sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
STOP! Vamos arrumar as ideias?
E agora que o Inverno chegou, o afã do Natal passou e como que se iniciou outra fase do ciclo, preparemo-nos para ela.
Trocado por miúdos, estas nossas cíclicas preparações para o que há-de vir são uma forma esperta, diga-se, de deitar para trás das costas o que de desagradável aconteceu. De vez em quando precisamos de arrumar o que desarrumámos, deitar fora o lixo acumulado, limpar armários de recordações e gavetas de sonhos.
Precisamos de nos centrar no hoje, de projectar o que há-de ser a próxima estação, os novos objectivos, os melhores percursos. Precisamos de nos livrar de pesos mortos, de preocupações ruminadas, de angústias recorrentes e presas a pessoas ou a acontecimentos.
Por mais que tentemos fazer de outra maneira, caímos sempre na armadilha de nos enchermos, a nós ou à nossa vida, de tarecos e inutilidades, de rancores e assuntos pendentes, de adiamentos e oportunidades goradas.
Precisamos, por isso, de tempos de paragem e arrumação mental, de intervalos de descanso ou de reorganização em que, numa espécie de faz de conta, deitemos fora, com os objectos que já não são prestáveis, os sentimentos do mesmo tipo.
Se aprendemos, mais ou menos, a encarar os acontecimentos como um fluxo contínuo que temos de gerir o melhor possível e independentemente da valoração positiva ou negativa que lhes atribuíamos, o facto é que tendemos a ficar incrustados em algum deles, como se uma dada situação imprimisse uma direcção e marcasse um caminho mais forte que nós.
Não que valha a pena assumirmos que conseguimos tudo o que temos na mão e na vontade o destino que há-de vir. A noção das proporções é capaz de não fazer mal a ninguém e servir, em muitos casos, como couraça defensiva para sonhos de glória e deslumbramentos adolescentes que acarretam muito mais frustação que prazer.
Mas, entre a desistência em nome do que já ninguém recorda e a euforia exacerbada em torno das maravilhas que hão-de vir, é provável que, com algum esforço, consigamos arranjar um espaço que nos vá bem e uma forma de estar que faça da nossa vida um acontecimento com sentido.
É por isso que, de vez em quando, como agora, paramos, arrumamos, deitamos fora, começamos novas agendas e prometemos que vamos fazer e ser diferentes e melhores.
Mesmo que ninguém note, mesmo que depois, nos tempos de balanço, não haja muito a assinalar como ganho, parece que estes cíclicos momentos de preparação para o que há-de vir são, em si mesmos, bons momentos.
Trocado por miúdos, estas nossas cíclicas preparações para o que há-de vir são uma forma esperta, diga-se, de deitar para trás das costas o que de desagradável aconteceu. De vez em quando precisamos de arrumar o que desarrumámos, deitar fora o lixo acumulado, limpar armários de recordações e gavetas de sonhos.
Precisamos de nos centrar no hoje, de projectar o que há-de ser a próxima estação, os novos objectivos, os melhores percursos. Precisamos de nos livrar de pesos mortos, de preocupações ruminadas, de angústias recorrentes e presas a pessoas ou a acontecimentos.
Por mais que tentemos fazer de outra maneira, caímos sempre na armadilha de nos enchermos, a nós ou à nossa vida, de tarecos e inutilidades, de rancores e assuntos pendentes, de adiamentos e oportunidades goradas.
Precisamos, por isso, de tempos de paragem e arrumação mental, de intervalos de descanso ou de reorganização em que, numa espécie de faz de conta, deitemos fora, com os objectos que já não são prestáveis, os sentimentos do mesmo tipo.
Se aprendemos, mais ou menos, a encarar os acontecimentos como um fluxo contínuo que temos de gerir o melhor possível e independentemente da valoração positiva ou negativa que lhes atribuíamos, o facto é que tendemos a ficar incrustados em algum deles, como se uma dada situação imprimisse uma direcção e marcasse um caminho mais forte que nós.
Não que valha a pena assumirmos que conseguimos tudo o que temos na mão e na vontade o destino que há-de vir. A noção das proporções é capaz de não fazer mal a ninguém e servir, em muitos casos, como couraça defensiva para sonhos de glória e deslumbramentos adolescentes que acarretam muito mais frustação que prazer.
Mas, entre a desistência em nome do que já ninguém recorda e a euforia exacerbada em torno das maravilhas que hão-de vir, é provável que, com algum esforço, consigamos arranjar um espaço que nos vá bem e uma forma de estar que faça da nossa vida um acontecimento com sentido.
É por isso que, de vez em quando, como agora, paramos, arrumamos, deitamos fora, começamos novas agendas e prometemos que vamos fazer e ser diferentes e melhores.
Mesmo que ninguém note, mesmo que depois, nos tempos de balanço, não haja muito a assinalar como ganho, parece que estes cíclicos momentos de preparação para o que há-de vir são, em si mesmos, bons momentos.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
sábado, 16 de novembro de 2013
FC 2000: 100 Nome - "Lança Em Mim A Moeda Ao Ar"
Esta canção do amigo Rui Machado conseguiu o 4.º lugar no Festival RTP da Canção, em 2000.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Somos minúsculos...
As muitas coisas que não podem acontecer e, no entanto, acontecem, informam-nos da fragilidade do mundo que fomos e vamos construindo.
É um mundo de equilíbrios delicados e de muito betão grosseiro, comandado por redes informáticas que colapsam porque um mteorito inconsciente rasou um satétile ou a energia eléctrica se vai abaixo por razões mais ou menos obscuras.
Somos tão complexos nuns assuntos como somos rudimentares noutros e caminhamos no fio da navalha com a leveza de quem não sabe, com rigor, o que faz, ou não mede, completamente, a extensão da consequência dos seus actos.
O que não pode acontecer, e no entanto acontece, diz-nos da exacta distância que existe entre o mundo conceptual, feito de ideias magníficas, de pensamentos organizadores e, normalmente, também grandiosos, e um mundo real atamancado como é possível.
O mundo real, ao contrário dos mundos conceptuais, não é um mundo do autor. Não tem um princípio, um meio e um fim, não ocorre em sequências lógicas, não possui estrutura narrativa, não se move carregado da louvada objectividade e nem sequer possui, as mais das vezes, uma qualquer direccionalidade.
