segunda-feira, 10 de junho de 2019

Orgasmo Fatal - Parte 3



- Não posso levá-lo no saco das compras…
- Não, claro!
- Tenho de chamar um médico?
- Para que serve isso? Ela morreu.
- Um médico ocupar-se-á de tudo o resto. Então?
- Então o quê?
- É necessário enterrar este corpo.
- Ia precisamente falar-lhe nisso, senhora Adelaide.
Duarte apoiou os punhos nas têmporas.
- É preciso que tudo se passe sem que ninguém o note…Nada de escândalo. Ninguém verá a Raquel sair daqui.
- E então?
- Deixe isso comigo…
- Quer deixar esta mulher em qualquer parte?
- Não.
Duarte, enervado, pôs-se a andar de um lado para o outro:
- Pensei que seria melhor a Raquel desaparecer completamente e ninguém saberá para onde. Ela saiu de casa no carro para ir à cabeleireira, como ela dizia que fazia, e não voltou. Aliás, ela nunca aqui esteve na Pensão…A senhora nunca a viu. Uma pessoa desaparecida, dissolvida como o gás ou como uma nuvem de vento…Que pensa disto?
- E o senhor pensa que eu vou entrar no seu jogo?
Duarte parou. O suor brilhava-lhe na face.
A senhora Adelaide aproximou-se da cama, levantou um canto da coberta acolchoada e olhou atentamente para o rosto da Raquel. «Um anjo adormecido», pensou. Depois, rectificou esta sensação. Aquela não valia mais que todas as outras mulheres que vão para a cama com homens de ocasião, outras com amigos coloridos e ainda as que traem com os maridos das melhores amigas, tornando-se todos infiéis.
Duarte, de pé contra a porta mordia o lábio inferior.
- Encarrega-se de a levar?
- Sim. Sem deixar vestígios…
- Eu negarei tudo, percebe? Não vi nada! Nunca lhes aluguei um quarto. São-me totalmente desconhecidos…
- Ajude-me só a levar a Raquel. Como é que vai ser possível? Conseguiremos chegar ao fundo da casa? Há outras saídas?
- Sim, pela lavandaria, no pátio. Terá de encostar a viatura junto à porta.
O transporte da Raquel foi feito sem dificuldades, agora pesava-lhe na consciência o destino a dar ao corpo. Não sabia que caminho iria seguir…De repente lembrou-se do carro da Raquel que estava estacionado a três ruas da pensão, local habitual para não levantar suspeitas.
Sentiu-se numa encruzilhada.
Olhou para o relógio e os ponteiros marcavam dezasseis horas e quarenta e cinco minutos.
Num ápice veio-lhe à memória que a moradia arquitectada por ele, na Aldeia de Irmãos, em Azeitão, que estava na fase de encher os cabocos. Os funcionários do empreiteiro tinham saído às cinco horas da tarde. Chegado ao local fez uma betoneira de massa forte com cascalho, justificando num papel escrito deixado ao encarregado, que pretendeu fazer um teste durante aquele fim de semana.
Certificou-se de que ninguém o estaria a observar em seu redor e colocou o corpo da Raquel numa das valas. De seguida despejou toda a massa de cimento por cima do corpo da sua amante e espalhou com uma pá o resto da argamassa ao longo da vala.
Depois desta árdua tarefa sentiu-se aliviado.
- «Já está»! – pensou baixinho o Duarte.

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