto com muita pena minha.

O auto que deu em processo seguiu os trâmites usuais e a sentença foi proferida pela jurista Otilia Pombo, desta forma:

Eu, fui acusado como culpado por ter "montado em propriedade alheia" e o burro foi acusado de ter "abandonado o local do crime".




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