terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Eu e Jorge Jesus



Eu fui colega do Jorge Jesus, ambos oriundos do Sporting CP, dispensados para o GD Cova da Piedade.
Eu era ainda um Júnior e ele já Sénior e pela mão do Técnico Professor Gama, rumámos até à Margem Sul do Tejo.
No sorteio de início de época quis a sorte de o ter como companheiro de quarto, o que me facilitava imenso, pois sempre foi o meu despertador privado: «Acorda Alhinho!!!»
Aparte o facto de termos sido colegas de clube (ao qual escrevi uma crónica, que anexo) não vejo motivos palpáveis para uma Condecoração de tão elevado gabarito. São estas as glórias do nosso país?
E os nossos cientistas, os nossos professores, os nossos médicos, artistas, compositores, escritores, cantores, etc...
Sr. Presidente, estou tão baralhado que já não sei quem descobriu o Brasil, se Pedro Alvares Cabral ou o Jorge Jesus? Ainda por cima comparado ao Infante D. Henrique? Tenha pena dos portugueses e não os sujeite a tão grande infâmia.




Existe um mundo só meu - Joaquim D'Aboim

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

LABIRINTO


 Labirinto

Já ganhei e perdi as despesas desta vida
agora sou apenas eu
mais um, aqui parado nesta esquina
ainda ontem vi o mundo desabar sobre mim
e de repente sem querer
  lutei, mas esqueci-te.

Já tentei, mas esquecer-te foi só em sonho
 perdoa-me meu amor porque ainda te amo
neste ringue, desta luta, uma guerra em vão
  penso nunca trair o meu próprio coração.

Procuro na cidade o teu olhar
e não o consigo encontrar
 neste labirinto de seguir ou voltar
alguém vai sair a perder
e o outro vai sair a ganhar.

Entre os ganhos e percas
sem piloto a comandar
o comboio passa na linha
na lentidão do caminhar.

Neste castigo sem lei
fui buscar estrelas na lama
naufraguei o meu coração
nas ondas loucas da cama

De madrugada sem sono
sem luz nem amor
mordi os brancos lençóis
tive saudades, chorei…


Joaquim Maneta Alhinho
30/12/2019



sábado, 21 de dezembro de 2019

BASTA - Joaquim Maneta Alhinho

BASTA


Por um longo tempo tentei que a chama não apagasse a luz do nosso caminho.
Caminhei por valados, estradas sinuosas e poeirentas, apenas
para te proteger dos "galifões" sugadores e da noite fria dos teus traumas, aceitando o sabor amargo da atrocidade e da solidão imposta.
Queria falar baixinho como crianças dormindo, mas esta casa é gelada no Inverno e nela existe um Inferno.
E no inferno que me povoa o corpo e a mente, tive que dizer BASTA, porque os restos da vida sofrida por onde tenho caminhado, existe um lamaçal de imposições e atentados à liberdade desumanos que até pecam por excesso.
Fica com a tua luxúria das roupas de várias cores e dos perfumes de vários odores, que eu fico com a minha escrita e os meus livros.
Fica sem medos. Tenta no mínimo ser feliz. Vai, que eu vou também… Não pelo mesmo caminho que tu, mas do outro lado da estrada.
Vou para o lado onde as vozes contam histórias, impressionam, emocionam e amam-me como sou.
Vou para o lado daquele mundo que talvez não seja tão duro, que fala de cultura e possui liberdade.
Já agora, fica descansada que não deixarei mais migalhas de pão em cima da mesa da cozinha e não haverá mais nenhuma gota de água no espelho da casa de banho.
Sabes, a humildade é a escada por onde sobem as outras virtudes…


Joaquim Maneta Alhinho
17/Dezembro/2019






segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Livro «Aldeia da Bicharada» sobe o ponto de vista da Psicologia Infantil




Livro «Aldeia da Bicharada»
“Sobe o ponto de vista da Psicologia Infantil”


Tal como a leitura de qualquer género literário, a poesia infantil traz uma série de benefícios para as nossas crianças.
Este livro é o exemplo disso mesmo.
Vejam os porquês?

  • ·O ritmo da poesia estimula a imaginação, o gosto e o hábito pela leitura.


  • ·      Desenvolve a linguagem, porque os versos rimados trazem uma variedade de palavras com sons que podem ajudá-los a compreender e assimilar melhor o seu conteúdo.


·      Os livros que contenham poesia infantil exercitam a memória a fixar pormenores que até podem ser dançados.

  • ·        A leitura deste livro - «Aldeia da Bicharada» - em quadras rimadas melhoram e de que maneira a expressão oral, a identificação das emoções das personagens/animais e auxiliam a criatividade.


