Um dos temas enrodilhados que se aborda uma e outra vez chegando-se sempre a uma espécie de beco sem saída é o da gestão do dinheiro, ou, melhor, da falta de dinheiro.
É público e notório que há menos dinheiro a circular. Mesmo que os jornais e revistas mais rosados transformem em assunto o estilo de vida de alguns jogadores de futebol, uns tantos ex-políticos e um punhado raquítico de empresários de sucesso, o facto é que os cidadãos comuns vão deixando pistas sucessivas sobre o desconforto crescente de tentarem viver como já viveram noutros tempos, com bastante menos dinheiro.
Mesmo os comentários jocosos sobre "onde está a crise?" que se largam a propósito das longas filas de trânsito para as praias ou para concertos rock, dos engarrafamentos aeroportuários relacionados com jogos de futebol ou férias de Verão, não chegam para tapar a sensação de empobrecimento e degradação. São os milhares de casas e escritórios para vender ou alugar, ainda a preços desrealizados, que dão às povoações um ar fantasma; são os espaços públicos malcuidados como se tivessem sido esquecidos; são as lojas cheias de mercadoria a saldar e a liquidar fora de tempo ou, então, aslojas vazias com dizeres "venda" ou "trespassa", como se ainda fosse possível. São os restaurantes vazios a partir de uma certa altura do mês, ou ocupados a alimentar com higiénicas e acessíveis sopinhas e saladas os almoços de meio mundo; é até a bendita lei da proibição de fumar que legitima ocasionais cravanços e facilita o deixar de fumar saudável e muito mais barato.
No meio da situação e dos palpites e remédios que dirigentes e comentadores vão invocando como bons, apareceu noutro dia uma ideia peregrina que fez manchete, mereceu atenção e, de caminho, nos deu uma razoável ideia do nível de desorientação de quem é suposto manter o rumo das coisas.
A lógica é ensandecida e esmagante: alguém vai ter que pagar!
Mesmo que seja uma ideia absurda, mais uma, é também mais um prego cravado na cadeia continuada e teimosa de medidas extravagantes que eram para ser e não foram, mas que se tivesse jeito, se tivessem cabimento e sentido, se tivessem vingado e sido implementadas, seriam espertas e muito eficazes. Clarifica, bem, o que é a desorientação e explica de forma magistral o "desenrascanço" nacional que arranja um problema para resolver o anterior e assim sucessivamente.
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