O mundo real é um sítio estranho, mesmo que familiar, feito de paragens e de arranques bruscos, de evoluções, involuções e voltinhas para distrair, de desvios tortuosos, de negócios indizíveis. Dele, às vezes, apetece dizer que mais parece uma manta de retalhos mal amanhada.
O mundo real é um mundo de construção, desconstrução, criação e decadência permanentes e simultâneas. Um mundo que permite todas as desarrumações e desorganizações, mesmo as que não conseguimos imaginar.
As muitas coisas que não podem acontecer, e no entanto acontecem, como sejam alguns morrerem de fome ou de frio, com falta de assistência em situações extremas ou por mero desinteresse dos que estão à volta, servem para que todos os outros percebam a debilidade orgânica das nossas superestruturas hipersofisticadas. Mostram-nos a necessidade de ganharmos a distância emocional que permite a não transformação dos dias em exercícios catárticos entre a indignação, a revolta e a esperança, todas tão inconsequentes como sistemáticas.
As muitas coisas que não podem acontecer e, no entanto, acontecem e cobrem todas as instituições que criámos de ridículo e a nós próprios de vergonha, estão aí todos os dias a lembrarem-nos a nossa real dimensão.
Que é minúscula, é claro!
É um mundo de equilíbrios delicados e de muito betão grosseiro, comandado por redes informáticas que colapsam porque um mteorito inconsciente rasou um satétile ou a energia eléctrica se vai abaixo por razões mais ou menos obscuras.
Somos tão complexos nuns assuntos como somos rudimentares noutros e caminhamos no fio da navalha com a leveza de quem não sabe, com rigor, o que faz, ou não mede, completamente, a extensão da consequência dos seus actos.
O que não pode acontecer, e no entanto acontece, diz-nos da exacta distância que existe entre o mundo conceptual, feito de ideias magníficas, de pensamentos organizadores e, normalmente, também grandiosos, e um mundo real atamancado como é possível.
O mundo real, ao contrário dos mundos conceptuais, não é um mundo do autor. Não tem um princípio, um meio e um fim, não ocorre em sequências lógicas, não possui estrutura narrativa, não se move carregado da louvada objectividade e nem sequer possui, as mais das vezes, uma qualquer direccionalidade.
O mundo real é um sítio estranho, mesmo que familiar, feito de paragens e de arranques bruscos, de evoluções, involuções e voltinhas para distrair, de desvios tortuosos, de negócios indizíveis. Dele, às vezes, apetece dizer que mais parece uma manta de retalhos mal amanhada.
O mundo real é um mundo de construção, desconstrução, criação e decadência permanentes e simultâneas. Um mundo que permite todas as desarrumações e desorganizações, mesmo as que não conseguimos imaginar.
As muitas coisas que não podem acontecer, e no entanto acontecem, como sejam alguns morrerem de fome ou de frio, com falta de assistência em situações extremas ou por mero desinteresse dos que estão à volta, servem para que todos os outros percebam a debilidade orgânica das nossas superestruturas hipersofisticadas. Mostram-nos a necessidade de ganharmos a distância emocional que permite a não transformação dos dias em exercícios catárticos entre a indignação, a revolta e a esperança, todas tão inconsequentes como sistemáticas.
As muitas coisas que não podem acontecer e, no entanto, acontecem e cobrem todas as instituições que criámos de ridículo e a nós próprios de vergonha, estão aí todos os dias a lembrarem-nos a nossa real dimensão.
Que é minúscula, é claro!
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Joaquim Maneta Alhinho lançou livro «Paixões Complicadas»
Entre amigos e fiéis leitores encheu-se o salão nobre do Espaço Fortuna, em Palmela, para o lançamento do livro «Paixões Complicadas» levado à estampa pela "Chiado Editora".
Este filme retrara com fidelidade tudo quanto lá se passou. Um evento que segundo os presentes será inesquecível.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Lançamento do Livro «Paixões Complicadas» de Joaquim Maneta Alhinho
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Irmãos Verdades & Luciana Abreu - Não te esqueças de mim...outra vez!
Foi com enorme satisfação que fiz parte deste projecto de apoio à Fundação da Criança.
Uma causa mais que justa.
sábado, 27 de julho de 2013
A alegria do regresso a casa
Ao fim de um dia de trabalho, de preocupações, de luta, atirado ao mundo ilimitado de interesses e ambições, sabe bem aquela expectativa de paz, de aconchego, do nosso pequeno mundo entre quatro paredes.
Tenho uma pena infinita daqueles que não podem voltar, ou não têm tecto onde se abrigar. São como pássaros que tivessem que permanecer em vôo, sem um embalo de um ramo, ou a quentura de um ninho.
Na pressa do retorno, no fim da jornada, em plena rua, nos bancos das praças, os vultos indigentes dos que não voltam, dos que terão de ficar, dos que veêm chegar a noite, indiferentes ao estranho burburinho humano que lembra o dos pardais, nas árvores da cidade.
Então, não consigo evitar que um pensamento amargo turve o meu apressado egoísmo e uma tristeza inevitável esvoaça por momentos como uma borboleta negra que entrasse por uma janela aberta.
Todos nós, diariamente, ao entardecer, somos como marinheiros de nós mesmos; navios que se avizinham do porto de origem, ansiamos por avistar a paisagem do coração, por encontrar os que nos são queridos, os que justificam as partidas de todos os dias, o quotidiano exílio do trabalho.
Sou um homem que acha que, até nas viagens de puro prazer, a grande alegria é o regresso a casa.
Tenho uma pena infinita daqueles que não podem voltar, ou não têm tecto onde se abrigar. São como pássaros que tivessem que permanecer em vôo, sem um embalo de um ramo, ou a quentura de um ninho.
Na pressa do retorno, no fim da jornada, em plena rua, nos bancos das praças, os vultos indigentes dos que não voltam, dos que terão de ficar, dos que veêm chegar a noite, indiferentes ao estranho burburinho humano que lembra o dos pardais, nas árvores da cidade.