  • ·       Transmite valores como a solidariedade e o saber ser meigo e tolerante.


·      E por fim, a leitura destes 24 personagens são as ferramentas ideais para trabalhar a coordenação psicomotora da criança, porque existem neste livro figuras que podem, ao ser lidas e ouvidas, favorecerem o movimento corporal e o funcionamento saudável dos neurónios.



segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Aldeia da Bicharada - Um livro Infanto/Juvenil


Lembram-se com certeza de como era mergulhar no seu livro favorito na infância e ficar completamente absorvido pela sua história?
Pois é…. Agora chegou a minha vez de escrever este livro de estórias infantis para ensinar às crianças as lições que já aprendemos; dar-lhes fontes de diversão e inspiração e, talvez, para reavivarmos a infância, agora na qualidade de pais, tios e avôs.
A ideia é continuarmos a ser sonhadores e fantásticos. No fundo aquilo que nos inspirava na infância. Voltei a esse tempo e explorei essas ideias.  Brinquei e criei acções idóneas que fazem sentido para as minhas personagens.
Ao escrever esta «Aldeia da Bicharada» foi com a intenção de compartilhar os meus conhecimentos e pesquisas com futuras gerações de políticos, pedreiros, professores e bombeiros!
Tive a preocupação de manter a leveza do texto, em quadras rimadas e garantir que o seu conteúdo seja acessível e compreensivo para as crianças.
Há séculos, que a literatura é usada como forma de educar as nossas crianças, então, por que não aproveitar para transmitir um ensinamento e ganhar a atenção dos encarregados de educação e dos professores também?
Vamos nessa…



Estou comprometido...


Estou comprometido com os desígnios da vida, as “coisas” simples, e do propósito de me aventurar por caminhadas em busca de novos olhares, palavras amigas, encanto e acenos, como quem se liberta nos silêncios, com arte de viver!




domingo, 17 de novembro de 2019

As nossas crianças


As crianças são como borboletas ao sabor do vento…
Algumas voam rápido e outras voam pausadamente.
Voam todas ao seu jeito, à sua maneira…
Cada uma delas é diferente na cor e no voar.
Mas qualquer uma delas é muito bonita e especial.
Assim são as nossas crianças. Bestial!




quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Que triste realidade.




"No final de uma tarde fria, recebo a visita inesperada dos meus dois filhos. Um médico, outro engenheiro. Ambos bem-sucedidos nas suas profissões. Faz menos de uma semana da morte da minha mulher. Ainda me sinto abatido pela perda que mudou para mim os rumos e o sentido da vida.
Sentados à mesa da sala da casa simples, onde moro agora sozinho, começamos a conversar. O assunto é sobre o meu futuro.
Um frio percorre-me a espinha. Logo tentando convencer-me de que o melhor para mim é passar a viver num lar geriátrico. Reajo. Argumento que a sombra da solidão não me assusta. A velhice, muito menos. Mas, os meus filhos insistem. Dizem que gostariam que eu fosse morar com um ou o outro. Lamentam, entretanto, que as dependências de seus amplos apartamentos à beira-mar estejam ocupadas. Além disso, eles e as minhas noras trabalham. Portanto, não teriam como me assistir. Isso sem contar com os meus netos, sempre impossíveis.
Em meu favor, argumento já sem muita convicção que, nesse caso, eles poderiam ajudar-me a pagar uma cuidadora. À minha frente, o médico e o engenheiro dizem que seriam necessárias, na verdade, três cuidadoras em três turnos e todas com carteira profissional. O que gastaria, em tempos de crise, uma pequena fortuna ao fim de cada mês. Sucumbo à proposta de ir viver num lar. Aí vem outra sugestão: preciso vender a casa. O dinheiro servirá para pagar as despesas do lar geriátrico por um bom tempo, sem que ninguém se preocupe. Nem eles, nem eu...
Rendo-me aos argumentos por não ter mais forças para enfrentar tanta ingratidão. Não falo sobre o sacrifício que fiz durante toda a vida para custear os estudos de ambos. Não digo que deixei de viajar com a família, de frequentar bons restaurantes, de ir a um teatro ou trocar de carro para que nada lhes faltasse. Não valeria a pena alegar tais factos nesta altura da conversa. Daí, sem dizer uma só palavra, decido juntar os meus pertences. Em pouco tempo, vejo uma vida inteira resumida a duas malas. Com elas, embarco rumo à outra realidade, bem mais dura. Um abrigo de idosos, longe dos filhos e dos netos.
Hoje, nos braços da solidão, reconheço que consegui ensinar valores morais aos meus filhos, mas não consegui transmitir a nenhum deles uma virtude chamada gratidão..."



segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Antologia de Poesia Contemporânea - Vol. XI

Mais um ano a pertencer aos "colunáveis" da Chiado Books.
O poema que irá integrar esta Antologia de 2019, denomina-se por «Esta vida lixada» que irá virar canção.


