Ensinamos às crianças, de pequeninas que não se mente. Que mentir é feio, que mentir é mau, que mentir nos desgosta e, em última análise, é passível de punição.
Como de costume, umas aprendem melhor que outras aquilo que pretendemos ensinar. Ou seja, uns aprendem a evitar a mentira, outros a mentir bem e muitos mais aprendem a mentir quando lhes dá jeito.
Os que aprendem a evitar a mentira, em crescidos continuam a corar e a ficar atrapalhados, a bocejar e a baixar os olhos, a emitir sinais antagónicos sempre que as palavras os encaminham para fugas àquilo que eles consideram ser a verdade dos factos.
Mentem na mesma, se quisermos ser rigorosos e precisos, mas mentem vitimizados pelas circunstâncias e aperreados por uma consciência constrangida. Movem-se, por isso, naquela estreita faixa do não dito, entre a omissão e o desvio, a mudança de conversa e as reticências tão pesads que quase se vêem. Mentem triste e atabalhoadamente, pedindo desculpas silenciosas.
Os que aprendem a mentir bem - que, acrescente-se, não são muitos - vestem o relativismo das coisas como uma segunda pele. Mentir bem quer aqui dizer não se desmascarar a cada passo nem inventar histórias inverosímeis.
Quer dizer, ser convicente e sentido, emocional e emocionado. Os bons mentirosos não são, por isso, os grandes mentirosos. Usam a mentira como lhes convém, mas parcimoniosamente e a propósito. Dir-se-ia que têm um sentido político do que deve ser dito e legitimam cada uma das suas falas com à vontade e desembaraço. Mentem artisticamente, o que, pela raridade, quase têm mérito.
A maioria de nós mente quando dá jeito e, por isso, moderadamente.
É uma gama demasiado ampla onde cabem as desculpas ocasionais, que podem ir ao esfarrapamento óbvio até às declarações de principios mais definitivas; as mentiras piedosas; a ocultação da vergonha e segredos; a defesa dos interesses importantes, e por aí fora. Sendo ampla, não é uma categoria muito original nem muito interessante, de tão estafada e conhecida.
De forma extremada e patológica existem ainda os que têm uma relação com a factualidade e, por isso, mentem compulsivamente e, por isso, mentem compulsivamente ou, pelo contrário nuncam mentem. A estes, como se percebe, não se pode responsabilizar pela manipulação que fazem da verdade.
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