A credibilidade não é, definitivamente, um valor do nosso tempo.
A bem da verdade, nem sei mesmo se alguma vez a credibilidade chegou a ser um valor. Tudo o que se sabe, tudo o que a história passada nos diz, é que na vida, tal como dizem que acontece na política, é muito mais importante parecer do que ser. A responsabilidade da coisa até pode ser dos meios de comunicação actuais, que se entretêm no interessante exercício de fazer narrativas alternativas àquelas que quem tem imagens a vender se esforça por manter.
Aliás. parece que isto se aplica à credibilidade como se aplica a uma extensa lista de virtudes e características que se devem ter, que se deseja que os amigos, os filhos e as pessoas todas com quem se priva de perto tenham. Pode ser que seja para bem delas, mas também pode ser que, lá no fundo, acreditemos que existem estatutos que se obtêm por contágio e proximidade e, nessa medida, se nos colem à pele e não nos deixem cair em tentação.
A credibilidade, como todos os valores, tem um enorme inconveniente de tender para o absoluto. Ou seja, ou se é credível ou não se é. Sem meias tintas, sem coloridos ambíguos, sem aquela enorme zona de entremeio onde nos costumamos mover e ser. Como resultado, os vulgares mortais que conseguem ser credíveis nuns tantos aspectos e absolutamente para esquecer noutros tantos, quando expostos à enorme tentação de parecerem perfeitos, caem como patos. Limam as arestas que lhes davam graça, vestem as cintas e os corpetes dos avôs, fazem todos os liftings que podem e a que têm direito na santa ingenuidade que ninguém dá por isso.
O resultado até poderia ser gravoso, mas, sendo dado que vivemos no tempo e no lugar em que vivemos, quer dizer sem interesse na história nem investimento na memória, a credibilidade ou a falta dela transforma-se apenas em mais um tema, um fait-divers que se comenta de passagem e se arruma numa prateleira alta, muito alta.
Para uns, porque o dia-a-dia aperta e exige demais, para outros, porque os próprios telhados de vidro são facilmente atingíveis, para mais uns tantos, porque há o risco de perder alguma coisa importante, para os restantes, porque o que não é um valor, não o é, e assunto arrumado.
À laia de conclusão, advertência ou exortação, só pode ficar o convite ao humor, ao recurso à capacidade de rir de nós próprios, dos outros e do curioso e atabalhoado mundo em que vamos vivendo. Quem não tiver isso como recurso arrisca-se a sofrer demais, a descrer demais, a suspirar por outros tempos que, provavelmente, nunca foram.
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Nelia LIVE - Praia
Tal como já afirmei na minha página do facebook não me envergonho de ter escrito esta letra para este tema cantado pela Nélia. Possuo neste meu blogue outro tema escrito por mim para esta artista luso-americana (um fado/canção).
sábado, 22 de setembro de 2012
Desorientados
Um dos temas enrodilhados que se aborda uma e outra vez chegando-se sempre a uma espécie de beco sem saída é o da gestão do dinheiro, ou, melhor, da falta de dinheiro.
É público e notório que há menos dinheiro a circular. Mesmo que os jornais e revistas mais rosados transformem em assunto o estilo de vida de alguns jogadores de futebol, uns tantos ex-políticos e um punhado raquítico de empresários de sucesso, o facto é que os cidadãos comuns vão deixando pistas sucessivas sobre o desconforto crescente de tentarem viver como já viveram noutros tempos, com bastante menos dinheiro.
Mesmo os comentários jocosos sobre "onde está a crise?" que se largam a propósito das longas filas de trânsito para as praias ou para concertos rock, dos engarrafamentos aeroportuários relacionados com jogos de futebol ou férias de Verão, não chegam para tapar a sensação de empobrecimento e degradação. São os milhares de casas e escritórios para vender ou alugar, ainda a preços desrealizados, que dão às povoações um ar fantasma; são os espaços públicos malcuidados como se tivessem sido esquecidos; são as lojas cheias de mercadoria a saldar e a liquidar fora de tempo ou, então, aslojas vazias com dizeres "venda" ou "trespassa", como se ainda fosse possível. São os restaurantes vazios a partir de uma certa altura do mês, ou ocupados a alimentar com higiénicas e acessíveis sopinhas e saladas os almoços de meio mundo; é até a bendita lei da proibição de fumar que legitima ocasionais cravanços e facilita o deixar de fumar saudável e muito mais barato.