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Os Filhos da Herança


Era uma vez um velho agricultor. Homem sério e honesto, que tinha feito uma pequena fortuna, à custa do seu árduo trabalho, ao longo dos anos.
Sempre trabalhara de sol a sol, cultivando os campos de onde retirava excelentes colheitas.
Alguns meses antes de morrer, o homem chamou os seus três filhos e disse-lhes:
– Meus filhos, já tenho uma vida longa e sinto que a mesma está a terminar. Por isso, antes de partir para a minha última morada quero perguntar-vos quais são os bens que cada um de vocês quer que eu lhes deixe.
O filho mais velho, sendo o primeiro a falar, pediu:
– Pai, eu queria que me deixasses todo o dinheiro que ganhaste nos teus anos de vida. Com ele poderei ter uma vida desafogada e dedicar-me a viajar e conhecer os lugares que nunca pude conhecer por estar aqui ao teu lado. O pai assentiu.
O filho do meio, chegada a sua vez de falar, disse:
– Meu pai, sei o quanto trabalhaste nesta terra e como ela é valiosa, por isso, queria que me deixasses ficar com os teus campos. Eu os cultivarei e tirarei um bom rendimento deles.
Sendo esta a sua vontade, o pai concordou.
Por fim, chegou a vez do filho mais novo. O pai, um pouco triste com o egocentrismo demonstrado pelos outros filhos, questionou-o:
– Meu filho, os teus irmãos já ficaram com o dinheiro e os campos, o que poderás tu querer de mim?
– Pai – respondeu este – não penses que fico triste porque os meus irmãos já ficaram com o dinheiro e os campos! Acontece que não era nenhuma dessas coisas que te queria pedir.
O velho camponês surpreendeu-se:
– A sério? Então o que me queres pedir?
O filho segurou-lhe na mão carinhosamente e disse:
– Ao longo de todos estes anos observei, dia após dia, a forma como trabalhaste a terra, o dinheiro que fizeste e o que investiste, mas por muito que tenha observado, receio ainda não ser capaz de ser tão bom como tu. Eu sei que tens um caderno sujo e amarelado onde foste registando cada uma das aprendizagens que fizeste no teu percurso de vida e seria uma grande honra para mim poder ficar com ele.
O pai, ao ouvir aquelas palavras emocionou-se. Os irmãos entreolharam-se e silenciosamente perguntaram-se se o irmão teria perdido o juízo, mas nada disseram.
– Se é esse o teu desejo, assim será.
O homem morreu e a vontade dele e de cada um dos filhos foi cumprida.
O mais velho partiu nas viagens que sempre sonhara, reunindo o conhecimento que desejava, mas, em pouco tempo o dinheiro acabou-se e, não sabendo o que fazer com o resultado das suas viagens, viu-se forçado a voltar a casa.
Lá iria encontrar os campos do seu pai abandonados e maltratados porque o irmão do meio simplesmente não sabia o que fazer com eles. Este ainda tentara inicialmente, mas depois de algum tempo de tentativas falhadas e muitos endividamentos, acabou por desistir.
O filho mais novo, esse também tinha partido, mas, ao contrário do mais velho, saíra para trabalhar, aplicando os conhecimentos do seu pai. Primeiro nas terras de outros, depois num pequeno campo que conseguira comprar para si e cujas dimensões iam progressivamente aumentando com o resultado do seu trabalho.
Também ele voltou a casa algum tempo depois para uma visita e, perante a situação que lá encontrou, não hesitou em comprar os campos do seu pai, ao seu irmão do meio.
Quando isto aconteceu, os irmãos mais velhos aproximaram-se do mais novo e desabafaram:
– Meu irmão, como sabes estamos falidos e não nos resta outra opção senão ficar aqui a trabalhar para ti… Se nos quiseres, claro!
O rapaz olhou para eles e disse:
– Não quero que trabalhem para mim…Quero que trabalhem comigo! Embora vocês tenham perdido a herança que o nosso pai vos deixou, eu quero partilhar a minha convosco!
E assim aconteceu. Os três irmãos trabalharam em conjunto, partilhando do conhecimento que o pai tinha reunido durante toda a sua vida e, com o esforço do seu trabalho reergueram toda a fortuna que este tinha construído.
Não há maior herança a deixar, do que os conhecimentos que transmitimos aos nossos filhos.



