Diz-se que a vida moderna é,
por demais, cansativa e stressante. E é.
Mesmo sendo verdade que a
maioria de nós não tem de se confrontar com esforços físicos duríssimos, o que
cansa e desgasta costuma andar à volta de uma vaga sensação de sobressalto como
se houvesse uma qualquer urgência em pano de fundo ou como se tivéssemos
esquecido qualquer coisa que sabemos ser importante.
Com poucas excepções, parece
que as pessoas se dividem entre os que não têm tempo para nada e os que não
sabem o que hão-de fazer com o tempo.
Os primeiros, os que não têm
tempo, porque o rol de tarefas é mais extenso do que aquilo que conseguem
cumprir, com frequência mergulham numa calda de irritação em que quaisquer
contratempos ganham foros de problema. Os atrasos, as tarefas proteladas, as
coisas que não funcionam ou funcionam mal, o que não se faz e se devia ter
feito, vão-se acumulando numa espécie de vertigem de incapacidade e
descontrolo, suficiente para transformar os dias em embates penosos.
Acorda-se cansado, corre-se o
que se pode durante todo o dia e chega-se à noite exausto e com a sensação de
que no dia seguinte será exactamente igual.
Os outros, os que lhes sobra
tempo, por não trabalham por reforma ou desemprego, ou os que não têm família,
grandes compromissos ou grandes interesses, frequentemente parecem disponíveis
para complicar pequenas coisas em que os outros não reparam ou envolver-se, com
excessiva ansiedade, em tarefas, relações ou causas que se transformam também
para climas de frustração, incompletude ou incompreensão. Os dias correm também
tensos, também cinzentos.
Uns e outros como que esperam
que, por magia, tudo se componha. Que a calma e a tranquilidade os venham
possuir. Que as coisas parem de acontecer ou comecem a acontecer de um outro
modo mais satisfatório e gratificante.
Sendo importante todo e
qualquer acontecimento de vida, o facto é que não é suposto que sejamos
folhinhas ao vento nem caixa-de-ressonância do que se passa à nossa volta.
Suposto mesmo é que busquemos
e consigamos activamente não ceder a contágios emocionais, não nos deixarmos
arrastar pelas circunstâncias e usarmos tudo o que aprendemos, desde sempre,
para fazer aquilo que se acredita que as pessoas querem: viver o melhor
possível.
Joaquim Maneta Alhinho
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