quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Vem aí mais um ano! Pode ser que valha...

Acaba-se o ano. Mais um. Num exercício quase único e deveras esperto, o que fazemos na chamada passagem de ano é muito mais dar as boas-vindas ao ano que chega, novinho em folha, cheio de expectativas, de dias e noites inteiras para gastar, do que a despedida do ano velho, gasto, acabado.
Contra o que é costumeiro, em corte mesmo com os mais corriqueiros e arreigados hábitos de nos agarrarmos ao que se passou, ao que se deixou de ser e mudou, com unhas e dentes; promovendo despedidas trágicas, chorosas e ramelosas; experimentando uma desconfortável sensação de perda com que, dá a impressão, lidamos muito mal; o adeus a cada ano é leve e esperançoso.
Esta comemoração que repetimos ritualmente com passas, desejos, muito barulho, muitos votos de coisas boas, muitos beijos, muitos abraços, muitos telefonemas, muitas mensagens, muitos pinotes e muito álcool a acalorar uma noite fria de Inverno, valendo o que vale, vale alguma coisa.
Pode ser que valha só pela intenção, sempre renovada, sempre recomeçada, de que fazer do que passou - história - e do que está para vir - um destino bem-vindo.
Mesmo que saibamos que as boas intenções enchem vários infernos, que os recomeços do ano novo vão-se esboroando ao ritmo da passagem dos meses, que o peito aberto ao futuro é um gesto grandioso mas rápido que apenas exorciza o medo do novo e do desconhecido, ainda assim, haver um momento num ano em que o que passou, o que aconteceu de bom e de mau, se ofusca perante as expectativas vagas de que se consegue tecer melhor sorte, já é um feito.
De facto, isto de carregarmos o passado às costas, de termos uma disposição imensa, quase constitucional, para aproveitar qualquer pretexto para reactualizar sensações nefastas, é tão notório a maioria do tempo que nos deixa alquebrados e tensos sem vontade de agarrar os novos dias e o que está para vir com a intensidade e o envolvimento capazes de significarem e validarem, positivamente, o que nos vai acontecendo.
Sabendo nós que não controlamos quase nada e que o futuro é uma construção mental tão interessante quanto organizadora, é definitivamente esperto inventar ânimo para enfrentar o que há-de vir com a esperança risonha que se usa para jogar às cartas com os amigos nos fins de tarde dos dias felizes.
Mesmo que não faça diferença, dispõe bem, o que já é alguma coisa.
E há quem precise tanto...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Azeitonas - "Queixa ao Pai Natal" / Filomena Cautela / 5 Para a Meia Noite


Desde 2009, que eu e os Azeitonas nos queixamos do Pai Natal...
A meia continua pendurada e vazia. Será este ano que aparece cheia?

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Natal: Confrontação da Família

Podendo ser muitas coisas, de facto o Natal é hoje a festa da família. E as famílias idealizadas que o marketing todo-poderoso não se cansa de promover.
Como a distância entre as famílias reais e as outras que vamos interiorizando que deviam ser, é enorme, o Natal acaba por ser um tempo de confrontação.
Confrontação com a falta de família, com os conflitos de família, com os assuntos pendentes na família, com os limites e também com famílias que temos e de quem não gostamos ou que não gostam de nós.
Vivemos num tempo de famílias muito pequenas. São muitos os filhos únicos e as famílias à beira da extinção pela não reprodução. TEmos mais idosos que jovens e muitas separações e divórcios.
O simples facto de um casal jovem de filhos únicos, por exemplo, ter que rodar pelas casas dos respectivos pais já implica que cada família de origem fique com a sensação de que tem um Natal coarctado. Se este mesmo casal jovem tiver um dos pais em segundas núpcias, a complicação agudiza-se porque fica logo com dois dias para estar com três famílias. Se, por acaso, um deles tiver um filho de uma anterior relação, o drama instala-se, porque a separação das pessoas mais significativas é incontornável.
Cresce depois a questão dos idosos, dos inúmeros idosos, pais, tios, avós que nesta época se torna visíveis em nome de uma invocada solidariedade familiar e intergeracional.
As visitas aos lares ou o instalar em casas pequenas avós e tios que foram ficando isolados porque quanto mais velho se é, maior é a possibilidade de tal acontecer, torna-se uma obrigação que se quer cumprir mas, também, numa confrontação, muitas das vezes dramática, com inúmeros e difíceis problemas que não se sabem resolver.
Posto isto, e chegando ao fim de festa, é preciso perceber que não é só connosco que as coisas não correm tão bem como se desejaria.
Que não somos só nós que não temos a família perfeita. Se conseguirmos perceber que a festa da família é uma das obrigações que se pode cumprir com o mesmo "fair play" que se usa para casamentos, baptizados e funerais, pode ser que se consiga escapar ao sentimento mais patente nestes dias: a autopiedade.
Como se sabe, os fins de festa dão sempre em ressaca.

