terça-feira, 21 de outubro de 2014

A fantasia da fuga

Uma das fantasias recorrentes das pessoas cansadas, fartas da vida que levam e de uma sequência de dias sem graça nem luz, é a de poderem fugir.
A fantasia da fuga não é só de crianças que se sentem mal-amadas ou de adolescentes zangados com limites que lhes tentam impor.
Também não tem que ver com aqueles que assumidamente querem partir em busca de uma vida melhor, de maior riqueza ou perseguindo um sonho que tem um nome e um destino certo.
Esta ideia, esta ida em fuga para um lugar distante, obedece ao pressuposto de que há um sítio algures em que é possível estar melhor ou até bem. Como se a distância ou a geografia encerrassem uma qualquer magia curandeira.
Os lugares de refúgio idealizados, contra todas as expectativas, não são praias turísticas nas Caraíbas, cidades futuristas, estâncias requintadas ou grandes metrópoles de encontro de culturas.
Os lugares de fuga, de reparação de dores íntimas ou de recuperação de sentidos de vida costumam ser sítios longínquos, não tanto pela geografia, mas sobretudo pela distância cultural, pelo arcaísmo estrutural ou pelo estado de desgraça geral.
Fugir para longe, procurar uma outra forma de estar é, paradoxalmente, quase sempre feito no sentido da busca de mundos pouco desenvolvidos e quase sem recursos.
Como se terras sofridas e gentes de baixa condição de vida permitissem valorizar o que se tem, o que se é, e passa despercebido ou é ignorado entre iguais.
Enquanto os que querem partir para um sítio determinado em busca de riqueza ou esplendor partem mesmo, os outros sonham acordados, imaginam incansavelmente e quedam-se no mesmo lugar, ameaçando a fuga, invocando o cansaço, inventando razões para ficar, descobrindo legitimidades claras para justificar partir.
Ainda assim, a fantasia da fuga, a ideia persistente de que há sempre uma porta de saída, um sítio que espera por nós e em que tudo ficará bem para sempre, não é uma inutilidade entre outras.
Pelo contrário, é o acreditar – ainda que leve, muito levemente – que se permanece porque se quer, que mais um dia ou dois talvez não façam grande diferença no eventual grande destino que lá longe se poderia ter, e serve de anteparo à frustração e de defesa a maiores depressões.
É sempre bom ter um lugar ou um sonho de recurso.


Joaquim Maneta Alhinho

domingo, 24 de agosto de 2014

Não somos folhas ao vento...


Diz-se que a vida moderna é, por demais, cansativa e stressante. E é.
Mesmo sendo verdade que a maioria de nós não tem de se confrontar com esforços físicos duríssimos, o que cansa e desgasta costuma andar à volta de uma vaga sensação de sobressalto como se houvesse uma qualquer urgência em pano de fundo ou como se tivéssemos esquecido qualquer coisa que sabemos ser importante.
Com poucas excepções, parece que as pessoas se dividem entre os que não têm tempo para nada e os que não sabem o que hão-de fazer com o tempo.
Os primeiros, os que não têm tempo, porque o rol de tarefas é mais extenso do que aquilo que conseguem cumprir, com frequência mergulham numa calda de irritação em que quaisquer contratempos ganham foros de problema. Os atrasos, as tarefas proteladas, as coisas que não funcionam ou funcionam mal, o que não se faz e se devia ter feito, vão-se acumulando numa espécie de vertigem de incapacidade e descontrolo, suficiente para transformar os dias em embates penosos.
Acorda-se cansado, corre-se o que se pode durante todo o dia e chega-se à noite exausto e com a sensação de que no dia seguinte será exactamente igual.
Os outros, os que lhes sobra tempo, por não trabalham por reforma ou desemprego, ou os que não têm família, grandes compromissos ou grandes interesses, frequentemente parecem disponíveis para complicar pequenas coisas em que os outros não reparam ou envolver-se, com excessiva ansiedade, em tarefas, relações ou causas que se transformam também para climas de frustração, incompletude ou incompreensão. Os dias correm também tensos, também cinzentos.
Uns e outros como que esperam que, por magia, tudo se componha. Que a calma e a tranquilidade os venham possuir. Que as coisas parem de acontecer ou comecem a acontecer de um outro modo mais satisfatório e gratificante.
Sendo importante todo e qualquer acontecimento de vida, o facto é que não é suposto que sejamos folhinhas ao vento nem caixa-de-ressonância do que se passa à nossa volta.
Suposto mesmo é que busquemos e consigamos activamente não ceder a contágios emocionais, não nos deixarmos arrastar pelas circunstâncias e usarmos tudo o que aprendemos, desde sempre, para fazer aquilo que se acredita que as pessoas querem: viver o melhor possível.