Então, não consigo evitar que um pensamento amargo turve o meu apressado egoísmo e uma tristeza inevitável esvoaça por momentos como uma borboleta negra que entrasse por uma janela aberta.
Todos nós, diariamente, ao entardecer, somos como marinheiros de nós mesmos; navios que se avizinham do porto de origem, ansiamos por avistar a paisagem do coração, por encontrar os que nos são queridos, os que justificam as partidas de todos os dias, o quotidiano exílio do trabalho.
Sou um homem que acha que, até nas viagens de puro prazer, a grande alegria é o regresso a casa.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Joaquim Maneta Alhinho assina pela «Chiado Editora»
É com imenso prazer que comunico aos meus amigos e leitores que assinei contrato com a «Chiado Editora» com vista à edição do romance "Paixões Complicadas".
O lançamento está previsto para o dia 5 de Outubro, com o local ainda por defenir. A Editora está a preparar um mega-lançamento com muita musicalidade e muitos colunáveis de vários meios artisticos estarão também presentes.
A certeza é que correrei todas as Fnac do País, TVs, Rádios e outros eventos se irão realizar com vista à promoção desta obra literária.
Se um dia a amiga e colega Manuela Moura Guedes me apelidou de "modesto irritante" por não aparecer nos grandes palcos, hoje, já não vai acontecer o mesmo.
Admito que vivi sempre na sombra dos grandes acontecimentos e que permiti que muitos se galvanizassem para o estrelato.
Agora, chegou a minha hora...
Vou mediatizar até à exaustão este meus 4 romances que farão parte do meu próximo livro. Depois, podem-me apelidar de "vaidoso" que não me vou importar mesmo nada.
Disse!
O lançamento está previsto para o dia 5 de Outubro, com o local ainda por defenir. A Editora está a preparar um mega-lançamento com muita musicalidade e muitos colunáveis de vários meios artisticos estarão também presentes.
A certeza é que correrei todas as Fnac do País, TVs, Rádios e outros eventos se irão realizar com vista à promoção desta obra literária.
Se um dia a amiga e colega Manuela Moura Guedes me apelidou de "modesto irritante" por não aparecer nos grandes palcos, hoje, já não vai acontecer o mesmo.
Admito que vivi sempre na sombra dos grandes acontecimentos e que permiti que muitos se galvanizassem para o estrelato.
Agora, chegou a minha hora...
Vou mediatizar até à exaustão este meus 4 romances que farão parte do meu próximo livro. Depois, podem-me apelidar de "vaidoso" que não me vou importar mesmo nada.
Disse!
quarta-feira, 10 de julho de 2013
ZAGA - Passo horas à janela
Um excelente instrumental do "cirurgião" da musica e produtor Jorge Miguel.
Agradeço à "JM Produções" e ao "Trio Clave" pelas facilidades concedidas ao Artista ZAGA.
domingo, 16 de junho de 2013
Nelia - Praia (Music Video Official)
Foi com enorme prazer que trabalhei em dois temas desta cantora luso-americana Nélia. Humilde e muito séria. Assim, vale a pena...
sábado, 15 de junho de 2013
Das vacas gordas às esqueléticas...
O nosso admirável mundo sempre foi pleno de contradições e assimetrias.
Caracteristicas essas que têm sido consideradas como bases em que assentam os mais relevantes e violentos conflitos que atravessam tempos e latitudes. Daí que o desenvolvimento civilizacional em que alinhámos a partir de uma fase a que passámos a chamar Modernidade se tenha voltado para ideias promotoras de valores conducentes ao seu esbatimento.
Essas ideias, que têm sofrido transformações e ajustamentos e não as traves-mestres da nossa organização social, mais coisa menos coisa, vão no sentido de valorizar o significado da vida e dignidades humanas.
Mesmo que depois demos conta que implementar essas ideias consensuais nas práticas quotidianas seja uma tarefa nunca acabada, o facto é que as passamos de geração em geração como boas e a maioria de nós, pelo menos de vez em quando, aflige-se de forma consequente com as contradições e assimetrias que fazem de uns seres humanos filhos e de outros enteados.
Em época assumidamente de vacas magras, talvez já esqueléticas, aparece, no entanto, um discurso estapafúrdio sobre a crise.
Alguns defendem que a crise não existe, porque as praias estão cheias, os festivais de Verão também, os iPhone e outros derivados vendem como se fossem precisos e toda a gente está na rua a passear como se não houvesse razões de preocupação.
A acrescentar aos argumentos, ainda se pode invocar as casas caras e os carros potentes que se continuam a vender bem e, já agora, as lojas cheias nos saldos, os centros comerciais sempre a crescer, os restaurantes e os espectáculos que vão tendo público.
Isto para não falar nos ordenados dos gestores públicos ou dos futebolistas, de uma ou outra festa de arromba ou das viagens que algumas pessoas populares fazem nas férias.
Por qualquer extraordinária razão, agarra-se nas sitauações que exemplificam o excepcional ou o estouvado para generalizar e não concluir o óbvio: que hoje como sempre continuam a existir de forma acentuada contradições e assimetrias.
Caracteristicas essas que têm sido consideradas como bases em que assentam os mais relevantes e violentos conflitos que atravessam tempos e latitudes. Daí que o desenvolvimento civilizacional em que alinhámos a partir de uma fase a que passámos a chamar Modernidade se tenha voltado para ideias promotoras de valores conducentes ao seu esbatimento.
Essas ideias, que têm sofrido transformações e ajustamentos e não as traves-mestres da nossa organização social, mais coisa menos coisa, vão no sentido de valorizar o significado da vida e dignidades humanas.
Mesmo que depois demos conta que implementar essas ideias consensuais nas práticas quotidianas seja uma tarefa nunca acabada, o facto é que as passamos de geração em geração como boas e a maioria de nós, pelo menos de vez em quando, aflige-se de forma consequente com as contradições e assimetrias que fazem de uns seres humanos filhos e de outros enteados.
Em época assumidamente de vacas magras, talvez já esqueléticas, aparece, no entanto, um discurso estapafúrdio sobre a crise.
Alguns defendem que a crise não existe, porque as praias estão cheias, os festivais de Verão também, os iPhone e outros derivados vendem como se fossem precisos e toda a gente está na rua a passear como se não houvesse razões de preocupação.
