Há tempos assisti a um programa televisivo de talentos, onde
uma jovem cantou um tema que só a mãe tinha ouvido. Foi escrita para um irmão
que morreu cedo. Não decorei a letra, mas registei a frase: vem para fazermos
castelos no ar. Não tiveram tempo de o viver.
Ás vezes, também queria fazer castelos no ar. Daqueles que
sabemos não existir.
Os últimos anos não foram fáceis, mas em frente. Não se volta
atrás. Só há um caminho. Em frente.
Foram os outros anos anteriores muito distintos destes
últimos. Mas foram os primeiros que fizeram os segundos. Não mudava uma linha.
Talvez uma virgula ou outra. Tem sido nas reticências que me tenho feito.
Não tenho culpa. Quem acredita, consegue. Quem consegue,
acredita mais ainda.
E nesta liberdade de culpado ou inocente, cresci e fui
escolhendo. Mesmo no erro, eu é que sei. E sei que mesmo a viver sozinho, vivo
acompanhado de gente. Alguns conheço. Outros, nem por isso.
É muito difícil estar sozinho. Nestes 66, estive apenas
comigo. Não sei o que vem. Não preciso. O que vier, será meu. E se forem os
tais castelos no ar, tanto melhor.
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