Nota: Todas as crónicas deste blogue não se regem pelo Novo Acordo Ortográfico por vontade expressa do seu autor.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Miguel Araújo - Os Maridos Das Outras

Tantos comentários e tanta polémica à volta deste tema, mas ainda não vi ninguém no Youtube tentar saber o significado de "Arquétipo" e do "Pináculo"...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Adelaide Ferreira - Há Quanto Tempo (Eu Espero)



Foi um previlégio ter escrito este tema para esta voz magnifica. Para mim, uma das melhores vozes femininas a cantar em Portugal. Esta canção fez parte da telenovela da TVI,  «Dei-te quase tudo» e foi um sucesso estrondoso. Hoje, um pouco esquecida pelas rádios... De quando em vez vai ainda rolando.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Consequência da verdade

Todas as áreas de conhecimento humano são mutáveis.
Aquilo que sabemos agora não é o mesmo que saberemos daqui a uns anos, e aquilo que hoje tomamos como certo e como adquirido diz-nos a experiência que será um dia obsoleto e risível.
Se no mundo dito tecnológico - um mundo que encara como meramente instrumental - estas mudanças são tão rápidas que todos nós mal nos lembramos de como era viver na década passada, sem telemóveis nem computadores, no mundo das ideias dir-se-ia que tudo pia mais fino.
Parece estranho que dividamos o conhecimento em fatias e façamos de conta que a tecnologização rápida pode ser asséptica e inconsequente na forma como encaramos o mundo e as relações entre pessoas e povos. Parece, e é, estranho que façamos de conta que os meios e o tempo gasto na persecução de fins ou de objectivos não toquem a essência última dessas metas arvoradas em sentidos de realização ou de vida. Ou seja, e cortando a direito, não dá para fazer de conta que termos feito, enquanto sociedade, uma escolha tecnológica não tem consequências na forma como olhamos o mundo e como nos situamos na relação com os outros.
Mas o facto é que formas e conteúdos se imbricam intimamente.
Não é exactamente a mesma coisa falar diariamente com alguém que está no outro lado do mundo, vendo-o por câmara, ou escrever longas cartas no silêncio da noite olhando para uma fotografia que, de dia para dia, vai desbotando.
Não é a mesma coisa escrever lentamente à mão, procurando a palavra perfeita que exprima a ideia que se esboça, evitando a rasura e a emenda, do que cortar e colar textos já escritos de muitas origens e de muitos diferentes momentos.
Não é a mesma coisa esperar que as estações do ano determinem as tarefas, o acordar e o deitar, a roupa que se veste e os tempos de socialização do que viver em ar condicionado com ocupações indiferentes ao ritmo dos dias.
Porque é diferente, porque o mundo que criámos cria em nós formas de estar e ser de um tipo que não sabemos precisar, não são desprezíveis os contornos das mudanças que nos mudam.
Mesmo que não queiramos, mesmo que não saibamos, o jogo continua: verdade ou consequência.