Joaquim Maneta Alhinho

domingo, 20 de julho de 2014

Os filhos são pais da morte dos seus pais


 Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai do seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento e impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força a nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro do tempo para sair do seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disponível e trabalhador, fracassa ao tirar a sua própria roupa e não se lembra dos medicamentos que tem para tomar.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende da nossa vida para morrer em paz.
Todo o filho é pai da morte de seu pai.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente a nossa última gravidez. O nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.
E assim, como mudamos a casa para receber quem nasce, tapando tomadas e colocando cercas, vamos alterar a rotina dos móveis para criar espaços para os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece na casa de banho.
Seremos pais de nossos pais na hora de colocar uma barra de apoio no chuveiro.
A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.
Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos dos nossos protectores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos os nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem os braços dos filhos pelas paredes. Os nossos braços estarão espalhados sob a forma de corrimões.
Envelhecer é andar de mãos dadas com os objectos, envelhecer é subir escadas mesmo sem degraus.
Seremos estranhos na nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitectos, decoradores e engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais um dia adoecessem e precisassem de nós?
Feliz do filho que é pai do seu pai antes da morte e triste do filho que aparece somente no funeral (quando acontece…) e não se despede dele um pouco em cada dia.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, repondo os lençóis, quando o Zé gritou:
— Deixe que eu ajudo…
Reuniu todas as suas forças e pegou pela primeira vez o seu pai ao colo.
Colocou o rosto do seu pai contra o seu peito.
Ajeitou nos seus ombros o pai consumido pelo cancro: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou nos seus braços um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrando:
— Eu estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer ouvir no fim da sua vida é que o seu filho está ali.




Joaquim Maneta Alhinho

sábado, 28 de junho de 2014

A dor do abandono

Era uma manhã de sol quente e céu azul, quando o caixão contendo um corpo sem vida foi baixado à sepultura. De quem se trata? Quase ninguém sabe. Poucas pessoas acompanham o féretro. Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve.
Depois que o corpo desocupou o quarto do asilo, onde aquela mulher passou boa parte da sua vida, a responsável pela limpeza encontrou numa gaveta ao lado da cama, umas anotações. Um diário sobre a dor... Sobre a dor que ela sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos... Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, gravado nalgumas frases:
Onde andarão os meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei no meu colo, alimentei com o meu leite, cuidei com tanto zelo, onde estarão? Estarão tão ocupados que não possam visitar-me, ao menos para dizer olá, mãe? Ah!... Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão... Se ao menos eu pudesse andar...
Mas dependo das mãos generosas destas raparigas que me levam todos os dias para apanhar um pouco de sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão.
Os anos passam e os meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolverem com carinho, com afectos...
Os dias passam... E com eles a esperança vai-se... No começo, a esperança alimentava-me, ou eu a alimentava, não sei... Mas, agora... Como esquecer que fui esquecida? Como engolir esse nó que teima em ficar na minha garganta, dia após dia?
Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfaze-lo... Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima... Queria saber dos meus filhos... Dos meus netos... Será que ao menos ainda se lembram de mim? A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... Que a arrastam sem misericórdia para bem longe de mim...
Às vezes, em sonhos, vejo um lindo jardim, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afectuosos estão à minha espera com amor e alegria... Mas, quando acordo, é a minha realidade que eu vejo... Que eu vivo... Que eu sinto... Um dia alguém me disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso... Que a vida continua após a morte, de uma outra forma... Mas com certeza a minha matéria, a minha mente, o meu eu, desta vida que vivo agora, com o nome que tenho, nunca mais existirá! E quando a morte chegar, só vai restar a saudade que com o passar do tempo se ameniza... (se é que alguém vai sentir saudades minhas, já que não sentiram enquanto ainda estou viva neste asilo...)
Sinto que a minha hora está a chegar... Depois, quando eu partir, gostaria que alguém encontrasse estas minhas anotações e as divulgasse. E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam os seus pais em asilos e nunca os visitam... Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado... Pensem que a cada pai e a cada mãe Deus perguntará: O que fizestes do filho confiado à vossa guarda? E aos filhos: O que fizestes aos vossos pais?



