Todas as áreas de conhecimento humano são mutáveis.
Aquilo que sabemos agora não é o mesmo que saberemos daqui a uns anos, e aquilo que hoje tomamos como certo e como adquirido diz-nos a experiência que será um dia obsoleto e risível.
Se no mundo dito tecnológico - um mundo que encara como meramente instrumental - estas mudanças são tão rápidas que todos nós mal nos lembramos de como era viver na década passada, sem telemóveis nem computadores, no mundo das ideias dir-se-ia que tudo pia mais fino.
Parece estranho que dividamos o conhecimento em fatias e façamos de conta que a tecnologização rápida pode ser asséptica e inconsequente na forma como encaramos o mundo e as relações entre pessoas e povos. Parece, e é, estranho que façamos de conta que os meios e o tempo gasto na persecução de fins ou de objectivos não toquem a essência última dessas metas arvoradas em sentidos de realização ou de vida. Ou seja, e cortando a direito, não dá para fazer de conta que termos feito, enquanto sociedade, uma escolha tecnológica não tem consequências na forma como olhamos o mundo e como nos situamos na relação com os outros.
Mas o facto é que formas e conteúdos se imbricam intimamente.
Não é exactamente a mesma coisa falar diariamente com alguém que está no outro lado do mundo, vendo-o por câmara, ou escrever longas cartas no silêncio da noite olhando para uma fotografia que, de dia para dia, vai desbotando.
Não é a mesma coisa escrever lentamente à mão, procurando a palavra perfeita que exprima a ideia que se esboça, evitando a rasura e a emenda, do que cortar e colar textos já escritos de muitas origens e de muitos diferentes momentos.
Não é a mesma coisa esperar que as estações do ano determinem as tarefas, o acordar e o deitar, a roupa que se veste e os tempos de socialização do que viver em ar condicionado com ocupações indiferentes ao ritmo dos dias.
Porque é diferente, porque o mundo que criámos cria em nós formas de estar e ser de um tipo que não sabemos precisar, não são desprezíveis os contornos das mudanças que nos mudam.
Mesmo que não queiramos, mesmo que não saibamos, o jogo continua: verdade ou consequência.
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