sábado, 31 de maio de 2014

VIRALATA / NÃO HÁ TACHOS (com Kalú)

A todos os letristas e músicos deste País

Letristas e músicos



Se a história começasse por era uma vez, muitas seriam as vozes que às vezes se ergueriam no ritual sinalético que verbaliza num gesto ou no grito de um conformismo.
Assim, se contam a vida dos outros, de todos nós, dos que ficam e dos que partem e os que partindo vão ficando, caminhos e caminheiros na senda de um destino comum que de comum nada tem.
Contadores de histórias de amores e desamores, palavras que o vento não leva porque sabem a terra e a mar, a vilas e lugarejos, lugares recônditos da alma, dados por um sol maior.
Trevas em tom menor que não convergem em vão.
Como se diz o sentir, falando do fundo do ser quebrando a monotonia do óbvio, escrutinar a palavra e entendê-la nos sons, respeitá-la nos silêncios, cobri-la de glória e de assombro na pauta tornada livro.
Cada página reflecte um sentido de continuidade assim são os homens e mulheres das letras e das músicas, que são do palco e são da estrada, das terras e dos gentios, de todos e de cada um.
Passa o tempo que se fez futuro, o aplauso que se faz presente e um orgulho muito próprio de quem se ri do passado.
Luzes de uma ribalta sentida, erguida sobre os ombros dos que acreditam no estímulo, na eloquência do tipo que foi, que é e será!
São a longevidade de quem rejeita terapias, rodeios, herdeiros dum tempo incomum e sem limites, como se hereditário fosse o destino que se escolhe.




Joaquim Maneta Alhinho

quarta-feira, 21 de maio de 2014

D. Perpetua e o meio ambiente

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer o seu próprio saco para as compras, uma vez que os sacos de plástico não são amigos do ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
 - Não havia essa “onda verde” no meu tempo…
O empregado respondeu: - Esse é exactamente o nosso problema hoje, minha senhora.
A sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora – a nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente.

Naquela época, as garrafas de leite, de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada novo uso.

Realmente não nos preocupávamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas de madeira ou de pedra, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até ao comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos de nos deslocar à loja a dois quarteirões da nossa casa.

Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebés eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. O secar da roupa era feito por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes a 220 volts. A energia solar é que realmente secavam as nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido dos seus irmãos mais velhos e não roupas novas de marca.

Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um plasma do tamanho de um estádio; que depois será reciclado de que forma?

Quando embalávamos algo um pouco frágil para enviar pelo correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou paletes de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a relva, era utilizado uma tesoura que exigia músculos. O exercício era extraordinário e não precisávamos de ir a um ginásio e usar as passadeiras e outras máquinas que também funcionam a electricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos directamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas que agora poluem os oceanos.

As canetas eram recarregadas com tinta as vezes que queríamos sem necessidade de comprar outra. Amolávamos as facas e as tesouras, ao invés de lançar fora todos os aparelhos “descartáveis” e poluentes só porque a lâmina já não está afiada.

Na verdade, tivemos uma “onda verde” naquela época. Naqueles dias, as pessoas apanhavam os autocarros e os meninos iam a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas por dia. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é risível que a actual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não quer abrir mão de nada e não pensa viver um pouco como na minha época?




Joaquim Maneta Alhinho

sábado, 10 de maio de 2014

Expressões do Adolescentes



Desde os anos 70 que se tem vindo a notar uma fornada de palavras (expressões/calões) que têm sido acrescidas até aos dias de hoje.
Foram os adolescentes que passaram esta nova “moda” linguística aos mais velhos.
Numa breve pesquisa encontrámos diversas “palavras” e que julgo não estará com certeza completo.
Faltarão aqui algumas, ou muitas expressões...

Anos 70

Fatela: Aplicava-se a coisas, roupa ou pessoas de gosto duvidoso. No liceu, quem era fatela tinha, por norma, o nível de popularidade irremediavelmente comprometido.

