A organização, seja do que for, é um permanente esforço de luta contra o caos. Nessa medida, é também, de um ponto de vista colectivo e global, o garante da existência das sociedades humanas com as suas múltiplas e diversas culturas e civilizações.
De um ponto de vista mais individualizado, sabemos todos que a nossa própria organização - das ideias em primeiro lugar, e depois das tarefas, das rotinas, das prioridades, dos afectos, dos espaços, dos objectos - é, se não uma condição de sobrevivência, pelo menos um instrumento poderoso da gestão de uma vida que se quer de alguma qualidade.
Enquanto povo, temos fama e proveito de sermos desorganizados. Se somos do mais eficaz que se pode encontrar em situações de crise e de ruptura, se nos desenvencilhamos como ninguém em situações muito difíceis ou problemáticas, se quando tudo está perdido conseguimos descobrir a luz ao fundo do túnel, parece que no quotidiano somos trapalhões, dessarrumados, confundindo de forma sistemática e descarada a nuvem com Juno.
Como entretanto a vida não é um filme de acção, daqueles em que o relógio ou a ampulheta aparecem a assinalar o escoar de um tempo limitado, em que a situação ou mesmo o mundo é salvo no último minuto, temos dificuldades sérias em parecermos, e sermos, pessoas descontraídas que sabem o que têm a fazer, e o fazem, sem excessivos sobressaltos nem necessidade de rasgos espectaculares.
Porque a vida não tem que ser, nem deve ser, uma luta contra moinhos de vento, fica deslocado o clima de combate, resistência, guerrilha urbana e o mais que se verifica a propósito de tudo e nada.
Na actual circunstância, em que um conjunto de mudanças tem que ser feito de forma a adequar estruturas poeirentas e rançosas a realidades excessivamente lubrificadas, o que emerge, o que põe toda a gente à beira de um ataque de nervos, é a óbvia desorganização.
O diz-que-diz, o anda-para-a-frente e depois-para-trás ou para-o-lado, o embandeirar-em-arco com coisas miúdas, o tentar controlar através de procedimentos que enfermam dos mesmos defeitos do que se tenta mudar, resultam como se vê: mal.
Nota: Esta crónica não se está em concordância com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Joaquim Maneta Alhinho
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