sábado, 13 de outubro de 2012

E a Banda Desenhada?

Cada geração tem as suas referências. As referências são como o próprio nome o diz, alusões, que umas vezes endossam para alguém ou alguma coisa que marcou firmemente um tempo, um modo de estar, de ser ou de fazer; outras vezes exprimem relações dinâmicas entre acontecimentos ou eventos que se tornaram paradigmáticos; e, outras vezes, ainda, funcionam como modelos intemporais.
As razões por que as pessoas usam todo o tipo de referências e, especificamente, referências geracionais, são capazes de ter que ver com o nosso desejo de semelhança, de proximidade, de encontrar pares. O desejo de, através do reconhecimento de memórias comummente valorizados, actualizar o passado e, dessa forma, preservar identidades.
O facto de mudarmos - mudarmos simplesmente porque crescemos, envelhecemos e, nesse trajecto, perdermos algumas coisas e ganharmos umas outras - e reformulamos constantemente a visão dos outros e do mundo é bem capaz de jogar um papel decisivo no facto de apreciarmos o encaixilhar de momentos ou de pequenas histórias sem importância que, ainda assim, são as nossas e as de alguns outros, já irreconhecíveis, já dispersos, já disfarçados pelos anos e pela compostura da maturidade. Daí que as referências funcionem como um sinal, como uma espécie de desencadeador de cumplicidades, que dizem o que dizem e, sobretudo, convidem, no que não conseguem dizer, a uma viagem por outros tempos e por outras formas de sermos nós.
No âmbito desta nossa necessidade de referências, que às vezes são muito dotas e outras de uma trivialidade constrangedora, dei-me conta, um destes dias, que uma das referências incontornáveis da minha geração estava à beira do colapso. Dei-me conta que um género de Banda Desenhada que alimentou bravas discussões familiares entre pré-adolescentes e pais perdeu espaço. Que os livros de quadradinhos que faziam parelha com os compêndios da escola nas entediantes tardes em que se estudava entre as aventuras do Fantasma e do Mandrake, português e matemática, sumiram.
Dei-me conta que já não se cita a Mafalada & C.ª, que já ninguém sabe a verdadeira história da Vampirella, que o Cisto Kid, o Cavaleiro Andane e o Major Alvega desapareceram, que até o Blake & Mortimer, o Lucky Luke ou mesmo o Astérix ou o Corto Maltese caminham a passos largos para o esquecimento.
Valendo o que vale, que por acaso acho que é imenso, fico cheia de pena que se cresça sem este tipo de referências tão prazenteiras e insubstituiveis.

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