Joaquim Maneta Alhinho

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A culpa morre sempre solteira...

Popularmente afirma-se que “a culpa morre sempre solteira”, querendo com isso dizer que, voltas dadas, contas feitas, não se consegue descobrir o par à altura. Não se é capaz de descobrir o tal culpado, a criatura que começou a intriga ou o crime, o responsável último da acção nefasta.
Se nem que seja o partir de um copo tenha de ter um culpado, o facto é que se arranjam fórmulas mágicas de aliviar responsabilidades e explicar, com indiscutível mérito e razoável imaginação, que foi por causa de um outro, que o copo não devia estar ali, que alguém o pôs ali de propósito para ser partido e arranjar uma situação desagradável.
Ficamos, pois, com um copo partido e um extraordinário complô, que, não explicando coisa alguma, dilui responsabilidades e anula culpas.
Se com copos isto é assim, imaginem com o resto.
A questão, porque de facto o ser assim levanta, pelo menos, uma importante pergunta, é a de saber por que é que parece tão difícil assumir que cometemos erros, nos enganamos, avaliamos mal a situação, desempenhámos ineficazmente a tarefa de que estávamos incumbidos, fomos arrogante, desprezámos indicadores vitais, não tínhamos razão, desmotivámo-nos, desinteressámo-nos, facilitámos, confiámos em quem não devíamos, não tivemos atenção, enfim, o que se queira, sempre no território das desculpas que, ainda assim, não depreciem o mea culpa fundamental. Percebe-se que os actos criminosos ou delinquentes se arredem desta lógica.
Não se percebe por que é que assuntos comezinhos e quotidianos tenham de ser enrodilhados em histórias compridas e mal contadas, em que os factos se distorçam e o que apareça como produto final seja uma nebulosa de mal-entendidos, zangas pessoais, acusações mútuas, afirmações desgarradas de princípios, que normalmente não vêm nada a propósito.
Dir-se-ia que se confunde a assunção da culpa com o castigo. Que parece que se acredita que basta dizer-se que se errou para merecer a sanção colectiva do desamor, do desrespeito ou do desprezo, e que, por essa via, acreditando que a sorte de um homem é escapar, vale tudo para instalar a dúvida e fugir à punição. Ou então, e igualmente grave, que obliteramos o senso de responsabilidade e não o desenvolvemos o suficiente para viver pacatamente em sociedade.
Chegados aqui, parece que temos de concluir uma de duas coisas: ou, de facto, somos todos educados, e educamos com tantos “panos quentes” que assumir o que quer que seja de motu proprio é um exercício demasiado sofisticado; ou tememos mais a crítica social do que estimamos a velha e boa ideia de termos a consciência tranquila.
Em qualquer dos casos, venha o Diabo e escolha.


Joaquim Maneta Alhinho

sábado, 31 de maio de 2014

VIRALATA / NÃO HÁ TACHOS (com Kalú)

A todos os letristas e músicos deste País

Letristas e músicos



Se a história começasse por era uma vez, muitas seriam as vozes que às vezes se ergueriam no ritual sinalético que verbaliza num gesto ou no grito de um conformismo.
Assim, se contam a vida dos outros, de todos nós, dos que ficam e dos que partem e os que partindo vão ficando, caminhos e caminheiros na senda de um destino comum que de comum nada tem.
Contadores de histórias de amores e desamores, palavras que o vento não leva porque sabem a terra e a mar, a vilas e lugarejos, lugares recônditos da alma, dados por um sol maior.
Trevas em tom menor que não convergem em vão.
Como se diz o sentir, falando do fundo do ser quebrando a monotonia do óbvio, escrutinar a palavra e entendê-la nos sons, respeitá-la nos silêncios, cobri-la de glória e de assombro na pauta tornada livro.
Cada página reflecte um sentido de continuidade assim são os homens e mulheres das letras e das músicas, que são do palco e são da estrada, das terras e dos gentios, de todos e de cada um.
Passa o tempo que se fez futuro, o aplauso que se faz presente e um orgulho muito próprio de quem se ri do passado.
Luzes de uma ribalta sentida, erguida sobre os ombros dos que acreditam no estímulo, na eloquência do tipo que foi, que é e será!
São a longevidade de quem rejeita terapias, rodeios, herdeiros dum tempo incomum e sem limites, como se hereditário fosse o destino que se escolhe.




