quarta-feira, 21 de maio de 2014

D. Perpetua e o meio ambiente

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer o seu próprio saco para as compras, uma vez que os sacos de plástico não são amigos do ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
 - Não havia essa “onda verde” no meu tempo…
O empregado respondeu: - Esse é exactamente o nosso problema hoje, minha senhora.
A sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora – a nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente.

Naquela época, as garrafas de leite, de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada novo uso.

Realmente não nos preocupávamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas de madeira ou de pedra, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até ao comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos de nos deslocar à loja a dois quarteirões da nossa casa.

Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebés eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. O secar da roupa era feito por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes a 220 volts. A energia solar é que realmente secavam as nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido dos seus irmãos mais velhos e não roupas novas de marca.

Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um plasma do tamanho de um estádio; que depois será reciclado de que forma?

Quando embalávamos algo um pouco frágil para enviar pelo correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou paletes de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a relva, era utilizado uma tesoura que exigia músculos. O exercício era extraordinário e não precisávamos de ir a um ginásio e usar as passadeiras e outras máquinas que também funcionam a electricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos directamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas que agora poluem os oceanos.

As canetas eram recarregadas com tinta as vezes que queríamos sem necessidade de comprar outra. Amolávamos as facas e as tesouras, ao invés de lançar fora todos os aparelhos “descartáveis” e poluentes só porque a lâmina já não está afiada.

Na verdade, tivemos uma “onda verde” naquela época. Naqueles dias, as pessoas apanhavam os autocarros e os meninos iam a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas por dia. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é risível que a actual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não quer abrir mão de nada e não pensa viver um pouco como na minha época?




Joaquim Maneta Alhinho

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