A acrescentar aos argumentos, ainda se pode invocar as casas caras e os carros potentes que se continuam a vender bem e, já agora, as lojas cheias nos saldos, os centros comerciais sempre a crescer, os restaurantes e os espectáculos que vão tendo público.
Isto para não falar nos ordenados dos gestores públicos ou dos futebolistas, de uma ou outra festa de arromba ou das viagens que algumas pessoas populares fazem nas férias.
Por qualquer extraordinária razão, agarra-se nas sitauações que exemplificam o excepcional ou o estouvado para generalizar e não concluir o óbvio: que hoje como sempre continuam a existir de forma acentuada contradições e assimetrias.
sábado, 8 de junho de 2013
Ritmo do amor
É isto que e o povo gosta? Então, aqui vai...
Ao ritmo do amor.
Uma pequena falha na entrada para o instrumental não desvaloriza o trabalho de um verdadeiro artista.
Podia ter-se repetido, mas o ZAGA entendeu que a originalidade marca pontos.
É como o algodão...Não engana!
Ao ritmo do amor.
Uma pequena falha na entrada para o instrumental não desvaloriza o trabalho de um verdadeiro artista.
É como o algodão...Não engana!
Desorganizados, Trapalhões e Desarrumados
A organização, seja do que for, é um permanente esforço de luta contra o caos. Nessa medida, é também, de um ponto de vista colectivo e global, o garante da existência das sociedades humanas com as suas múltiplas e diversas culturas e civilizações.
De um ponto de vista mais individualizado, sabemos todos que a nossa própria organização - das ideias em primeiro lugar, e depois das tarefas, das rotinas, das prioridades, dos afectos, dos espaços, dos objectos - é, se não uma condição de sobrevivência, pelo menos um instrumento poderoso da gestão de uma vida que se quer de alguma qualidade.
Enquanto povo, temos fama e proveito de sermos desorganizados. Se somos do mais eficaz que se pode encontrar em situações de crise e de ruptura, se nos desenvencilhamos como ninguém em situações muito difíceis ou problemáticas, se quando tudo está perdido conseguimos descobrir a luz ao fundo do túnel, parece que no quotidiano somos trapalhões, dessarrumados, confundindo de forma sistemática e descarada a nuvem com Juno.
Como entretanto a vida não é um filme de acção, daqueles em que o relógio ou a ampulheta aparecem a assinalar o escoar de um tempo limitado, em que a situação ou mesmo o mundo é salvo no último minuto, temos dificuldades sérias em parecermos, e sermos, pessoas descontraídas que sabem o que têm a fazer, e o fazem, sem excessivos sobressaltos nem necessidade de rasgos espectaculares.
Porque a vida não tem que ser, nem deve ser, uma luta contra moinhos de vento, fica deslocado o clima de combate, resistência, guerrilha urbana e o mais que se verifica a propósito de tudo e nada.
Na actual circunstância, em que um conjunto de mudanças tem que ser feito de forma a adequar estruturas poeirentas e rançosas a realidades excessivamente lubrificadas, o que emerge, o que põe toda a gente à beira de um ataque de nervos, é a óbvia desorganização.
O diz-que-diz, o anda-para-a-frente e depois-para-trás ou para-o-lado, o embandeirar-em-arco com coisas miúdas, o tentar controlar através de procedimentos que enfermam dos mesmos defeitos do que se tenta mudar, resultam como se vê: mal.
Nota: Esta crónica não se está em concordância com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Joaquim Maneta Alhinho
De um ponto de vista mais individualizado, sabemos todos que a nossa própria organização - das ideias em primeiro lugar, e depois das tarefas, das rotinas, das prioridades, dos afectos, dos espaços, dos objectos - é, se não uma condição de sobrevivência, pelo menos um instrumento poderoso da gestão de uma vida que se quer de alguma qualidade.
Enquanto povo, temos fama e proveito de sermos desorganizados. Se somos do mais eficaz que se pode encontrar em situações de crise e de ruptura, se nos desenvencilhamos como ninguém em situações muito difíceis ou problemáticas, se quando tudo está perdido conseguimos descobrir a luz ao fundo do túnel, parece que no quotidiano somos trapalhões, dessarrumados, confundindo de forma sistemática e descarada a nuvem com Juno.
Como entretanto a vida não é um filme de acção, daqueles em que o relógio ou a ampulheta aparecem a assinalar o escoar de um tempo limitado, em que a situação ou mesmo o mundo é salvo no último minuto, temos dificuldades sérias em parecermos, e sermos, pessoas descontraídas que sabem o que têm a fazer, e o fazem, sem excessivos sobressaltos nem necessidade de rasgos espectaculares.
Porque a vida não tem que ser, nem deve ser, uma luta contra moinhos de vento, fica deslocado o clima de combate, resistência, guerrilha urbana e o mais que se verifica a propósito de tudo e nada.
Na actual circunstância, em que um conjunto de mudanças tem que ser feito de forma a adequar estruturas poeirentas e rançosas a realidades excessivamente lubrificadas, o que emerge, o que põe toda a gente à beira de um ataque de nervos, é a óbvia desorganização.
O diz-que-diz, o anda-para-a-frente e depois-para-trás ou para-o-lado, o embandeirar-em-arco com coisas miúdas, o tentar controlar através de procedimentos que enfermam dos mesmos defeitos do que se tenta mudar, resultam como se vê: mal.
Nota: Esta crónica não se está em concordância com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Joaquim Maneta Alhinho
sábado, 1 de junho de 2013
segunda-feira, 15 de abril de 2013
As heranças
Uma das mais antigas e arreigadas tradições nas sociedades humanas diz respeito às regras de sucessão e herança.
De facto, todos os tempos cultivaram, como denodo, artefactos de manutenção da propriedade para lá do normal periodo de vida, como se a morte não fosse um fim.
Mesmo sabendo todos nós que um dia desapareceremos, o facto é que, quer enquanto índividuos quer enquanto grupos, funcionamos numa lógica de acumulação, como se o que juntamos, o que adquirimos como propriedades e bens, tivesse um qualquer poder supletivo, nesta e noutras vidas.