sábado, 10 de novembro de 2012

A falta de auto-estima

Nos escaparates os temas de moda e elegância são sempre actuais, e é ver páginas e páginas de revistas dedicadas à beleza, a dietas milagreiras que devolvem silhuetas esplenderosas e, mais recentemente, à cirurgia estética, que parece abrir as portas difinitivas de um novo modo de estar bem, ser bonito ou estar conforme.
Por qualquer estranhíssima razão, ainda há quem fale de cirurgia estética em termos de ser a favor ou contra, como se também ela se prestasse a ser um daqueles temas fracturantes e essenciais.
Como de costume, de um lado ficam os que acham que tentar enganar o tempo ou subverter, por apoio das técnicas existentes, aquilo que a Natureza na sua incompreensível sabedoria decidiu, é uma fraude terrível, de um outro lado, ficam os que acreditam que vale a pena deitar a mão a tudo o que nos possa fazer sentir melhor a qualquer nível.
Mesmo que criticando, até os críticos, visivelmente, se rendem. O facto é que as cirurgias estéticas crescem como pãezinhos bem fermentados e cada vez mais pessoas tiram rugas, gorduras e proeminências indesejadas e põem formas arredondadas onde a moda diz que devem estar.
Para lá do folclore que se cria à volta como se fosse, de facto, um tema substancial, há uma recorrente invocação da cirurgia estética (mas também de todos os outros procedimentos estéticos menos invasivos) como uma medida destinada ao bem-estar psicológico e, subretudo, à bendita auto-estima.
A teoria é de uma simplicidade extrema: se acho que pareço mal, mudo a minha aparência e, com isso, melhoro a minha auto-estima. Pode ser. Mas também pode ser exactamente o contrário. Pode ser que seja, porque tenho uma auto-estima baixa, que me sujeito a procedimentos caros e mesmo dolorosos que me permitem, durante algum tempo, a ilusão de gostar mais de mim. Quando o efeito passa, quer dizer, quando descubro que a vida não muda na medida dos meus desejos por me sentir mais bonito, é provável que descubra que a falta de auto-estima não se trata com procedimentos estéticos.
Dizendo de outra maneira: não sei se melhora misturar os alhos com os bugalhos e querer acreditar que se trata a auto-estima com procedimentos estéticos ou narizes tortos com psicoterapia.

Concluí o meu 4.º Romance

Ao concluir o meu 4.º romance, sinto-me como uma criança que apanha e brinca na areia da praia, conchas e pedras polidas.
Décadas de dedicação à escrita, nas suas mais variadas vertentes, quer como jornalista profissional, autor de argumentos para televisão, letras para os mais variados cantores da música portuguesa, escritor (livro de poesia e prosa - «Imagens Escritas»), entre muitas outras palavras escritas para blogues e recentemente autor de anúncio publicitário televisivo para o Grupo Sonae.
Foram muitas horas, dias, anos, a escrever, a escrever e a escrever. Foram muitas as páginas em branco que preenchi com sentimentos, emoções, ficção e muito realismo (casos de vidas reais).


A escrita para mim não é um divertimento, mas sim uma necessidade, quase, como se fosse fisiológica.

domingo, 21 de outubro de 2012

Paulo Gonzo - Asa do Vento [HQ+Letras]


Não imaginam a satisfação que me deu escrever este tema para o Paulo Gonzo.
Ele é um ser humano fantástico e um cantor/compositor fora de série.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A luta e o estilo

Porque somos diferentes encaramos a vida da forma como somos capazes.
Num extremo estarão as pessoas que vivem simplesmente, sem interrogações nem curiosidades metafísicas, nunca experimentando aquelas angústias do "quem sou, donde venho e para onde vou?", que alguns consideram adolescentes, mas que, disfarçadas e polidas, atravessam a vida da maioria dos humanos proporcionando, como ganho secundário, inquietações mobilizadoras e espessuras atraentes.
O que poderia ser a imensa virtude da aceitação incondicional e leve da nossa natureza é, muito mais frequentemente, a limitação da capacidade de pensar.
Do outro lado, na outra ponta do mesmo fio imaginário, encontram-se os que, aterrados pela iminência de um fim, fazem do presente um sobressalto e de muitos anos de interrogações sofridas uma antecâmara tumular. Para esses, o que poderia ser uma qualidade de consciência e lucidez transforma-se frequentemente num tenebroso suplício.
Pelo meio ficam muitas qualidades, espécies e combinações de pessoas nas suas singulares formas de ser e sentir, tudo, incluindo a própria vida.
Algures por aí,nesse meio sem ponto médio, sobressaem uns tantos que fazem da existência um combate, uma luta incessante e estafante. Como que por artes mágicas conseguem sempre arranjar um inimigo. Um arqui-inimigo com recursos extraordinários e mente tortuosa; um inimigo malévolo que espreita a cada esquina, persegue nas sombras e arquitecta planos de vigança, prejuízo ou o que for; ou, à falta de melhor, um adversário poderoso com os mesmos objectivos e enormes ganas de alcançar primeiro uma meta arvorada em grande sentido. Para estes incansáveis guerreiros tudo o que acontece e acontecerá tem como nó górdio a conquista de uns centímetros, a vitória de mais uma disputa, o ganhar de mais um improvável torneio que inventaram e esgrimiram, mesmo que à revelia dos outros participantes.
Fazer da vida um campo de batalha não parece, assim à primeira, um projecto existencial de grande qualidade. Nem parece uma possibilidade realista para os muitos que apreciam amenidades, prazeres suaves, a traquilidade de um fim de tarde ou a alegria de uma gargalhada entre amigos.
Mas que é um poderoso motor do mundo, uma estratégia de contornar a finitude, uma fórmula consagrada de significar todos os dias como se fossem únicos e um entretém mobilizador de todas as energias, é indesmentível.
Só é chato que para que alguns prossigam as suas guerras, tantos pacatos inocentes sejam apanhados e sacrificados numa contenda que não tem fim.

