Como sabem, a miséria, a ignorância e mais umas tantas coisas da mesma antipática família vêem-se também pelos sinais que espalham à sua volta.
Alguns países do mundo impressionam pelo facto de chamarem cidades a imensos bairros de lata, sem saneamento básico, sem níveis de salubridade mínimos, sem qualquer noção de ordenamento ou organização que acabou por transmitir uma sensação caótica que, mais do que provavelmente, é a que caracteriza o estilo de vida ou de sobrevivência das populações.
Outros países, mais arrumadinhos e sofisticados, cultivam outros patamares de miséria e ignorância, como o que não se vê não existisse. Aí proliferam outros níveis de porcaria: os metais pesados no mar, os pesticidas nos alimentos, a desconsideração sistemática e tonta sobre aquilo que a comunidade cientifica diz que dstrói e mata, a nós e ao planeta.
Num nívem mais intermédio, mais próximo de nós e da nossa forma de viver e estar, o que vai existindo é uma certa quantidade de sujidade: das pessoas, das ruas, dos espaços públicos e privados que, simultaneamente, informa sobre os níveis de civilidade e cidadania dos sujeitos, sobre os padrões éticos e estáticos que perfilham, sobre a qualidade do investimento que fazem na vida em sociedade.
Curiosamente (e é mesmo curioso) verifica-se que vamos fazendo com os espaços públicos o que as pessoas pouco diferenciadas de outros tempos (e talvez ainda) faziam com as suas casas: tinham uma sala para hipotéticas visitas, muito bonita, muito bem arranjada, com tudo o que consideravam ser do bom e do melhor, e que se esforçavam por manter sempre impecável, mas viviam quotidianamente, nas traseiras, em espaços atabalhoados, enfezados e nem sempre asseados.
Essas salas, tipo montra de uma realidade que não existia, serviam para fazer de conta. Por serem excessivas em relação às necessidades e ao estilo de vida dos sujeitos, eram sítios tratados como santuários onde não se punha os pés, onde não se vivia, mas que pareciam existir para cumprir uma função referencial ou de consolação.
Também nós, hoje em dia, vamos tendo salas de visita que tratamos de idêntica maneira. Falamos delas como se fossem a nossa casa, mas passamos o tempo em subúrbios bons para explodir, em estilos de vida desleixados, em comunidades que não têm grande sentimento de pertença e que, quando o têm, acartam o lixo para a comunidade vizinha como quem esconde a porcaria debaixo da carpete.
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