quarta-feira, 12 de junho de 2019

Orgasmo Fatal - Posfácio



O tema que abordei neste romance é o da infidelidade e segundo estudos recentes, as pessoas admitem já ter traído o parceiro(a) pelo menos uma vez.
Existe uma grande disparidade entre o que as pessoas dizem ou pensam acerca da infidelidade e os seus comportamentos.
 A influência no desejo sexual, na qualidade do relacionamento e na atractividade verifica-se que quanto maior é o desejo sexual, maior a probabilidade de uma pessoa trair o parceiro(a). A probabilidade de trair também aumenta nos casos em que a qualidade da relação é má ou quando a pessoa que é infiel dá muita importância ao aspecto físico.
Como a qualidade da relação afecta a probabilidade de ocorrer traição, cabe a ambos os membros do casal fazerem alguma coisa para aumentar a qualidade do relacionamento que mantém.
A percepção do que é traição varia: pode ser uma traição física – com contacto sexual – ou uma relação emocional – com telefonemas e troca de mensagens e/ou mentindo aos parceiros.
E o que acontece em termos de atenção, memória e percepção temporal quando vemos um potencial parceiro(a) muito atraente? Parece que estamos de algum modo formatados para olharmos para pessoas bonitas, para nos recordarmos mais delas e para pensarmos que aquela troca de olhares ou aquele sorriso durou mais tempo quando a pessoa é atraente.
E as pessoas traídas interrogam-se e exclamam ao mesmo tempo e quase sempre desta forma: “Devo continuar com este relacionamento infeliz? Investi tanto nele!”
No relato deste romance é embaraçoso como a infidelidade/traição pode virar crime.
Nunca se imagina que pode acontecer a qualquer um de nós, o que aconteceu aos amantes Duarte e Raquel…
Coloca-se o parceiro sobrevivo numa encruzilhada e num beco sem saída.
Dois casais que são os melhores amigos e que partilham tempos comuns no quotidiano da vida. Mentir a verdade, foi o pensamento do arquitecto Duarte para esconder o relacionamento extraconjugal, que mantinha com a esposa do seu melhor amigo, já há alguns anos, sem levantarem qualquer suspeita nos traídos.
A solução foi fazer desaparecer o corpo e a viatura sem deixar qualquer rasto ou ponta solta.
Será este, um crime perfeito?
Prevalece no pensamento do ser humano um ditado antigo: “A galinha da vizinha é melhor que a minha”.
E nem sempre é verdade, digo eu!