Entretemo-nos, agora como sempre, a encontrar segurança e poder numa qualquer ideia de enriquecimento em vida e a atribuir um qualquer controlo remoto ao seu destino, quando já não peretencermos a este plano de existência.
Neste curioso exercício, primeiro de acumulação e depois de controlo da sucessão, parece que ganhamos mais tempo ou margem de manobra. Parece que juntamos mais um grão de imortalidade na afirmação transgeracional de que fomos, fizemos obra ou deixámos marca.
Deixar aos filhos, ou a outros dilectos, instrumentos de vantagem para o curso das suas próprias vidas pareceria assegurar gratidões mais extensas e memórias mais favoráveis, como se fosse necessário e fizesse algum sentido negociar e garantir a nossa presença em gerações vindouras.
Para lá desta perspectiva pessoal que move os indivíduos no desejo de deixarem herança, há a circunstância visível de quase todas elas acabarem por ser presentes envenedados ou maldições familiares.
nada resulta tão desagregante e disruptivo para laços estabelecidos sob o primado da paridade e do afecto como dividir despojos. Independentemente do valor do que está em jogo, emergem competições e conflitos, diferenças irreconciliáveis até aí disfarçados, juízos de valor sobre intenções escondidas e tudo o mais que nem se sabia que existia.
Se ainda não se descobriu nenhum meio simpático de dar destino ao que perdeu o dono, talvez estivesse em tempo de questionar a lógica instituída deste sistema tão arcaico como perverso.
De facto, todos os tempos cultivaram, como denodo, artefactos de manutenção da propriedade para lá do normal periodo de vida, como se a morte não fosse um fim.
Mesmo sabendo todos nós que um dia desapareceremos, o facto é que, quer enquanto índividuos quer enquanto grupos, funcionamos numa lógica de acumulação, como se o que juntamos, o que adquirimos como propriedades e bens, tivesse um qualquer poder supletivo, nesta e noutras vidas.
Entretemo-nos, agora como sempre, a encontrar segurança e poder numa qualquer ideia de enriquecimento em vida e a atribuir um qualquer controlo remoto ao seu destino, quando já não peretencermos a este plano de existência.
Neste curioso exercício, primeiro de acumulação e depois de controlo da sucessão, parece que ganhamos mais tempo ou margem de manobra. Parece que juntamos mais um grão de imortalidade na afirmação transgeracional de que fomos, fizemos obra ou deixámos marca.
Deixar aos filhos, ou a outros dilectos, instrumentos de vantagem para o curso das suas próprias vidas pareceria assegurar gratidões mais extensas e memórias mais favoráveis, como se fosse necessário e fizesse algum sentido negociar e garantir a nossa presença em gerações vindouras.
Para lá desta perspectiva pessoal que move os indivíduos no desejo de deixarem herança, há a circunstância visível de quase todas elas acabarem por ser presentes envenedados ou maldições familiares.
nada resulta tão desagregante e disruptivo para laços estabelecidos sob o primado da paridade e do afecto como dividir despojos. Independentemente do valor do que está em jogo, emergem competições e conflitos, diferenças irreconciliáveis até aí disfarçados, juízos de valor sobre intenções escondidas e tudo o mais que nem se sabia que existia.
Se ainda não se descobriu nenhum meio simpático de dar destino ao que perdeu o dono, talvez estivesse em tempo de questionar a lógica instituída deste sistema tão arcaico como perverso.
sábado, 30 de março de 2013
Entrada do artista ZAGA
Com muito amadorismo à mistura ficou desta forma. Arcaico... mas verdadeiro!
Uma verdadeira obra de arte. Digo eu...
segunda-feira, 25 de março de 2013
Com responsabilidade, reclame!
Por ínvias razões, fala-se muito mais do direito que as pessoas têm a reclamar do que propriamente do dever de cidadania que é fazer com que tudo o que é mal feito, despropositado ou fora de regra chegue ao conhecimento de quem tem responsabilidades tutelares.
Se não quiserem pôr as coisas em termos de cidadania, ponham-nas em termos da qualidade dos consumidores que, não sendo a mesma coisa, para o caso vertente tem um razoável efeito prático semelhante.
De facto, se são muitos os que, volta em vez, argumentam e refilam em situações em que se sentem injustiçados, enganados ou maltratados e falam mais alto, dizem o que devem e o que não devem e aproveitam incidentes quotidianos para expulsar de uma assentada frustrações acumuladas, são muito poucos os que se dão ao trabalho de pedir um livro de reclamações, escrever uma carta ou mandar um mail em que o desconforto experimentado é alinhavado em meia dúzia de frases explicativas.
Os argumentos habituais para justificar a quase ausência de reclamações pensadas e escritas (em vez das múltiplas discussões de guichê ou quase insultos a funcionários cansados, mesmo que patéticos) vão desde o "não vale a pena, já que não acontece nada", ao "não tenho jeito para escrever", passando pelo extraordinário "tenho mais que fazer" e continuando por diversas fórmulas de medos, uns de represálias, que, sobretudo em prestações de serviços muito especializadas, pairam em fundo, outros de enfrentar funcionários hiperzelosos que não os têm.
O não hábito de reclamar da forma que está definida para o efeito propícia a distância brutal que existe entre a representação que vamos que vamos adquirindo pessoalmente sobre o funcionamento do nosso pequeno mundo, a partir das nossas próprias experiências e do que vamos ouvindo nos círculos em que nos movemos, e o que depois os serviços e as empresas propagandeiam a seu próprio respeito. Do ponto de vista delas, o cliente está sempre em primeiro lugar e um dos objectivos estratégicos, do grande banco à pequena mercearia de bairro, é de que percebamos que existem para nos servir e, nesse sentido, se preocupam connosco, pensam no nosso bem-estar e fazem tudo o que é possível para agradar. Para confirmar isso mesmo, têm as avaliações muito bem pensadas e suficientemente generalistas para caber quase tudo na categoria do "não se aplica" e, com que resta, terem umas estatísticas que são a prova provada da satisfação dos clientes.
Como entretanto não há queixas nem reclamações directas para justificar uma maior atenção, os reclamantes habituais entram directamente na categoria de "chatos" e descobrimos um dia, por acaso, que vivemos no melhor dos mundos porque ninguém se queixa.