No meio da situação e dos palpites e remédios que dirigentes e comentadores vão invocando como bons, apareceu noutro dia uma ideia peregrina que fez manchete, mereceu atenção e, de caminho, nos deu uma razoável ideia do nível de desorientação de quem é suposto manter o rumo das coisas.
A lógica é ensandecida e esmagante: alguém vai ter que pagar!
Mesmo que seja uma ideia absurda, mais uma, é também mais um prego cravado na cadeia continuada e teimosa de medidas extravagantes que eram para ser e não foram, mas que se tivesse jeito, se tivessem cabimento e sentido, se tivessem vingado e sido implementadas, seriam espertas e muito eficazes. Clarifica, bem, o que é a desorientação e explica de forma magistral o "desenrascanço" nacional que arranja um problema para resolver o anterior e assim sucessivamente.
É público e notório que há menos dinheiro a circular. Mesmo que os jornais e revistas mais rosados transformem em assunto o estilo de vida de alguns jogadores de futebol, uns tantos ex-políticos e um punhado raquítico de empresários de sucesso, o facto é que os cidadãos comuns vão deixando pistas sucessivas sobre o desconforto crescente de tentarem viver como já viveram noutros tempos, com bastante menos dinheiro.
Mesmo os comentários jocosos sobre "onde está a crise?" que se largam a propósito das longas filas de trânsito para as praias ou para concertos rock, dos engarrafamentos aeroportuários relacionados com jogos de futebol ou férias de Verão, não chegam para tapar a sensação de empobrecimento e degradação. São os milhares de casas e escritórios para vender ou alugar, ainda a preços desrealizados, que dão às povoações um ar fantasma; são os espaços públicos malcuidados como se tivessem sido esquecidos; são as lojas cheias de mercadoria a saldar e a liquidar fora de tempo ou, então, aslojas vazias com dizeres "venda" ou "trespassa", como se ainda fosse possível. São os restaurantes vazios a partir de uma certa altura do mês, ou ocupados a alimentar com higiénicas e acessíveis sopinhas e saladas os almoços de meio mundo; é até a bendita lei da proibição de fumar que legitima ocasionais cravanços e facilita o deixar de fumar saudável e muito mais barato.
No meio da situação e dos palpites e remédios que dirigentes e comentadores vão invocando como bons, apareceu noutro dia uma ideia peregrina que fez manchete, mereceu atenção e, de caminho, nos deu uma razoável ideia do nível de desorientação de quem é suposto manter o rumo das coisas.
A lógica é ensandecida e esmagante: alguém vai ter que pagar!
Mesmo que seja uma ideia absurda, mais uma, é também mais um prego cravado na cadeia continuada e teimosa de medidas extravagantes que eram para ser e não foram, mas que se tivesse jeito, se tivessem cabimento e sentido, se tivessem vingado e sido implementadas, seriam espertas e muito eficazes. Clarifica, bem, o que é a desorientação e explica de forma magistral o "desenrascanço" nacional que arranja um problema para resolver o anterior e assim sucessivamente.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
João Pedro Pais - Vens ou Ficas?
Um tema marcante para mim. Quando aceitei o desafio de escrever para o JPP, recebi apenas o piano como alinhamento. Sem conhecimentos musicais, colocar as palavras por entre esta bonita musicalidade, não foi tarefa fácil. Trocaram a palavra «Azeitão» por «estação», mas tudo bem...
Nasceu uma balada linda que tem sido pouco explorada pelas rádios e pelo JPP. Merecia mais!
Espirito de Família
Portugal é um país envelhecido, querendo com isto dizer exactamente o mesmo que as estatísticas exprimem - a existência de mais pessoas na velhice do que na infância - e as famílias sentem dificuldades em conciliar o desejo de procriar com a responsabilidade de apoiar as gerações anteriores.
O envelhecimento, em si mesmo, não tem nada de complicado. Mas o tratamento social que se faz dos diferentes períodos da vida em conjunto quer com a tradição, quer com as políticas de família, acarreta um conjunto de consequências com que depois se tem de lidar. Entre elas há um paradoxal situação: à medida que as famílias foram diminuindo a sua extensão e o seu campo de influência, viram aumentar a sua atribuição de competências.