Joaquim Maneta Alhinho

terça-feira, 11 de junho de 2019

Orgasmo Fatal - Parte 4




Olhou novamente em 360º e não vislumbrou ninguém. Entrou no jipe pegou na mala da Raquel, vasculhando-a até encontrar as chaves do seu carro.
Sem perder mais tempo, regressou a Almada. Dirigiu-se à pensão da D. Adelaide e pediu-lhe um último favor.
- Não se importa de levar o meu carro até ao Cabo Espichel, em Sesimbra. Dar-lhe-ei uma nota de 100 euros por este serviço. Fique estacionada junto à Igreja da Nossa Senhora do Cabo.
- Está bem. – aludiu a Adelaide.
O arquitecto Duarte enquanto a hospedeira se colocava em marcha foi buscar o carro da Raquel.
Já no Cabo Espichel, o amante da Raquel e o melhor amigo do seu esposo Toni, tinha-se desfeito do carro empurrando-o ravina abaixo até ao mergulho chapado nas águas do Oceano Atlântico.
A Adelaide esperava-o no local combinado e sem demoras regressaram a Almada.
Duarte dirigiu-se para a sua moradia nos Capuchos, na Costa da Caparica. A sua esposa Luísa não o esperava tão cedo e tinha uma notícia para lhe dar.
- Então o que se passa?
- O Toni já telefonou várias vezes para aqui e para o teu escritório para saber se nós temos conhecimento do paradeiro da Raquel, dado que ainda não apareceu em casa a esta hora. – rematou a Luísa.
- E nós é que sabemos onde anda a Raquel? Boa…Se calhar foi até à FNAC do “Almada Fórum” comprar algum livro, como é seu hábito?
Duarte pegou no telefone e ligou ao seu grande amigo Toni.
- Olá Toni. Então amigo? A Raquel já chegou ou deu algum sinal?
- Não Duarte. Não sei nada dela…Ela saiu da cabeleireira às onze e quarenta e cinco e não sei onde está?
- Espera um pouco que vou ter contigo e vamos dar uma volta pelos locais que habitualmente frequentava. Já ligaste para o telemóvel dela?
- Já Duarte, ela esqueceu-se dele na mesa do hall de entrada. Anda uma cabeça oca…
- Não penses assim Toni, eu por exemplo também me esqueci do meu no escritório. Acontece a qualquer um…Eu já vou ter contigo, ok?
- Ok amigo. Muito obrigado!
Todos os locais foram passados a pente fino pelos dois amigos e nem rasto da Raquel. Resolveram dirigir-se às autoridades policiais a fim de formalizar a queixa do seu desaparecimento.
Foram muitas as diligências e investigações efectuadas pelas várias entidades da polícia e nem uma pista sequer sobre o seu paradeiro, nem o da sua viatura.
Os dias e os meses foram passando e pistas da Raquel não existem. Toni não se conforta e questiona-se sobre os motivos do desaparecimento da sua esposa. Não consegue entender o que a levou ao sumiço sem deixar rasto. O que lhe teria acontecido? Falaram-se de tantas hipóteses e nenhuma deu resultados palpáveis.
Duarte manteve-se sempre inalterável na sua postura, sem dar mostras de qualquer sinal de arrependimento. Uma frieza tumular…
Passaram-se, entretanto, os anos e o Toni continua a viver sozinho, na esperança que um dia, volte a reaver a sua esposa e amada Raquel.
Duarte, bem-sucedido profissionalmente nos seus projectos, persiste em ter uma amante, a sua secretária administrativa, e serve-se novamente da mesma pensão para os seus encontros amorosos.