Apetece-me um slogan: "Seja responsável, reclame!"
Se não quiserem pôr as coisas em termos de cidadania, ponham-nas em termos da qualidade dos consumidores que, não sendo a mesma coisa, para o caso vertente tem um razoável efeito prático semelhante.
De facto, se são muitos os que, volta em vez, argumentam e refilam em situações em que se sentem injustiçados, enganados ou maltratados e falam mais alto, dizem o que devem e o que não devem e aproveitam incidentes quotidianos para expulsar de uma assentada frustrações acumuladas, são muito poucos os que se dão ao trabalho de pedir um livro de reclamações, escrever uma carta ou mandar um mail em que o desconforto experimentado é alinhavado em meia dúzia de frases explicativas.
Os argumentos habituais para justificar a quase ausência de reclamações pensadas e escritas (em vez das múltiplas discussões de guichê ou quase insultos a funcionários cansados, mesmo que patéticos) vão desde o "não vale a pena, já que não acontece nada", ao "não tenho jeito para escrever", passando pelo extraordinário "tenho mais que fazer" e continuando por diversas fórmulas de medos, uns de represálias, que, sobretudo em prestações de serviços muito especializadas, pairam em fundo, outros de enfrentar funcionários hiperzelosos que não os têm.
O não hábito de reclamar da forma que está definida para o efeito propícia a distância brutal que existe entre a representação que vamos que vamos adquirindo pessoalmente sobre o funcionamento do nosso pequeno mundo, a partir das nossas próprias experiências e do que vamos ouvindo nos círculos em que nos movemos, e o que depois os serviços e as empresas propagandeiam a seu próprio respeito. Do ponto de vista delas, o cliente está sempre em primeiro lugar e um dos objectivos estratégicos, do grande banco à pequena mercearia de bairro, é de que percebamos que existem para nos servir e, nesse sentido, se preocupam connosco, pensam no nosso bem-estar e fazem tudo o que é possível para agradar. Para confirmar isso mesmo, têm as avaliações muito bem pensadas e suficientemente generalistas para caber quase tudo na categoria do "não se aplica" e, com que resta, terem umas estatísticas que são a prova provada da satisfação dos clientes.
Como entretanto não há queixas nem reclamações directas para justificar uma maior atenção, os reclamantes habituais entram directamente na categoria de "chatos" e descobrimos um dia, por acaso, que vivemos no melhor dos mundos porque ninguém se queixa.
Apetece-me um slogan: "Seja responsável, reclame!"
sábado, 16 de março de 2013
domingo, 10 de março de 2013
ZAGA - «Uma genuína obra de arte» (Joaquim Maneta Alhinho)
Para quem peguntava há muito tempo a razão do nome ZAGA, aqui vai:
Zé-ninguém Alegre com Garra de Artista.
Nem mais...
Nem mais...
sábado, 9 de março de 2013
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
sábado, 16 de fevereiro de 2013
ZAGA - O Cantor Latino da Actualidade
Como é que de uma personagem ficticia se viria a tornar um caso sério da música portuguesa!
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Necessidades fabricadas
A indústria do entretenimento é uma das mais poderosas do mundo.
Inexplicávelmente é uma indústria que apenas três ou quatro países levam a sério e cultivam com o mesmo empenho com que os nossos ancestrais se dedicaram a fazer proliferar novas actividades. Também é verdade que foram poucos os que apostaram nas Descobertas e que acharam, na altura, que trazer chá, canela ou pimenta do outro lado do mundo era o jackpot que depois se verificou.
Mas parece que, numa compreensível e atávica angústia relacionada com o interesse e utilidade intrínsecos do que se faz, são muitos mais os que preferem intervir em processos, ou produzir produtos de primeira necessidade, do que aqueles que apostam sem medo no que é, objectivamente, supérfluo.
Claro que o supérfluo tem que se diga.
Dando de barato o chá, a canela ou a pimenta, quem é capaz de sustentar que carros pessoais, auto-estradas, casas de praia e no campo, roupas novas todas as estações, cosméticos, enlatados, rações para animais, dúzias de aparelho electrodomésticos, computadores pessoais, iPods, milhares de produtos sortidos que atafulham grandes superfícies são de primeira necessidade?
Quem é que defende que viveríamos pior se não tivéssemos água engarrafada, sumos e refrigerantes de todas as cores, pratos pré-cozinhados, dúzias de marcas de iogurtes, cereais, gelados ou bolachas? Quem é que acha que seria sumamente infeliz se não tivesse acesso às frutas, peixes e carnes de lugares distantes?
Ou seja, vivemos num tempo em que, assumidamente, estamos mergulhados em necessidades fabricadas, em produtos de valor intrínseco mais que discutível, em indústrias que só são importantes porque existem e movimentam pessoas e dinheiro.
Sabemos que alguns entretenimentos afectam a nossa vida quotidiana - o futebol, por exemplo -, mas endossamo-los para a categoria "desporto", como se isso lhe desse uma dignidade diferente.
Quando habitamos fora das cidades, queixamo-nos da falta de oferta cultural, um modo elegante de dizer que não há espectáculos, entretenimento, suficiente para as nossas eventuais necessidades.
E, no entanto, o outrora esplendoroso cinema europeu definha, os compositores e músicos europeus não passam nas rádios nem nas televisões, os teatros mais intelectualizados ou mais populares não são estimulados, as iniciativas amadoras são mal amadas ou olhadas com sobranceria.
No pressuposto que não conseguimos fazer melhor do que os que estão na indústria do entretenimento há mais tempo, não fazemos ou caímos numa contra-atitude elitista, muito preocupada com a qualidade cultural, que é como quem diz "estão verdes, não prestam" ou, melhor, "chapéu há muitos".
Inexplicávelmente é uma indústria que apenas três ou quatro países levam a sério e cultivam com o mesmo empenho com que os nossos ancestrais se dedicaram a fazer proliferar novas actividades. Também é verdade que foram poucos os que apostaram nas Descobertas e que acharam, na altura, que trazer chá, canela ou pimenta do outro lado do mundo era o jackpot que depois se verificou.