Joaquim Maneta Alhinho

quarta-feira, 21 de maio de 2014

D. Perpetua e o meio ambiente

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer o seu próprio saco para as compras, uma vez que os sacos de plástico não são amigos do ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
 - Não havia essa “onda verde” no meu tempo…
O empregado respondeu: - Esse é exactamente o nosso problema hoje, minha senhora.
A sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora – a nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente.

Naquela época, as garrafas de leite, de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada novo uso.

Realmente não nos preocupávamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas de madeira ou de pedra, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até ao comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos de nos deslocar à loja a dois quarteirões da nossa casa.

Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebés eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. O secar da roupa era feito por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes a 220 volts. A energia solar é que realmente secavam as nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido dos seus irmãos mais velhos e não roupas novas de marca.

Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um plasma do tamanho de um estádio; que depois será reciclado de que forma?

Quando embalávamos algo um pouco frágil para enviar pelo correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou paletes de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a relva, era utilizado uma tesoura que exigia músculos. O exercício era extraordinário e não precisávamos de ir a um ginásio e usar as passadeiras e outras máquinas que também funcionam a electricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos directamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas que agora poluem os oceanos.

As canetas eram recarregadas com tinta as vezes que queríamos sem necessidade de comprar outra. Amolávamos as facas e as tesouras, ao invés de lançar fora todos os aparelhos “descartáveis” e poluentes só porque a lâmina já não está afiada.

Na verdade, tivemos uma “onda verde” naquela época. Naqueles dias, as pessoas apanhavam os autocarros e os meninos iam a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas por dia. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é risível que a actual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não quer abrir mão de nada e não pensa viver um pouco como na minha época?




Joaquim Maneta Alhinho

sábado, 10 de maio de 2014

Expressões do Adolescentes



Desde os anos 70 que se tem vindo a notar uma fornada de palavras (expressões/calões) que têm sido acrescidas até aos dias de hoje.
Foram os adolescentes que passaram esta nova “moda” linguística aos mais velhos.
Numa breve pesquisa encontrámos diversas “palavras” e que julgo não estará com certeza completo.
Faltarão aqui algumas, ou muitas expressões...

Anos 70

Fatela: Aplicava-se a coisas, roupa ou pessoas de gosto duvidoso. No liceu, quem era fatela tinha, por norma, o nível de popularidade irremediavelmente comprometido.

Fosga-se: Parecia que era, mas não era. E sempre matava a vontade de dizer um palavrão sem cair em pecado. Não queria dizer nada de especial, só demonstrava espanto.

Vai-te catar: Podia surgir no fim de uma discussão ou se um amigo descobria que o outro estava a gozar com ele. Era o mesmo que dizer “vai passear” ou “vai bugiar”.

Anos 80

Meu: Era uma espécie de ponto final das frases, nas conversas com os amigos: “Estás bem, meu? Não imaginas, meu!”

Iá: Se o “meu” percebesse o que o outro estava a dizer, respondia “iá”, que era o mesmo que “sim” ou “hum, hum”.

Baril: Um tipo baril era alguém com boa onda, de quem todos queriam ser amigos.

Fixe: O significado era o mesmo que baril, mas fixe era uma espécie de aspirina: servia para tudo: desde as calças até à stôra de Matemática.

Bute: Dito com um ar decidido, era um tiro de partida. Quando alguém dizia “bute” convidava os outros a seguirem-no.