As famílias actuais têm que providenciar, directa ou indirectamente, além de vínculos afectivos, condições materiais óptimas para os seus velhos e para as suas crianças, sendo que a esmagadora maioria não tem recursos para tal.
Tem que se compatibilizar horários de trabalho com a existência de crianças pequenas que só podem ser cuidadas por dispositivos existentes na comunidade, como sejam infantários, creches e escolas, numa ínfima parte desse tempo. Quer dizer, ou se tem bastante dinheiro, ou se tem a sorte de ter uma rede social de apoio extensa, ou criar dois ou três filhos transforma-se numa tarefa hercúlea, extenuante e, por essa via, pouco gratificante.
Em relação aos idosos, o mesmo se passa. Ou se tem recursos económicos e relacionais enormes ou, tarde ou cedo, o confronto com doenças, lutos, incapacidades funcionais ou mentais dos mais velhos transforma a vida familiar num extraordinário exercício exercício de equilibrismo na gestão, sempre deficiente, das famílias que se vai tendo.
Depois, o Estado, que é suposto administrar os recursos comuns no interesse comum, elege outros interesses como prioritários e endossa às famílias a responsabilidade de descobrir como se pode fazer omoletas sem ovos, quer dizer, proporcionar, além de afecto, condições materiais de desenvolvimento, tratamento e acompanhamento de todos os que necessitam e que, por sorte ou por azar, estão ligados pelos laços de sangue.
Se não se espera que um estado actual seja dono de creches ou residências assistidas, tenha baby-sitters ou cuidadores formais ao serviço, espera-se, legitimamente, que seja capaz de delinear políticas em que esses recursos não sejam um luxo dispendioso mas uma infra-estrutura da vida humana com alguma dignidade.
O envelhecimento, em si mesmo, não tem nada de complicado. Mas o tratamento social que se faz dos diferentes períodos da vida em conjunto quer com a tradição, quer com as políticas de família, acarreta um conjunto de consequências com que depois se tem de lidar. Entre elas há um paradoxal situação: à medida que as famílias foram diminuindo a sua extensão e o seu campo de influência, viram aumentar a sua atribuição de competências.
As famílias actuais têm que providenciar, directa ou indirectamente, além de vínculos afectivos, condições materiais óptimas para os seus velhos e para as suas crianças, sendo que a esmagadora maioria não tem recursos para tal.
Tem que se compatibilizar horários de trabalho com a existência de crianças pequenas que só podem ser cuidadas por dispositivos existentes na comunidade, como sejam infantários, creches e escolas, numa ínfima parte desse tempo. Quer dizer, ou se tem bastante dinheiro, ou se tem a sorte de ter uma rede social de apoio extensa, ou criar dois ou três filhos transforma-se numa tarefa hercúlea, extenuante e, por essa via, pouco gratificante.
Em relação aos idosos, o mesmo se passa. Ou se tem recursos económicos e relacionais enormes ou, tarde ou cedo, o confronto com doenças, lutos, incapacidades funcionais ou mentais dos mais velhos transforma a vida familiar num extraordinário exercício exercício de equilibrismo na gestão, sempre deficiente, das famílias que se vai tendo.
Depois, o Estado, que é suposto administrar os recursos comuns no interesse comum, elege outros interesses como prioritários e endossa às famílias a responsabilidade de descobrir como se pode fazer omoletas sem ovos, quer dizer, proporcionar, além de afecto, condições materiais de desenvolvimento, tratamento e acompanhamento de todos os que necessitam e que, por sorte ou por azar, estão ligados pelos laços de sangue.
Se não se espera que um estado actual seja dono de creches ou residências assistidas, tenha baby-sitters ou cuidadores formais ao serviço, espera-se, legitimamente, que seja capaz de delinear políticas em que esses recursos não sejam um luxo dispendioso mas uma infra-estrutura da vida humana com alguma dignidade.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Uma certa porcaria
Como sabem, a miséria, a ignorância e mais umas tantas coisas da mesma antipática família vêem-se também pelos sinais que espalham à sua volta.
Alguns países do mundo impressionam pelo facto de chamarem cidades a imensos bairros de lata, sem saneamento básico, sem níveis de salubridade mínimos, sem qualquer noção de ordenamento ou organização que acabou por transmitir uma sensação caótica que, mais do que provavelmente, é a que caracteriza o estilo de vida ou de sobrevivência das populações.