sábado, 13 de outubro de 2012

AEQCTV Quinta Noivos - (FOTOS) Desfile de Noivas e Acompanhantes - Quint...


Este é o mesmo evento do anterior (versão fotos). Só pela musicalidade vale a pena ver até ao fim.
Excelentes fotos da equipa do Atelier de Fotografia de João Ferrão.

AEQCTV Quinta Noivos - Desfile de Noivas e Acompanhantes - Quinta do Con...


Uma experiência nova na condução deste estilo de desfile de moda.
Trabalhoso, mas recompensador.
Até o apresentador desfilou... Uma estreia na "passerele" vermelha em desfile de moda.

E a Banda Desenhada?

Cada geração tem as suas referências. As referências são como o próprio nome o diz, alusões, que umas vezes endossam para alguém ou alguma coisa que marcou firmemente um tempo, um modo de estar, de ser ou de fazer; outras vezes exprimem relações dinâmicas entre acontecimentos ou eventos que se tornaram paradigmáticos; e, outras vezes, ainda, funcionam como modelos intemporais.
As razões por que as pessoas usam todo o tipo de referências e, especificamente, referências geracionais, são capazes de ter que ver com o nosso desejo de semelhança, de proximidade, de encontrar pares. O desejo de, através do reconhecimento de memórias comummente valorizados, actualizar o passado e, dessa forma, preservar identidades.
O facto de mudarmos - mudarmos simplesmente porque crescemos, envelhecemos e, nesse trajecto, perdermos algumas coisas e ganharmos umas outras - e reformulamos constantemente a visão dos outros e do mundo é bem capaz de jogar um papel decisivo no facto de apreciarmos o encaixilhar de momentos ou de pequenas histórias sem importância que, ainda assim, são as nossas e as de alguns outros, já irreconhecíveis, já dispersos, já disfarçados pelos anos e pela compostura da maturidade. Daí que as referências funcionem como um sinal, como uma espécie de desencadeador de cumplicidades, que dizem o que dizem e, sobretudo, convidem, no que não conseguem dizer, a uma viagem por outros tempos e por outras formas de sermos nós.
No âmbito desta nossa necessidade de referências, que às vezes são muito dotas e outras de uma trivialidade constrangedora, dei-me conta, um destes dias, que uma das referências incontornáveis da minha geração estava à beira do colapso. Dei-me conta que um género de Banda Desenhada que alimentou bravas discussões familiares entre pré-adolescentes e pais perdeu espaço. Que os livros de quadradinhos que faziam parelha com os compêndios da escola nas entediantes tardes em que se estudava entre as aventuras do Fantasma e do Mandrake, português e matemática, sumiram.
Dei-me conta que já não se cita a Mafalada & C.ª, que já ninguém sabe a verdadeira história da Vampirella, que o Cisto Kid, o Cavaleiro Andane e o Major Alvega desapareceram, que até o Blake & Mortimer, o Lucky Luke ou mesmo o Astérix ou o Corto Maltese caminham a passos largos para o esquecimento.
Valendo o que vale, que por acaso acho que é imenso, fico cheia de pena que se cresça sem este tipo de referências tão prazenteiras e insubstituiveis.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

AEQC-TV Os Cavaquinhos - Atuação na Festa dos Comerciantes da Quinta do ...