Anos 90

Bué: A palavra chegou a Portugal com os retornados, em 1975, e vem de uma das línguas mais faladas em Angola, o quimbundo. Primeiro só circulava entre os que vieram de África. Depois, não havia miúdo que não o usasse em vez de “muito”. Dizer “bué” era bué da fixe. A palavra ainda dura.

Bacano: Uma espécie de baril dos anos 90. Um bacano era um gajo porreiro.

Bezana: O mesmo que buba ou bebedeira. Resultava da ingestão de vários copos a mais.

Tá a bazar: Maneira fixe e uma verdadeira alternativa ao enfadonho e engomado “vamo-nos embora?”

Cena: Servia para tudo, como coisa. Uma cena podia ser fixe ou terrível, mas também se podia contar uma cena a alguém. Estão a perceber a cena? Perpetuasse até aos dias de hoje.

Chunga: Já se usava antes, mas depois do Herman José criar a personagem do Zé Chunga, tudo o que era de baixo nível passou a ter direito a este rótulo, que se mantém actual.

Cota: Mais uma herança do Ultramar: em Angola, um cota era um velho respeitável. Cá, é só um velho, ou então o pai ou a mãe.


Anos 2000

Dah: Burro. Sinónimo de “tecla 3”, o botão dos telemóveis que juntavam as DEF, início da palavra deficiente. Não era um elogio, portanto.

Tipo: Foi (e é) uma das maiores pragas da linguagem juvenil. Eles tipo dizem tipo isso para tipo tudo. Não quer dizer nada.

Mitra: É o chunga do novo milénio. O dicionário Priberam da Língua Portuguesa diz que se refere a uma “pessoa considerada reles”.

Nice: A palavra é inglesa, mas já foi adaptada. Os miúdos usam-na quase tanto como as portuguesas fixe, bom, espectacular.

Cool: O mesmo que nice: E fixe: E bom, espectacular.


Anos 2010

Troll: O mesmo que mongo, anormal.

À Boss: Também se diz “à patrão”. Significa que alguém conseguiu alguma coisa especial, ou foi tratado de maneira especial.

Muita Forte: Quando alguém é “muita forte” pode até não ter grandes músculos, mas pode ser só um cromo com a mania de que é bom.

Chillar: Baza aí chillar uma beca? Se não tem filhos adolescentes, aqui vai a tradução: “Embora aí descontrair um bocado?”

OMG: Lê-se “Oh my god” e fica a meio caminho entre o espanto e o êxtase. Muito popular nas redes sociais.

SOC’: Lê-se “sóss” e é a abreviatura de sócio. Ficou herança do vídeo do chinês de Paulo Futre. Quer dizer amigo.


Brutal: De zero a 10, brutal é 20. Ninguém quer perder uma festa ou um concerto assim.

JMA


sábado, 26 de abril de 2014

A vida são dois dias...



Certamente já ouviu este dito popular. Ao pronunciá-lo, as pessoas querem transmitir-nos a ideia de que tudo passa muito rápido, portanto, há que aproveitar enquanto cá andamos, valorizando o que temos de bom e colocando "para trás das costas” os aspectos menos felizes. Mas, em alturas de crises como esta que estamos a atravessar, é difícil lembrarmo-nos disso. Olhamos à nossa volta e vemos tudo negro. É como se colocássemos um pano escuro à frente dos olhos, que nos impedem de ver os lados bonitos do dia. Ficamos irritados quando os amigos nos dizem “não estejas assim, já viste que existe gente em pior condições que tu”...pois, pensamos nós, com o mal dos outros...
Vivemos tão intensamente os problemas que tudo o resto deixa de fazer sentido. Este tema lembra-me o filme A vida é bela, que considero uma verdadeira obra-prima. Talvez até esteja um pouco sugestionada, mas, mostra-nos como, apesar dos problemas, se consegue manter o optimismo e transmitir uma mensagem de esperança. Não foi também por acaso que o famoso psicoterapeuta Victor Frankl desenvolveu a sua teoria, procurando encontrar um sentido para a vida, durante a estada num campo de concentração nazi. É fantástico pensar como o ser humano consegue mobilizar energias a ponto de ultrapassar as mais duras provações, sempre de cabeça erguida. Estes exemplos dão-nos esperança e é verdade que “enquanto há esperança, há vida!”. A manutenção da esperança repercute-se até a nível físico. Está hoje provado que somos mais do que um corpo, pelo que os aspectos psicológicos têm um grande peso, mesmo no que concerne ao adoecer corporal. Deixam-se vencer pela doença, baixando os braços, desistindo até de viver e não conseguem ultrapassar os obstáculos que vão surgindo. Alguns estudos feitos em Portugal têm mostrado que somos um país de deprimidos, que somos os maiores consumidores de anti-depressivos e ansioliticos. A política deixou de constituir um pólo de interesse, o desemprego e o custo de vida são uma constante sempre em crescimento, as desistências da escola também, só nos alegramos com os jogos de futebol, caso contrário andamos tristonhos e enfadados com tudo e todos. O que nos resta afinal? Lamentarmo-nos, é claro. Mas, o lamento, por si só, não resolve nada. É como viver permanentemente em círculos, sem sairmos do lugar. Ou, como eu costumo dizer, passamos a vida a correr atrás de nós próprios e nunca nos encontramos. Há que encontrar soluções, operar mudanças na nossa vida, mesmo que pequeninas, porque desse somatório pode resultar uma sociedade bastante melhor e mais optimista.
É certo que não podemos viver num permanente carnaval mas, enquanto sambamos, carregamos energias. Existem inúmeras festas e romarias por este país fora, nesta altura do ano. Porque não as aproveitar e as utilizar de forma a encarar o futuro de uma maneira mais positiva. Façam-me um favor...Sejam felizes!