Mas parece que, numa compreensível e atávica angústia relacionada com o interesse e utilidade intrínsecos do que se faz, são muitos mais os que preferem intervir em processos, ou produzir produtos de primeira necessidade, do que aqueles que apostam sem medo no que é, objectivamente, supérfluo.
Claro que o supérfluo tem que se diga.
Dando de barato o chá, a canela ou a pimenta, quem é capaz de sustentar que carros pessoais, auto-estradas, casas de praia e no campo, roupas novas todas as estações, cosméticos, enlatados, rações para animais, dúzias de aparelho electrodomésticos, computadores pessoais, iPods, milhares de produtos sortidos que atafulham grandes superfícies são de primeira necessidade?
Quem é que defende que viveríamos pior se não tivéssemos água engarrafada, sumos e refrigerantes de todas as cores, pratos pré-cozinhados, dúzias de marcas de iogurtes, cereais, gelados ou bolachas? Quem é que acha que seria sumamente infeliz se não tivesse acesso às frutas, peixes e carnes de lugares distantes?
Ou seja, vivemos num tempo em que, assumidamente, estamos mergulhados em necessidades fabricadas, em produtos de valor intrínseco mais que discutível, em indústrias que só são importantes porque existem e movimentam pessoas e dinheiro.
Sabemos que alguns entretenimentos afectam a nossa vida quotidiana - o futebol, por exemplo -, mas endossamo-los para a categoria "desporto", como se isso lhe desse uma dignidade diferente.
Quando habitamos fora das cidades, queixamo-nos da falta de oferta cultural, um modo elegante de dizer que não há espectáculos, entretenimento, suficiente para as nossas eventuais necessidades.
E, no entanto, o outrora esplendoroso cinema europeu definha, os compositores e músicos europeus não passam nas rádios nem nas televisões, os teatros mais intelectualizados ou mais populares não são estimulados, as iniciativas amadoras são mal amadas ou olhadas com sobranceria.
No pressuposto que não conseguimos fazer melhor do que os que estão na indústria do entretenimento há mais tempo, não fazemos ou caímos numa contra-atitude elitista, muito preocupada com a qualidade cultural, que é como quem diz "estão verdes, não prestam" ou, melhor, "chapéu há muitos".
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Ze Ramalho - Negro Amor (And It's All Over Now, Baby Blue)
O cantor Zé Ramalho é pouco conhecido em Portugal, e é pena, pois trata-se de um "filósofo" da vida, um grande poeta universal e acima de tudo um interprete com um vozeirão de fazer tremer a calçada. Eu gosto...
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Desalento versus Optimismo
Vivemos num país lindíssimo. Claro que existem muitos outros países bonitos. Uns em belezas naturais, outros com cidades notáveis nas suas arquitecturas antigas ou muito modernas; alguns em que a História se cheira e nos acompanha nas ruas; outros que parecem destinados a férias permanentes. Há países habitados por povos muito simpáticos; outros com uma gastronomia que nos desenha roteiros; outros tão exóticos que só lá estar já é uma aventura; outros tão cosmopolitas que nos sentimos em banho cultural.
Mas, não retirando o mérito e a beleza aos que o têm, e comparando-os, obviamente, com países de idêntica dimensão, sempre se tem de concluir que a nossa mistura, mesmo desarrumada, tem encanto.
Há o mar ali sempre perto, há a luminosidade dos dias, que é um bem sem preço, há gente calorosa, comida bem feita, vinho saboroso, monumentos a pontuar as vistas quanto baste. Há uma paisagem que muda, permitindo-nos a sensação de, num só dia, viver muitos sítios e muitas experiências.
Já agora, em que se está a gabar o garbo cá da terra, diga-se que se encontram detalhes memoráveis: igrejinhas, hotéis de charme, lugares bem conservados, com um toque de requinte de outros tempos.
Posto isto, vamos ao resto, ao enorme resto, que suscita desolação e que é mais notório em período de férias, em que a dispersão das pessoas e a interrupção dos ritmos normais facilita a contemplação e a emergência de outros olhares.
As cidades, as vilas, os lugarejos, quase todos, são locais de uma decadência que escorre dos letreiros de vende-se e aluga-se; das lojas fechadas ou a trespasse; dos taipais nas janelas; dos milhares de edifícios antigos ao abandono, e os novos, sobretudo os que se dizem de escritórios, com ar de que não hão-de chegar a velhos, porque ninguém lhes pega. Depois, há os jardins maltratados; os caixotes do lixo, ladeados por entulho, à beira das estradas; os muitos subúrbios cheios de rotundas absurdas ou de obras de engenharia, ridículas, a tornear zonas candidatas a indiscutível implosão.
Mesmo o que está habituado e em uso tem, por regra, falta de tinta, falta de gosto, falta de investimento; ou. então, é arrumado, limpo, bonitinho e choca terrivelmente com tudo o resto, que o não é.
Deste quadro de decadência que todos vemos, sobressai depois o optimismo de alguns, que continuam a construir estradas paralelas às que já existem e novos condomínios, prefrencialmente de luxo, com nomes fabulosos.
Será que vemos todos o mesmo?
Mas, não retirando o mérito e a beleza aos que o têm, e comparando-os, obviamente, com países de idêntica dimensão, sempre se tem de concluir que a nossa mistura, mesmo desarrumada, tem encanto.
Há o mar ali sempre perto, há a luminosidade dos dias, que é um bem sem preço, há gente calorosa, comida bem feita, vinho saboroso, monumentos a pontuar as vistas quanto baste. Há uma paisagem que muda, permitindo-nos a sensação de, num só dia, viver muitos sítios e muitas experiências.
Já agora, em que se está a gabar o garbo cá da terra, diga-se que se encontram detalhes memoráveis: igrejinhas, hotéis de charme, lugares bem conservados, com um toque de requinte de outros tempos.
Posto isto, vamos ao resto, ao enorme resto, que suscita desolação e que é mais notório em período de férias, em que a dispersão das pessoas e a interrupção dos ritmos normais facilita a contemplação e a emergência de outros olhares.