Fosga-se: Parecia que era, mas não era. E sempre matava a vontade de dizer um palavrão sem cair em pecado. Não queria dizer nada de especial, só demonstrava espanto.

Vai-te catar: Podia surgir no fim de uma discussão ou se um amigo descobria que o outro estava a gozar com ele. Era o mesmo que dizer “vai passear” ou “vai bugiar”.

Anos 80

Meu: Era uma espécie de ponto final das frases, nas conversas com os amigos: “Estás bem, meu? Não imaginas, meu!”

Iá: Se o “meu” percebesse o que o outro estava a dizer, respondia “iá”, que era o mesmo que “sim” ou “hum, hum”.

Baril: Um tipo baril era alguém com boa onda, de quem todos queriam ser amigos.

Fixe: O significado era o mesmo que baril, mas fixe era uma espécie de aspirina: servia para tudo: desde as calças até à stôra de Matemática.

Bute: Dito com um ar decidido, era um tiro de partida. Quando alguém dizia “bute” convidava os outros a seguirem-no.



Anos 90

Bué: A palavra chegou a Portugal com os retornados, em 1975, e vem de uma das línguas mais faladas em Angola, o quimbundo. Primeiro só circulava entre os que vieram de África. Depois, não havia miúdo que não o usasse em vez de “muito”. Dizer “bué” era bué da fixe. A palavra ainda dura.

Bacano: Uma espécie de baril dos anos 90. Um bacano era um gajo porreiro.

Bezana: O mesmo que buba ou bebedeira. Resultava da ingestão de vários copos a mais.

Tá a bazar: Maneira fixe e uma verdadeira alternativa ao enfadonho e engomado “vamo-nos embora?”

Cena: Servia para tudo, como coisa. Uma cena podia ser fixe ou terrível, mas também se podia contar uma cena a alguém. Estão a perceber a cena? Perpetuasse até aos dias de hoje.

Chunga: Já se usava antes, mas depois do Herman José criar a personagem do Zé Chunga, tudo o que era de baixo nível passou a ter direito a este rótulo, que se mantém actual.

Cota: Mais uma herança do Ultramar: em Angola, um cota era um velho respeitável. Cá, é só um velho, ou então o pai ou a mãe.


Anos 2000

Dah: Burro. Sinónimo de “tecla 3”, o botão dos telemóveis que juntavam as DEF, início da palavra deficiente. Não era um elogio, portanto.

Tipo: Foi (e é) uma das maiores pragas da linguagem juvenil. Eles tipo dizem tipo isso para tipo tudo. Não quer dizer nada.

Mitra: É o chunga do novo milénio. O dicionário Priberam da Língua Portuguesa diz que se refere a uma “pessoa considerada reles”.

Nice: A palavra é inglesa, mas já foi adaptada. Os miúdos usam-na quase tanto como as portuguesas fixe, bom, espectacular.

Cool: O mesmo que nice: E fixe: E bom, espectacular.


Anos 2010

Troll: O mesmo que mongo, anormal.

À Boss: Também se diz “à patrão”. Significa que alguém conseguiu alguma coisa especial, ou foi tratado de maneira especial.

Muita Forte: Quando alguém é “muita forte” pode até não ter grandes músculos, mas pode ser só um cromo com a mania de que é bom.

Chillar: Baza aí chillar uma beca? Se não tem filhos adolescentes, aqui vai a tradução: “Embora aí descontrair um bocado?”

OMG: Lê-se “Oh my god” e fica a meio caminho entre o espanto e o êxtase. Muito popular nas redes sociais.

SOC’: Lê-se “sóss” e é a abreviatura de sócio. Ficou herança do vídeo do chinês de Paulo Futre. Quer dizer amigo.


Brutal: De zero a 10, brutal é 20. Ninguém quer perder uma festa ou um concerto assim.

JMA