                    Joaquim Maneta Alhinho                          

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O tempo e as máquinas



 Se são muitos os pais que se preocupam com o uso que os seus filhos, infantes e adolescentes, dão às horas que passam nos seus computadores, são bastante menos os que se ocupam, de facto, com o assunto.
A maioria destes pais, provavelmente, nem sabe bem o que pode ou deve fazer nem quais os limites que tem de estabelecer ao uso de um instrumento tão propagado e louvado.
Exactamente porque o uso destes aparelhos aparece envolto numa aura de benefícios imensos, sem os quais, aliás, parece não ser possível crescer e progredir, está fora de causa responsabilizá-los pelos usos indevidos a que podem ser sujeitos. Aparentemente, os computadores transformaram-se em utensílios básicos de estudo e conhecimento com inevitáveis efeitos secundários, tão descritos quanto pouco avaliados. Ainda assim, todos sabem nomear os tais usos indevidos que variam entre as horas a jogar e as horas de eventuais contactos considerados como perniciosos e, “desencaminhadores”. Como pano de fundo dos maiores medos parentais, aparece o acesso a sítios em que o sexo seja o motivo de encontro e conversa, com as inerentes fantasias, muito promovidas por séries de televisão, de que o respectivo rebento se cruze com um serial killer, com uma organização pedófila, ou tão simplesmente com um exibicionista versão “ciber” que, ainda assim, destapa uma diferente espécie de gabardina.
Com todas as vantagens e desvantagens das maquinetas, tenho para mim que nem vale a pena complicar nem desistir de estabelecer limites neste campo como em todos os outros.
O maior problema do uso dos computadores pelos mais novos não é o que lá se encontra, porque apenas concentra e espelha aquilo que existe, e também se encontra, nos outros mundos menos virtuais. O maior problema é mesmo o tempo despendido: a teclar, a jogar, a pesquisar, a fazer o que quer que seja que se aproxime da obsessão e diminua de forma significativa o investimento no mundo que gira à volta.
Apenas porque a vida é sempre, aqui e agora, e o virtual um espaço de recurso, inverter os termos da valorização facilita o que mais tememos: ficar isolados e descobrir aí um enorme sentimento de solidão.


                                                      Joaquim Maneta Alhinho

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

The Jukeboxers - Grandola 2013






Rendo-me às qualidades desta banda "The Jukeboxers" e pela forma como sabem desde o primeiro minuto agarrar o público presente até ao final dos seus espectáculos.

Este vídeo fala por si próprio...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Azar que é azar nunca vem só.