O que o Duarte não sabia é que a sua dedicada esposa Luísa, também se serve da mesma pensão há anos, para se encontrar com o seu antigo colega e namorado dos tempos de liceu.
Será este o crime perfeito?


segunda-feira, 10 de junho de 2019

Orgasmo Fatal - Parte 3



- Não posso levá-lo no saco das compras…
- Não, claro!
- Tenho de chamar um médico?
- Para que serve isso? Ela morreu.
- Um médico ocupar-se-á de tudo o resto. Então?
- Então o quê?
- É necessário enterrar este corpo.
- Ia precisamente falar-lhe nisso, senhora Adelaide.
Duarte apoiou os punhos nas têmporas.
- É preciso que tudo se passe sem que ninguém o note…Nada de escândalo. Ninguém verá a Raquel sair daqui.
- E então?
- Deixe isso comigo…
- Quer deixar esta mulher em qualquer parte?
- Não.
Duarte, enervado, pôs-se a andar de um lado para o outro:
- Pensei que seria melhor a Raquel desaparecer completamente e ninguém saberá para onde. Ela saiu de casa no carro para ir à cabeleireira, como ela dizia que fazia, e não voltou. Aliás, ela nunca aqui esteve na Pensão…A senhora nunca a viu. Uma pessoa desaparecida, dissolvida como o gás ou como uma nuvem de vento…Que pensa disto?
- E o senhor pensa que eu vou entrar no seu jogo?
Duarte parou. O suor brilhava-lhe na face.
A senhora Adelaide aproximou-se da cama, levantou um canto da coberta acolchoada e olhou atentamente para o rosto da Raquel. «Um anjo adormecido», pensou. Depois, rectificou esta sensação. Aquela não valia mais que todas as outras mulheres que vão para a cama com homens de ocasião, outras com amigos coloridos e ainda as que traem com os maridos das melhores amigas, tornando-se todos infiéis.
Duarte, de pé contra a porta mordia o lábio inferior.
- Encarrega-se de a levar?
- Sim. Sem deixar vestígios…
- Eu negarei tudo, percebe? Não vi nada! Nunca lhes aluguei um quarto. São-me totalmente desconhecidos…
- Ajude-me só a levar a Raquel. Como é que vai ser possível? Conseguiremos chegar ao fundo da casa? Há outras saídas?
- Sim, pela lavandaria, no pátio. Terá de encostar a viatura junto à porta.
O transporte da Raquel foi feito sem dificuldades, agora pesava-lhe na consciência o destino a dar ao corpo. Não sabia que caminho iria seguir…De repente lembrou-se do carro da Raquel que estava estacionado a três ruas da pensão, local habitual para não levantar suspeitas.
Sentiu-se numa encruzilhada.
Olhou para o relógio e os ponteiros marcavam dezasseis horas e quarenta e cinco minutos.
Num ápice veio-lhe à memória que a moradia arquitectada por ele, na Aldeia de Irmãos, em Azeitão, que estava na fase de encher os cabocos. Os funcionários do empreiteiro tinham saído às cinco horas da tarde. Chegado ao local fez uma betoneira de massa forte com cascalho, justificando num papel escrito deixado ao encarregado, que pretendeu fazer um teste durante aquele fim de semana.
Certificou-se de que ninguém o estaria a observar em seu redor e colocou o corpo da Raquel numa das valas. De seguida despejou toda a massa de cimento por cima do corpo da sua amante e espalhou com uma pá o resto da argamassa ao longo da vala.
Depois desta árdua tarefa sentiu-se aliviado.
- «Já está»! – pensou baixinho o Duarte.