Outros países, mais arrumadinhos e sofisticados, cultivam outros patamares de miséria e ignorância, como o que não se vê não existisse. Aí proliferam outros níveis de porcaria: os metais pesados no mar, os pesticidas nos alimentos, a desconsideração sistemática e tonta sobre aquilo que a comunidade cientifica diz que dstrói e mata, a nós e ao planeta.
Num nívem mais intermédio, mais próximo de nós e da nossa forma de viver e estar, o que vai existindo é uma certa quantidade de sujidade: das pessoas, das ruas, dos espaços públicos e privados que, simultaneamente, informa sobre os níveis de civilidade e cidadania dos sujeitos, sobre os padrões éticos e estáticos que perfilham, sobre a qualidade do investimento que fazem na vida em sociedade.
Curiosamente (e é mesmo curioso) verifica-se que vamos fazendo com os espaços públicos o que as pessoas pouco diferenciadas de outros tempos (e talvez ainda) faziam com as suas casas: tinham uma sala para hipotéticas visitas, muito bonita, muito bem arranjada, com tudo o que consideravam ser do bom e do melhor, e que se esforçavam por manter sempre impecável, mas viviam quotidianamente, nas traseiras, em espaços atabalhoados, enfezados e nem sempre asseados.
Essas salas, tipo montra de uma realidade que não existia, serviam para fazer de conta. Por serem excessivas em relação às necessidades e ao estilo de vida dos sujeitos, eram sítios tratados como santuários onde não se punha os pés, onde não se vivia, mas que pareciam existir para cumprir uma função referencial ou de consolação.
Também nós, hoje em dia, vamos tendo salas de visita que tratamos de idêntica maneira. Falamos delas como se fossem a nossa casa, mas passamos o tempo em subúrbios bons para explodir, em estilos de vida desleixados, em comunidades que não têm grande sentimento de pertença e que, quando o têm, acartam o lixo para a comunidade vizinha como quem esconde a porcaria debaixo da carpete.
Alguns países do mundo impressionam pelo facto de chamarem cidades a imensos bairros de lata, sem saneamento básico, sem níveis de salubridade mínimos, sem qualquer noção de ordenamento ou organização que acabou por transmitir uma sensação caótica que, mais do que provavelmente, é a que caracteriza o estilo de vida ou de sobrevivência das populações.
Outros países, mais arrumadinhos e sofisticados, cultivam outros patamares de miséria e ignorância, como o que não se vê não existisse. Aí proliferam outros níveis de porcaria: os metais pesados no mar, os pesticidas nos alimentos, a desconsideração sistemática e tonta sobre aquilo que a comunidade cientifica diz que dstrói e mata, a nós e ao planeta.
Num nívem mais intermédio, mais próximo de nós e da nossa forma de viver e estar, o que vai existindo é uma certa quantidade de sujidade: das pessoas, das ruas, dos espaços públicos e privados que, simultaneamente, informa sobre os níveis de civilidade e cidadania dos sujeitos, sobre os padrões éticos e estáticos que perfilham, sobre a qualidade do investimento que fazem na vida em sociedade.
Curiosamente (e é mesmo curioso) verifica-se que vamos fazendo com os espaços públicos o que as pessoas pouco diferenciadas de outros tempos (e talvez ainda) faziam com as suas casas: tinham uma sala para hipotéticas visitas, muito bonita, muito bem arranjada, com tudo o que consideravam ser do bom e do melhor, e que se esforçavam por manter sempre impecável, mas viviam quotidianamente, nas traseiras, em espaços atabalhoados, enfezados e nem sempre asseados.
Essas salas, tipo montra de uma realidade que não existia, serviam para fazer de conta. Por serem excessivas em relação às necessidades e ao estilo de vida dos sujeitos, eram sítios tratados como santuários onde não se punha os pés, onde não se vivia, mas que pareciam existir para cumprir uma função referencial ou de consolação.
Também nós, hoje em dia, vamos tendo salas de visita que tratamos de idêntica maneira. Falamos delas como se fossem a nossa casa, mas passamos o tempo em subúrbios bons para explodir, em estilos de vida desleixados, em comunidades que não têm grande sentimento de pertença e que, quando o têm, acartam o lixo para a comunidade vizinha como quem esconde a porcaria debaixo da carpete.
PACO BANDEIRA - "O teu VELHO"
Uma certa nostalgia...