Há uma clássica superstição que toda a gente conhece, sobre o facto de partir um espelho implicar sete anos de azar.
Esta ideia radica numa outra mais antiga de que o reflexo humano, a imagem devolvida a partir de qualquer superfície refletora, exprimir a própria alma do indivíduo e, nesse sentido, significar, ao ser quebrada, uma quebra na própria identidade, quando não a própria morte.
Se os sujeitos não morressem por quebra de identidade, pelo menos sofriam um período longo de infelicidades várias, os tais sete anos, que, de acordo com muitas tradições, corresponderia ao tempo de um ciclo completo da vida humana.
De superstição em superstição e de mito em mito, vão sobrando para os dizeres quotidianos e as convicções de cada um nós fórmulas interessantes de racionalizar os tempos difíceis que atravessamos.
Num destes dias, nas inevitáveis conversas de café que já não são só sobre o estado do tempo, alguém afirmava, cheio de certezas, que o país atravessava sete anos de azar, já que era esse o tempo das crises.
Numa fase da vida colectiva e individual em que a incerteza paira em redor como se fora um enorme e espesso manto, estas crenças inadvertidamente partilhadas resultam esperançosas.
De um lado temos que as previsões oficiais e oficiosas que a vida, tal como a conhecíamos, acabou. Que a sensação de segurança relativa de que gozávamos, assente num sem número de direitos adquiridos, é agora uma página virada.
Por outro lado, temos ainda expectativas, baixas, mas expectativas.
A vantagem de expectativas baixas é, como se sabe, a de não ter enormes decepções, o que parece francamente irrisório num quadro em que o Contrato Social esgaça por todos os lados. Mas, porque somos humanos, precisamos delas. Precisamos de nos poder projectar no futuro e acreditar que algures no trilho que seguimos encontraremos um almejado conforto.
E a vida continua. Além de continuar, como continua sempre independentemente das conjunturas e das vicissitudes, as pessoas continuam iguais a si próprias, a necessitar de estímulos e alento. Continuam, por isso, em busca de sentidos que consigam compreender. E, convenhamos, sete anos é um bonito número.
Mesmo que também se lembrem, vagamente, de outras tradições que mostrem que sete anos não são um prazo mas apenas um tempo longo de elaboração ou recalcamento: "Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel".

sábado, 25 de janeiro de 2014

Desatar o nó da vida

Desatar o nó da vida


Tu não podes dizer
que tudo está perdido
embora as tuas tristezas naveguem
e bruscamente se afundam no mar
nesse banquete sem sabores
na roda-viva que nos tonteia
quando o sol já não abre a tua janela
e a lua se perde entre as estrelas
venho oferecer-te o meu coração!

Entre as cores sombrias da saudade
e o brilho opaco da tristeza
porque nada é fácil como pensava
mas tão simples de seguir
se não consegues desatar os nós
e juntar as pontas no mesmo laço
e apesar de perdido nos escombros
fraco por não ter mais forças
venho oferecer-te o meu coração!

Podemos falar sobre a vida
ou falar simplesmente do nada
quando o silêncio te ensurdece
ecoando as mágoas que carregas
quando a razão te virou as costas
e seguiu sem te dizer adeus
quando a escuridão do teu quarto
só a minha luz te ilumina
não podes dizer
que tudo está perdido
já que vim oferecer-te o meu coração!



Nota: Todos os direitos reservados pelo autor

domingo, 19 de janeiro de 2014

Tempo

Tempo


Tempo que houve
tempo que trouxe
tempo que se move
tempo em que o tempo parou
tempo de semear
a paz, a esperança, o amor
tempo de plantar
tempo de colher
as flores e os frutos do saber.
 
 
Tempo de chegar
de me aconchegar
tempo de partir
quando não dá mais para ficar
tempo de voltar
no tempo, se for preciso.
 
 
Tempo de saudade
do grande amor
tempo de ter vontade
seja do que for
tempo de estares aqui
bem juntinho a mim.
 
 
Tempo que foi meu
tempo de alegria
tempo que foi teu
tempo de euforia
tempo nosso
que se fez eterno.
 
 
Tempo de todos os tempos
tempo de infidelidade
tempo inverso
que versa o meu universo
tempo de comtemplar
as cores do arco-iris
tempo de chorar
tempo de sonhar
que foi engano
que não aconteceu comigo.
 
 
 
 
Nota: Todos os direitos reservados.