domingo, 9 de junho de 2019

Romance «Orgasmo Fatal» - Parte 2


Uma vez ainda, ela empinou-se, resistiu a qualquer coisa de desconhecido em si mesma e, com uma acuidade nunca conhecida, sentiu o contacto das mãos dele, dos seus lábios quentes, do seu corpo e do seu olhar mergulhado nos dela cujo êxtase lhe pareceu a própria expressão da crueldade, até que tudo se extinguiu no dilaceramento profundo de uma picada tão fulgurante que a respiração dela parou.
Duarte só notou a mudança de Raquel quando, querendo retomar o folego, se imobilizou. Notou a falta do abraço feroz da Raquel, durante aqueles momentos, tal como o cruzar brusco das pernas sobre as costas dele, acompanhado por um riso arrulhador, através do qual ela proclamava a sua superioridade. Agora, ela estava estendida, com os olhos fechados, completamente calma, com o rosto descontraído e os lábios entreabertos.
Duarte respirava de forma ofegante e acariciou-lhe a face e deu-lhe um beijo. Os lábios dela estavam estranhamente frios e ele já ia dizer: «Minha querida, hoje custas mais a degelar que um icebergue!», quando os braços dela se desprenderam dele, deslizaram e caíram ao seu lado na cama. De repente, tinha ficado livre do abraço dela. Lamentavelmente, o queixo dela descaiu. Os lábios arroxearam.
O Duarte não percebia ainda o que se tinha passado.
Sentou-se, acariciou os seios dela e sorriu.
- Acaba com essa brincadeira! – disse, respirando profundamente. «Um homem de cinquenta anos precisa de facto de ter muito fôlego para amar uma mulher como a Raquel», pensou.
- Vamos, não finjas que és vencida, triunfaste como sempre!
Raquel não se mexeu. Apenas a sua face mudou de novo. Os traços acentuaram-se, como que minguados, emaciados.
Duarte passou as duas mãos pelo rosto, depois esfregou no lençol as palmas cobertas de suor.
- Raquel – voltou ele a dizer -, o que quer isto dizer? Pára, não gosto deste jogo. É macabro.
Silêncio.
O corpo radioso, banhado pela claridade alaranjada, não se mexeu. Estava frio quando o Duarte o tocou e depois o sacudiu.
- Meu Deus…não é verdade! Não pode ser…É impossível…
Lutava contra a verdade, porque ela é incompreensível, incomensurável nas suas repercussões destruidoras.
- Raquel! Raquel!...O que é que tu tens? Eu…Eu…
Gaguejava, os pensamentos misturavam-se-lhe, o pânico avassalava-o.
Absurdamente – sabia-o -, pôs-se a massajar-lhe o coração, a insuflar-lhe ar nos pulmões, tal como se faz com os afogados aos quais se tira a água que penetrou nos brônquios.
Abriu-lhe a boca e tentou praticar o boca-a-boca, mas conseguiu apenas um beijo ofegante, sem parar de lhe sacudir o corpo, de o voltar, de o apertar contra si; finalmente, tremeu de horror ao verificar que cada vez arrefecia mais e mais, enquanto os membros se tornavam rígidos.
Mecanicamente, foi tomar duche, depois vestiu-se, atirou sobre a Raquel a coberta acolchoada e olhou-se fixamente no grande espelho colocado no fundo do quarto. Os seus olhos estavam marcados, por baixo, por profundas olheiras devidas a este incidente, mas o seu olhar continuava vazio, desamparado.
«Morreu!», pensava ele. «Raquel morreu! No quarto de uma pensão de ocasião. Está ali deitada, queimada pelo fogo da sua paixão, e agora vai causar um desabamento nas duas famílias e na sociedade. Irei encontrar-me com o Toni e terei de lhe dizer: ‘Toni, a tua mulher morreu, hoje, perto das duas horas da tarde, nos meus braços. Neste momento podes abater-me, porque a Raquel era minha amante. Desde há um ano, todas as sextas-feiras nos encontrávamos naquela pensão e dizia-te que ia à cabeleireira. Toni, ela enganava-te comigo.’»
E à sua mulher Luísa, teria de dizer: «A Raquel morreu. Ela era minha amante, tu nunca desconfiaste porque quando estávamos todos juntos soubemos ser bons actores e representar muito bem. Por aqui, por ali, um beijo roubado…éramos excelentes amigos! Sei que o teu instinto fez com que nunca gostasses dela, até porque reconhecias a beleza tirânica do seu corpo. Mas nunca te terá passado pela cabeça que eu…E agora?»
Duarte engoliu dificilmente a saliva e afastou-se do espelho.
Tinha de telefonar para o escritório para dizer que já não voltava hoje. Tinha muitas desculpas plausíveis ao seu dispor: fiscalização das obras em curso, encontro com um novo empreiteiro, escolha de pavimentos…Um arquitecto tem mais de cem motivos para justificar a sua ausência.
Duarte passou a mão pelo cabelo e saiu do quarto.
Adelaide ao sair dos seus aposentos, dirigiu-se a ele. Não era seu hábito ver partir os clientes que, durante duas horas, ocupavam um quarto em sua casa. Vivendo desses alugueres, temia embaraçá-los. A sua reputação, entre os senhores que frequentavam a sua casa, assegurava-lhe a melhor publicidade, atraía continuamente novos clientes discretos, generosos, para os quais ela representava uma cúmplice. Pagavam bem, não preenchiam nenhuma ficha de entrada, o que evitava que as verbas recebidas fossem colectadas.
- Está na hora, senhor Duarte…- disse-lhe a Adelaide com a familiaridade de uma confidente.
Duarte apertou entre os dedos a mola da gravata e fez-lhe sinal para se aproximar.
- Senhora Adelaide, suplico-lhe neste momento que me ajude, não grite, aguente o choque por favor. - Passou-se qualquer coisa de terrível, de imprevisível. Raquel…quero dizer a senhora…
Engoliu o nome e deu um passo para o lado.
Adelaide observou aquele cenário em silêncio levando as mãos à cara. O terror de todos os hospedeiros que alugavam quartos ao dia insinuava-se nela: a morte numa cama sua!
Tinha lido e ouvido contar acidentes como aquele nos hotéis e não mereciam muita importância, chamava-se a polícia e os bombeiros, o morto era discretamente encaminhado através de uma porta traseira que existe sempre para o exterior.
Aqui existia uma mulher desconhecida, nua, um amante, nenhuma ficha preenchida, um escândalo. A imprensa falaria: «A morte no ninho do amor»…E a sua fotografia sairia em todos os jornais e nas televisões.
- Trombose venosa cerebral? – perguntou finalmente a senhora Adelaide.
- Talvez. Ao princípio nem notei…
- E agora? – perguntou a hospedeira.
- Essa é também a pergunta que faço a mim mesmo. É preciso levar daqui o corpo.