Um apresentador que tem o hábito de cantar com os artistas. As minhas desculpas ao Mestre Rolando Barros, à Idalina e aos restantes membros do Grupo de Cavaquinhos pela intrusão, num dos vossos temas.
Temos que nos divertir, né?

Nada nos pertence

Um homem morreu intempestivamente...
Ao dar-se conta viu aproximar-se um ser muito especial que não se parecia com nenhum ser humano. Trazia uma mala consigo...
Disse-lhe:
- Bom amigo, é hora de irmos...Eu sou a morte!
O homem assombrado perguntou à morte.
- Já? Tinha tantos planos...
- Sinto muito amigo, mas chegou o momento da partida.
- Que trazes na mala?
E a morte respondeu-lhe:
- Os teus pertences.
- Os meus pertences? São as minhas coisas, as minhas roupas de marca e o meu dinheiro?
- Não amigo, as coisas materiais que tinhas nunca te pertenceram, eram da terra.
- Trazes as minhas recordaçõs?
- Não amigo, essas já não vêem contigo. Nunca te pertenceram, eram do tempo.
- Trazes os meus talentos?
- Não amigo, esses nunca te pertenceram, eram das circunstâncias.
- Trazes os meus amigos, os meus familiares?
- Não amigo, eles nuncam te perteceram, eram do caminho.
- Trazes a minha mulher e os meus filhos?
- Não amigo, eles nunca te pertenceram, eram do coração.
- Trazes o meu corpo?
- Não amigo, esse nunca te pertenceu, era propriedade da terra.
- Então, trazes a minha alma?
- Não amigo, ela nunca te pertenceu, era do Universo.
Então o homem cheio de medo, arrebatou a mala à morte, abriu-a e deu-se conta de que estava vazia.
Com as lágrimas de desespero a brotar dos seus olhos, o homem perguntou à morte:
- Nunca tive nada?
- Tiveste sim, meu amigo! Cada um dos momentos que viveste foram só teus.

A vida é só um momento...Um momento todo teu! Por isso, desfruta-o na sua totalidade.
Vivamo-lo AGORA...

Nota:  Não é uma preocupação de agora, pois há muito que tenho sentido que muitas das minhas histórias, que foram publicadas em vários órgãos de informação quase sempre com o título: "Vida Real...Gente Real...Que Real Natal!" aparecem em emails reencaminhados com ilustrações e musicados, sem referirem o nome do autor nem a fonte de onde foi retirado. Chegou-se ao ponto de um colega jornalista, Jorge H. Santos, ter-me informado que num site de uma firma de «Conteúdos Financeiros Alemã», estar postado um trabalho meu, como forma de publicitar os seus produtos. Neste caso, fez-se o reparo do nome e queriam pagar pelo abuso de direitos de autor. Respondi, que não era mercenário da escrita, mas, ou retiravam a história ou colocavam o meu nome no final, apenas e só! Com o pedido de desculpas da multinacional removeram o conteúdo publicitário.
Existem muitos trabalhos do qual sou autor, a circular pela net (via emails) e tal como afirmou o Miguel Sousa Tavares (que vê os seus livros circularem de email para email em formato pdf) não vale a pena lutar contra estes "tubarões cibernautas" e não justifica apresentar queixa contra terceiros, porque nunca vai dar em nada.
Portanto, se verificarem que alguma história que coloco neste meu blog for já vossa conhecida, ela pertence-me. Não publico nada que não seja da minha autoria.
Uns criam...Outros copiam!

                                                   Joaquim Maneta Alhinho

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

II Gala de Canções do Zeca


Não imaginam a satisfação que meu deu apresentar esta Gala de Canções do Zeca Afonso, em parceria com a Ana Cristina Videira.
Deram-me ainda o previlégio de declamar um dos poemas do Zeca (Os Eunucos).