A amizade e o amor não se devem mendigar.
Nasce e brota naturalmente!
Minha Velha
Agora és a minha velha
que anda só e caminhando
sua tristeza infinita
de tanto seguir andando.
Para quê tanta tortura
que assaltou os meus dias
eu desculpo a loucura
que marcou a minha vida.
Velha, minha querida velha
agora caminha lenta
como perdoando o vento
eu sou o teu sangue velhota
o teu silêncio e o teu tempo.
Seus olhos são tão serenos
sua figura cansada
pela idade foi vencida
mas caminha sobre estrada.
Eu vivo os dias de hoje
em ti o passado lembra
que só a dor e o sofrimento
tem a sua história sem tempo
velha, minha querida velha.
que anda só e caminhando
sua tristeza infinita
de tanto seguir andando.
Para quê tanta tortura
que assaltou os meus dias
eu desculpo a loucura
que marcou a minha vida.
Velha, minha querida velha
agora caminha lenta
como perdoando o vento
eu sou o teu sangue velhota
o teu silêncio e o teu tempo.
Seus olhos são tão serenos
sua figura cansada
pela idade foi vencida
mas caminha sobre estrada.
Eu vivo os dias de hoje
em ti o passado lembra
que só a dor e o sofrimento
tem a sua história sem tempo
velha, minha querida velha.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Fernando Tordo canta "Adeus Tristeza"
A vida é um jogo e como qualquer jogo tem que ser jogado. Umas vezes jogamos bem e ganhamos, outras, jogamos menos bem e perdemos. O ganho e a perca fazem parte da vida. Façamos então o jogo da vida!
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Pedi ao vento
No mundo com tantas doenças
o povo com pouca crença
eu venho pedir cantando
em sentimentos diversos
eu venho pedir ao vento
dar uma volta pelo Universo.
Pedi ao vento que leve lembrança
prá minha terra
pedi ao vento que leve paz
onde há guerra
pedi ao vento que leve fartura
onde há miséria
pedi ao vento que leve um beijo
nos lábios dela.
O vento foi, o vento veio
será que o vento já me atendeu
só resta agora tu entenderes
que este vento é o nosso Deus.
Pedi ao vento que salve os jovens
perdidos na droga
pedi ao vento que espalhe no céu
o perfume da rosa
pedi ao vento que todas as nações
sejam gloriosas
pedi ao vento protecção
ao filho da mãe amorosa.
Pedi ao vento para acalmar
as ondas dos sete mares
pedi ao vento que leve harmonia
a todos os lares
pedi ao vento que leve embora
a impureza dos ares
pedi ao vento em orações
que fiz nos altares.
Pedi ao vento para nos conduzir
na estrada da vida
pedi ao vento que encontre
as crianças desaparecidas
pedi ao vento que dê ao doente
conforto e guarida
pedi ao vento que a minha prece
seja ouvida.
O Vento foi, o vento veio
será que o vento já me atendeu
só resta agora tu entenderes
que este vento é o nosso Deus.
o povo com pouca crença
eu venho pedir cantando
em sentimentos diversos
eu venho pedir ao vento
dar uma volta pelo Universo.
Pedi ao vento que leve lembrança
prá minha terra
pedi ao vento que leve paz
onde há guerra
pedi ao vento que leve fartura
onde há miséria
pedi ao vento que leve um beijo
nos lábios dela.
O vento foi, o vento veio
será que o vento já me atendeu
só resta agora tu entenderes
que este vento é o nosso Deus.
Pedi ao vento que salve os jovens
perdidos na droga
pedi ao vento que espalhe no céu
o perfume da rosa
pedi ao vento que todas as nações
sejam gloriosas
pedi ao vento protecção
ao filho da mãe amorosa.
Pedi ao vento para acalmar
as ondas dos sete mares
pedi ao vento que leve harmonia
a todos os lares
pedi ao vento que leve embora
a impureza dos ares
pedi ao vento em orações
que fiz nos altares.
Pedi ao vento para nos conduzir
na estrada da vida
pedi ao vento que encontre
as crianças desaparecidas
pedi ao vento que dê ao doente
conforto e guarida
pedi ao vento que a minha prece
seja ouvida.
O Vento foi, o vento veio
será que o vento já me atendeu
só resta agora tu entenderes
que este vento é o nosso Deus.