sábado, 8 de junho de 2019

Orgasmo Fatal 1 - Um Romance em Directo


Ela ouviu-o chegar, esmagou imediatamente o cigarro no pequeno cinzeiro marroquino comprado numa das lojas do Martim Moniz, em Lisboa, e deitou-se para trás, com os braços cruzados debaixo da nuca.
As cortinas duplas cor de laranja estavam corridas…A luz solar que entrava, suavizada, no interior do quarto espelhava-se um clarão ensanguentado na pele nua.
Dobrou um pouco a perna esquerda e fixou a porta com um olhar cheio de expectativa.
Lá fora, a voz dele soava, imprecisa. Tinha parado, no longo corredor, para falar com a Adelaide, tal como acontecia sempre que se preparava para entrar naquele quarto da pensão.
Não era por cortesia que se demorava alguns minutos com a gerente da pensão: tratava-se de um sentimento de vergonha, de culpa, que se traduzia por palavras acompanhadas de uma nota, que a Adelaide encontraria, em seguida, na algibeira do seu avental ou debaixo do telefone, mimando-a para assim consolidar o seu silêncio.
Raquel espreguiçou-se ao sol filtrado pela cortina alaranjada, passou as mãos pelo corpo liso e esbelto, depois desgrenhou os cabelos, de um louro acobreado. Ele gostava daquele aspecto selvagem, daquela negligência primitiva, que o transportava para além da estreiteza da sua vida quotidiana.
Ela imaginava-o agora no corredor: elegante, não muito esguio, bem de carnes, tal como se tinha qualificado a si mesmo, uma vez, por brincadeira.
Passos.
A mão pousou no fecho da porta…
Raquel deitou uma olhadela para o relógio. Meio dia e dez. Dez minutos de felicidade desperdiçada.
«Ele tem escrúpulos demais», pensou. «Fala, fala, para se tranquilizar. É sempre assim de cada vez, antes de se libertar de tudo neste quarto para se tornar um outro homem. Não mais o marido que engana a mulher, que seduziu a esposa do seu melhor amigo, que se introduz em segredo na pensão, em Almada, e se desembaraça, com a roupa, da personalidade do famoso arquitecto, da marca que a sociedade lhe impôs. Aqui, neste quarto, renasce uma vez por semana, às sextas-feiras, do meio dia às duas horas da tarde.»
Raquel voltou a deitar-se, com os braços estendidos, enquanto a porta se abria e se fechava sem ruido.
Duarte, parado no enquadramento da porta, contemplou Raquel em silêncio.
O seu corpo brilhava no sol alaranjado. Era tão bela que o fazia perder o fôlego. A perfeição deixava-o mudo…
- Boa tarde, minha deusa – disse o Duarte por fim.
Aproximou-se, sentou-se à beira da cama e meteu as mãos pelos cabelos desgrenhados.
- Boa tarde, leãozinho!
Aproximou a cabeça e beijou-o com a paixão como ele sonhava nos dias de ausência. Experimentou sob o deslizar dos seus dedos a maciez do belo corpo dela e sentiu que a sua própria metamorfose começava.
- Estás cada vez mais bonita – disse-lhe, com uma voz enrouquecida. – Tenho medo!
- De mim?
Raquel sorriu e as suas longas pernas envolveram-lhe a cintura.
- Um dia, farei a figura de macaco ao pé de ti. É inquietante o quanto és bonita.
Passou a camisa por cima da cabeça e atirou-a para os pés da cama.
- O que me consola é que os outros homens não conseguem tirar todo o partido de ti.
- De quanto tempo dispões? – perguntou ela.
- Precisamente as duas horas do costume! Sabes bem…
- Sim, e fico doente antes mesmo de entrar neste quarto: o amor cronometrado como uma refeição de cantina escolar!
Ela levantou os joelhos e fechou-os nos braços, apoiando neles o queixo, com o olhar cravado no Duarte, enquanto ele acabava de se despir, e, preocupado com os vincos das calças, colocava-as cuidadosamente nas costas de uma cadeira.
- Amo-te, meu leãozinho – disse ela muito baixo. De repente a sua voz tinha inflexões diferentes, quase infantis: - Amo-te de verdade, não só porque o amor é bom, como uma torta de Azeitão ou um moscatel de Setúbal. Detesto este jogo de escondidas, este quarto de pensão, os passos deslizantes, discretos, da senhora Adelaide, as mentiras em casa, as cenas que temos de representar quando nos vemos fora deste refúgio, a hipocrisia, quando beijo a tua mulher na cara e tu apertas o Toni contra o teu peito, a fim de mostrares a tua cordial amizade. Como tudo isto é nojento! Porque não podemos amarmo-nos e reconhecê-lo face ao mundo inteiro?
- Tínhamos prometido não voltar a falar nisso, Raquel.
Duarte agarrou-a pelos ombros e puxou-a contra si.
O corpo da Raquel deslizou debaixo do seu e ele sentiu, primitivo e violento, o desejo dela por ele. Os grandes olhos verdes, debaixo dos cabelos emaranhados, tinham-se tornado mais brilhantes e a sua respiração acelerou.
- Tu és a minha deusa! – disse, com uma voz rouca.
No arrebatamento do seu abraço, ela deixou-se cair para trás e o sol de laranja explodiu ao mesmo tempo que o universo, numa sensação de prazer que ninguém em palavras conseguiu ainda explicar.
Era quase um quarto para as duas quando a Raquel começou a respirar de uma forma estranha nos braços do Duarte. Parecia um ligeiro estertor, entrecortado por uma tentativa de retomar a respiração, que soava como um suspiro. Havia qualquer coisa que lhe asfixiava a garganta.
Os seus grandes olhos tomaram uma espécie de fixidez, tornando-se estranhos…O medo gritava no seu olhar misturado com um terrível pressentimento. O corpo tremia ainda sob as ondas ardentes do prazer, a que esta sensação esmagadora, desconhecida, se misturava já. Duarte não o notou imediatamente. A sua embriaguez era absoluta, o seu céu irradiava mil fogos crepitantes.
E o grito da Raquel, que devia ter sido um grito de prazer não passou de um suspiro forte.