As cidades, as vilas, os lugarejos, quase todos, são locais de uma decadência que escorre dos letreiros de vende-se e aluga-se; das lojas fechadas ou a trespasse; dos taipais nas janelas; dos milhares de edifícios antigos ao abandono, e os novos, sobretudo os que se dizem de escritórios, com ar de que não hão-de chegar a velhos, porque ninguém lhes pega. Depois, há os jardins maltratados; os caixotes do lixo, ladeados por entulho, à beira das estradas; os muitos subúrbios cheios de rotundas absurdas ou de obras de engenharia, ridículas, a tornear zonas candidatas a indiscutível implosão.
Mesmo o que está habituado e em uso tem, por regra, falta de tinta, falta de gosto, falta de investimento; ou. então, é arrumado, limpo, bonitinho e choca terrivelmente com tudo o resto, que o não é.
Deste quadro de decadência que todos vemos, sobressai depois o optimismo de alguns, que continuam a construir estradas paralelas às que já existem e novos condomínios, prefrencialmente de luxo, com nomes fabulosos.
Será que vemos todos o mesmo?
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Velhos...Mas não trapos!
Com um bocado de sorte chegaremos a velhos. A alternativa é irmos ficando pelo caminho, o que, se para alguns dos mais jovens é capaz de parecer uma boa possibilidade, para muitos outros, de qualquer idade, é uma perspectiva pouco atraente: porque a perspectiva que se tem do ciclo de vida implica chegar a netos e a bisnetos; porque se empurra com a barriga, para um futuro longínquo, mil coisas que se gostaria de fazer e conhecer; porque se tem uma imensa curiosidade sobre o mundo que há-de vir; porque se detesta a ideia de fim, acabamento ou morte; em última análise, porque sim.
Por outras palavras, lado a lado com uns tantos que fazem uma negação maciça do envelhecimento - eventualmente porque projectam neles um declínio e uma decadência que temem - existem os outros todos que, consideradas todas as possiblidades, concluem, nem que seja nem que seja por exclusão de partes, que nem é mau de todo. Ou como dizia um miudinho um destes dias a propósito deste mesmo assunto: "embora lá".
Esta assumpção deve ter como consequência uma observação mais atenta da forma como nós próprios e o mundo que nos rodeia trata os nossos idosos. Entre muitas outras situações, deixem-me destacar duas que testemunho frequentemente.
A primeira, que imagino ser do desconhecimento geral, é que no Estado os professores universitários quando se jubilam (reformam por limite de idade), mesmo que queiram, mesmo que estejam - como é desejável que esteja hoje uma pessoa de setenta anos - na posse de todas as capacidades úteis ao desempenho da sua função, têm que ter autorização do primeiro-ministro para continuar qualquer actividade, mesmo que seja a título gratuito.
A complicação burocrática chega e sobra para fazer desistir qualquer um. Assim, de um dia par o outro, se descartam pessoas com um valor acumulado intrínseco extraordinário. Chama-se a isto um enorme desperdício.
Outra situação, muito diferente, ocorre no sistema de saúde, mas também nas famílias, quando uma pessoa idosa adoece. Assume-se (leia-se, assumem alguns) que por vezes é velha e começa a sair do prazo de validade não vale a pena desperdiçar muito tempo, dinheiro ou recursos com os tratamentos mais adequados. Ainda que toda a vida tenha feito enormes descontos para garantir cuidados quando precisasse, a atitude circundante anula os planos feitos e passa-se a um discurso inclassificável sobre a relação custo-benefício de qualquer intervenção.
Em vez de se ter em conta os interesses dos sujeitos em situação, deambula-se por ideias feitas sobre o valor social dos velhos que, infelizmente é - com rarísimas e notáveis excepções - próximo do nulo.
Estes são apenas dois, entre muitos outros exemplos que poderíamos dar, sobre a forma como tratamos os nossos idosos, exemplos que dão o testemunho daquilo que nós somos, como pessoas e como sociedade.
Nota: Todas as crónicas publicadas neste blogue não estão em consonãncia com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Joaquim Maneta Alhinho
Por outras palavras, lado a lado com uns tantos que fazem uma negação maciça do envelhecimento - eventualmente porque projectam neles um declínio e uma decadência que temem - existem os outros todos que, consideradas todas as possiblidades, concluem, nem que seja nem que seja por exclusão de partes, que nem é mau de todo. Ou como dizia um miudinho um destes dias a propósito deste mesmo assunto: "embora lá".
Esta assumpção deve ter como consequência uma observação mais atenta da forma como nós próprios e o mundo que nos rodeia trata os nossos idosos. Entre muitas outras situações, deixem-me destacar duas que testemunho frequentemente.
A primeira, que imagino ser do desconhecimento geral, é que no Estado os professores universitários quando se jubilam (reformam por limite de idade), mesmo que queiram, mesmo que estejam - como é desejável que esteja hoje uma pessoa de setenta anos - na posse de todas as capacidades úteis ao desempenho da sua função, têm que ter autorização do primeiro-ministro para continuar qualquer actividade, mesmo que seja a título gratuito.
A complicação burocrática chega e sobra para fazer desistir qualquer um. Assim, de um dia par o outro, se descartam pessoas com um valor acumulado intrínseco extraordinário. Chama-se a isto um enorme desperdício.
Outra situação, muito diferente, ocorre no sistema de saúde, mas também nas famílias, quando uma pessoa idosa adoece. Assume-se (leia-se, assumem alguns) que por vezes é velha e começa a sair do prazo de validade não vale a pena desperdiçar muito tempo, dinheiro ou recursos com os tratamentos mais adequados. Ainda que toda a vida tenha feito enormes descontos para garantir cuidados quando precisasse, a atitude circundante anula os planos feitos e passa-se a um discurso inclassificável sobre a relação custo-benefício de qualquer intervenção.
Em vez de se ter em conta os interesses dos sujeitos em situação, deambula-se por ideias feitas sobre o valor social dos velhos que, infelizmente é - com rarísimas e notáveis excepções - próximo do nulo.
Estes são apenas dois, entre muitos outros exemplos que poderíamos dar, sobre a forma como tratamos os nossos idosos, exemplos que dão o testemunho daquilo que nós somos, como pessoas e como sociedade.
Nota: Todas as crónicas publicadas neste blogue não estão em consonãncia com o Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.
Joaquim Maneta Alhinho
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