Sou...
Sou um jornalista por dedicação, um escriba por vocação, inquieto por opção e optimista por voluntária obrigação.
domingo, 9 de setembro de 2012
O que é que andamos a fazer?
Habituados a pensar que as crises alimentares - e, de caminho, políticas -, do terceiro mundo estão de alguma forma relacionadas com a superabundância destes produtos no chamado primeiro mundo, percebemos as afirmações de alguns dirigentes mundiais que, em plena crise, vêm dizer preto no branco que ela deve ser vista, sobretudo para África, como uma oportunidade de resolução da fome e da pobreza, que têm parecido congénitas.
Se estas podem ser as boas notícias, e se o nosso irracional optimismo nos permite olhar para a questão de uma iminente crise alimentar noutros pontos do globo que até agora não a têm sofrido como resolúvel no curto ou no médio prazo, não dá para contornar o grande mistério de tentar perceber como chegámos aqui. Como é que uma coisa destas pode estar a acontecer? Como é que numa sociedade de abundância conseguimos o novo-riquismo absurdo de deixar que o essencial falhe para que o acessório ou mesmo o supérfluo se mantenham? Como é que nos conseguimos entreter tanto, e fascinar tanto, com os dispositivos e os mecanismos que inventámos para expandir a nossa condição humana que nos esquecemos que, por debaixo dela, está, e estará sempre, uma imperial natureza humana?
De repente, a comidinha, que nos países do círculo de que, mal ou bem, fazemos parte, tem sido um adquirido indiscutível, reentrou na ordem do dia com preocupação.
É que também os países ricos têm pobres, muito pobres, e o aumento galopante de alguns preços faz prever que a fome poderá ser um fenómeno com que teremos de nos confrontar quotidianamente em vez de, como até agora, se manter circunscrito a bolsas populacionais restritas ou como tema longinquo de povos de que apenas ouvimos falar.
O facto de esta e outras situações de igual gravidade estarem a acontecer tem mesmo que nos obrigar a reflectir.
Mas que raio é que andamos a fazer?
Se estas podem ser as boas notícias, e se o nosso irracional optimismo nos permite olhar para a questão de uma iminente crise alimentar noutros pontos do globo que até agora não a têm sofrido como resolúvel no curto ou no médio prazo, não dá para contornar o grande mistério de tentar perceber como chegámos aqui. Como é que uma coisa destas pode estar a acontecer? Como é que numa sociedade de abundância conseguimos o novo-riquismo absurdo de deixar que o essencial falhe para que o acessório ou mesmo o supérfluo se mantenham? Como é que nos conseguimos entreter tanto, e fascinar tanto, com os dispositivos e os mecanismos que inventámos para expandir a nossa condição humana que nos esquecemos que, por debaixo dela, está, e estará sempre, uma imperial natureza humana?
De repente, a comidinha, que nos países do círculo de que, mal ou bem, fazemos parte, tem sido um adquirido indiscutível, reentrou na ordem do dia com preocupação.
É que também os países ricos têm pobres, muito pobres, e o aumento galopante de alguns preços faz prever que a fome poderá ser um fenómeno com que teremos de nos confrontar quotidianamente em vez de, como até agora, se manter circunscrito a bolsas populacionais restritas ou como tema longinquo de povos de que apenas ouvimos falar.
O facto de esta e outras situações de igual gravidade estarem a acontecer tem mesmo que nos obrigar a reflectir.
Mas que raio é que andamos a fazer?
Regresso às aulas - Continente 2012
Um anúncio que me deu volta à cabeça. É a minha primeira experiência em publicidade.
Não tinha ideia formada, a responsabilidade era muita e o tempo muito curto.
Aproveitando a boleia do tema do Boss AC, tudo se tornou mais fácil.
Adiciono o primeiro esboço manuscrito que serviu de base para o produto final.
sábado, 8 de setembro de 2012
Distracções
A distracção é uma inefável característica que, desgraçadamente, não conseguimos usar a bel-prazer. Era óptimo sermos capazes de nos distrairmos quando a conversa não nos interessa; quando as preocupações, umas quaisquer, das mais sérias às mais mesquinhas, se resolvem instalar em nós, perturbar-nos o sono e transformar os dias em sobressaltos cansativos. Era uma maravilha podermos desligar a atenção, desinvestir os nossos costumeiros interesses e entretermo-nos a ver a chuva a cair, a erva a crescer, as pessoas a passar na rua com a simplicidade dos eventos sem história, que apenas acontecem, sem sombras nem máculas.
Era um previlégio flutuar no tempo e na vida sem necessidade de concentrações intensas e doloridas, sem esforços permanentes para fazer render mais, ou melhor, qualquer capacidade que nos dá de comer ou nos propicia um espaço de existência que consideramos adequado.
Queríamos todos ser competentes a distanciar pensamento e emoções que nos afligem.
Ás vezes, irritados com a hiperatenção que nos habita e nos coloca em zonas de tensão e contracção como se tudo à nossa volta fosse muito importante, muito definitivo; como se tudo o que nos cerca tivesse de ser minuciosamente observado e arquivado em memória, clamamos por um qualquer estado de ignorância, embotamento ou distracção que nos permitisse a entrada numa imaginária zona de absoluta tranquilidade.
Mesmo que critiquemos os que nunca prestam atenção, os que nunca dão por coisa alguma, os que parecem viver paredes-meias com uma outra realidade mais agradável ou colorida, os que perguntam constantemente o que se passa para no momento seguinte já estarem longíssimo e alheados, temos sempre um momento em que suspiramos por uma genuína capacidade de desleixo selectivo e deliberado.
Quando nos zangamos, o que para quase todos é uma circunstância muito mais recorrente do que gostariamos, juramos a pés juntos que vamos deixar de nos ralar; que vamos adoptar uma atitude leve e descontraída; que no próximo milénio (ou pelo menos na próxima semana) nos vamos conseguir desligar de tudo o que nos mantém tensos, inquietos, responsáveis e muito preocupados.
Desgraçadamente, parece que estamos condenados a distrairmo-nos quando não queremos com o que não dá jeito, não parece útil ou não resulta frutuoso.
Era um previlégio flutuar no tempo e na vida sem necessidade de concentrações intensas e doloridas, sem esforços permanentes para fazer render mais, ou melhor, qualquer capacidade que nos dá de comer ou nos propicia um espaço de existência que consideramos adequado.
Queríamos todos ser competentes a distanciar pensamento e emoções que nos afligem.
Ás vezes, irritados com a hiperatenção que nos habita e nos coloca em zonas de tensão e contracção como se tudo à nossa volta fosse muito importante, muito definitivo; como se tudo o que nos cerca tivesse de ser minuciosamente observado e arquivado em memória, clamamos por um qualquer estado de ignorância, embotamento ou distracção que nos permitisse a entrada numa imaginária zona de absoluta tranquilidade.
Mesmo que critiquemos os que nunca prestam atenção, os que nunca dão por coisa alguma, os que parecem viver paredes-meias com uma outra realidade mais agradável ou colorida, os que perguntam constantemente o que se passa para no momento seguinte já estarem longíssimo e alheados, temos sempre um momento em que suspiramos por uma genuína capacidade de desleixo selectivo e deliberado.
Quando nos zangamos, o que para quase todos é uma circunstância muito mais recorrente do que gostariamos, juramos a pés juntos que vamos deixar de nos ralar; que vamos adoptar uma atitude leve e descontraída; que no próximo milénio (ou pelo menos na próxima semana) nos vamos conseguir desligar de tudo o que nos mantém tensos, inquietos, responsáveis e muito preocupados.
Desgraçadamente, parece que estamos condenados a distrairmo-nos quando não queremos com o que não dá jeito, não parece útil ou não resulta frutuoso.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
A mentira
Ensinamos às crianças, de pequeninas que não se mente. Que mentir é feio, que mentir é mau, que mentir nos desgosta e, em última análise, é passível de punição.
Como de costume, umas aprendem melhor que outras aquilo que pretendemos ensinar. Ou seja, uns aprendem a evitar a mentira, outros a mentir bem e muitos mais aprendem a mentir quando lhes dá jeito.
Os que aprendem a evitar a mentira, em crescidos continuam a corar e a ficar atrapalhados, a bocejar e a baixar os olhos, a emitir sinais antagónicos sempre que as palavras os encaminham para fugas àquilo que eles consideram ser a verdade dos factos.
Mentem na mesma, se quisermos ser rigorosos e precisos, mas mentem vitimizados pelas circunstâncias e aperreados por uma consciência constrangida. Movem-se, por isso, naquela estreita faixa do não dito, entre a omissão e o desvio, a mudança de conversa e as reticências tão pesads que quase se vêem. Mentem triste e atabalhoadamente, pedindo desculpas silenciosas.
Os que aprendem a mentir bem - que, acrescente-se, não são muitos - vestem o relativismo das coisas como uma segunda pele. Mentir bem quer aqui dizer não se desmascarar a cada passo nem inventar histórias inverosímeis.
Quer dizer, ser convicente e sentido, emocional e emocionado. Os bons mentirosos não são, por isso, os grandes mentirosos. Usam a mentira como lhes convém, mas parcimoniosamente e a propósito. Dir-se-ia que têm um sentido político do que deve ser dito e legitimam cada uma das suas falas com à vontade e desembaraço. Mentem artisticamente, o que, pela raridade, quase têm mérito.
A maioria de nós mente quando dá jeito e, por isso, moderadamente.
É uma gama demasiado ampla onde cabem as desculpas ocasionais, que podem ir ao esfarrapamento óbvio até às declarações de principios mais definitivas; as mentiras piedosas; a ocultação da vergonha e segredos; a defesa dos interesses importantes, e por aí fora. Sendo ampla, não é uma categoria muito original nem muito interessante, de tão estafada e conhecida.
De forma extremada e patológica existem ainda os que têm uma relação com a factualidade e, por isso, mentem compulsivamente e, por isso, mentem compulsivamente ou, pelo contrário nuncam mentem. A estes, como se percebe, não se pode responsabilizar pela manipulação que fazem da verdade.
Como de costume, umas aprendem melhor que outras aquilo que pretendemos ensinar. Ou seja, uns aprendem a evitar a mentira, outros a mentir bem e muitos mais aprendem a mentir quando lhes dá jeito.
Os que aprendem a evitar a mentira, em crescidos continuam a corar e a ficar atrapalhados, a bocejar e a baixar os olhos, a emitir sinais antagónicos sempre que as palavras os encaminham para fugas àquilo que eles consideram ser a verdade dos factos.
Mentem na mesma, se quisermos ser rigorosos e precisos, mas mentem vitimizados pelas circunstâncias e aperreados por uma consciência constrangida. Movem-se, por isso, naquela estreita faixa do não dito, entre a omissão e o desvio, a mudança de conversa e as reticências tão pesads que quase se vêem. Mentem triste e atabalhoadamente, pedindo desculpas silenciosas.
Os que aprendem a mentir bem - que, acrescente-se, não são muitos - vestem o relativismo das coisas como uma segunda pele. Mentir bem quer aqui dizer não se desmascarar a cada passo nem inventar histórias inverosímeis.
Quer dizer, ser convicente e sentido, emocional e emocionado. Os bons mentirosos não são, por isso, os grandes mentirosos. Usam a mentira como lhes convém, mas parcimoniosamente e a propósito. Dir-se-ia que têm um sentido político do que deve ser dito e legitimam cada uma das suas falas com à vontade e desembaraço. Mentem artisticamente, o que, pela raridade, quase têm mérito.
A maioria de nós mente quando dá jeito e, por isso, moderadamente.
É uma gama demasiado ampla onde cabem as desculpas ocasionais, que podem ir ao esfarrapamento óbvio até às declarações de principios mais definitivas; as mentiras piedosas; a ocultação da vergonha e segredos; a defesa dos interesses importantes, e por aí fora. Sendo ampla, não é uma categoria muito original nem muito interessante, de tão estafada e conhecida.
De forma extremada e patológica existem ainda os que têm uma relação com a factualidade e, por isso, mentem compulsivamente e, por isso, mentem compulsivamente ou, pelo contrário nuncam mentem. A estes, como se percebe, não se pode responsabilizar pela manipulação que fazem da verdade.
sábado, 1 de setembro de 2012
Oswaldo Montenegro - Lume de Estrelas
Foi com enorme regozijo que recebi o convite deste "irmão" brasileiro para lhe fazer duas letras para musicar, com vista ao seu novo CD a editar antes do Natal.
O Oswaldo Montenegro é um "monstro" da música brasileira e fico feliz por se ter lembrado de mim.
Nélia - Sai da minha vida
Foi um prazer trabalhar com a Nélia, uma luso/americana que soube dar destaque às minhas palavras. Assim dá gosto!
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