O tempo e as máquinas

Se são muitos os pais que se preocupam com o uso que os seus filhos, infantes e adolescentes, dão às horas que passam nos seus computadores, são bastante menos os que se ocupam, de facto, com o assunto.
A maioria destes pais, provavelmente, nem sabe bem o que pode ou deve fazer nem quais os limites que tem de estabelecer ao uso de um instrumento tão propagado e louvado.
Exactamente porque o uso destes aparelhos aparece envolto numa aura de benefícios imensos, sem os quais, aliás, parece não ser possivel crescer e progredir, está fora de causa responsabilizá-los pelos usos indevidos a que podem ser sujeitos. Aparentemente, os computadores transformaram-se em utensílios básicos de estudo e de conhecimento com inevitáveis efeitos secundários, tão descritos quanto pouco avaliados. Ainda assim, todos sabem nomear os tais usos indevidos que variam entre as horas a jogar e as horas de eventuais contactos considerados como perniciosos e "desencaminhadores". Como pano de fundo dos maiores medos parentais, aparece o acesso a sítios em que o sexo seja o motivo de encontro e conversa, com as inerentes fantasias, muito promovidas por séries de televisão, de que o respectivo rebento se cruze com um serial killer, com uma organização pedófila, ou então simplesmente com um exibicionista versão ciber que, ainda assim, destapa uma diferente espécie de gabardina.
Com todas as vantagens e desvantagens das maquinetas, tenho para mim que nem vale a pena complicar nem desistir de estabelecer limites neste campo como em todos os outros.
O maior problemas do uso dos computadores pelos mais novos não é o que lá se encontra, porque apenas concentra e espelha auilo que existe, e também se encontra, nos outros mundos menos virtuais. O maior problema é mesmo o tempo despendido: a teclar, a jogar, a pesquisar, a fazer o que quer que seja que se aproxime da obsessão e diminua de forma significativa o investimento no mundo que gira à volta.
Apenas porque a vida é sempre, aqui e agora, e o virtual um espaço de recurso, inverter os termos da valorização facilita o que mais tememos: ficar isolados e descobrir aí um enorme sentimento de solidão.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Credibilidade

A credibilidade não é, definitivamente, um valor do nosso tempo.
A bem da verdade, nem sei mesmo se alguma vez a credibilidade chegou a ser um valor. Tudo o que se sabe, tudo o que a história passada nos diz, é que na vida, tal como dizem que acontece na política, é muito mais importante parecer do que ser. A responsabilidade da coisa até pode ser dos meios de comunicação actuais, que se entretêm no interessante exercício de fazer narrativas alternativas àquelas que quem tem imagens a vender se esforça por manter.
Aliás. parece que isto se aplica à credibilidade como se aplica a uma extensa lista de virtudes e características que se devem ter, que se deseja que os amigos, os filhos e as pessoas todas com quem se priva de perto tenham. Pode ser que seja para bem delas, mas também pode ser que, lá no fundo, acreditemos que existem estatutos que se obtêm por contágio e proximidade e, nessa medida, se nos colem à pele e não nos deixem cair em tentação.
A credibilidade, como todos os valores, tem um enorme inconveniente de tender para o absoluto. Ou seja, ou se é credível ou não se é. Sem meias tintas, sem  coloridos ambíguos, sem aquela enorme zona de entremeio onde nos costumamos mover e ser. Como resultado, os vulgares mortais que conseguem ser credíveis nuns tantos aspectos e absolutamente para esquecer noutros tantos, quando expostos à enorme tentação de parecerem perfeitos, caem como patos. Limam as arestas que lhes davam graça, vestem as cintas e os corpetes dos avôs, fazem todos os liftings que podem e a que têm direito na santa ingenuidade que ninguém dá por isso.
O resultado até poderia ser gravoso, mas, sendo dado que vivemos no tempo e no lugar em que vivemos, quer dizer sem interesse na história nem investimento na memória, a credibilidade ou a falta dela transforma-se apenas em mais um tema, um fait-divers que se comenta de passagem e se arruma numa prateleira alta, muito alta.
Para uns, porque o dia-a-dia aperta e exige demais, para outros, porque os próprios telhados de vidro são facilmente atingíveis, para mais uns tantos, porque há o risco de perder alguma coisa importante, para os restantes, porque o que não é um valor, não o é, e assunto arrumado.
À laia de conclusão, advertência ou exortação, só pode ficar o convite ao humor, ao recurso à capacidade de rir de nós próprios, dos outros e do curioso e atabalhoado mundo em que vamos vivendo. Quem não tiver isso como recurso arrisca-se a sofrer demais, a descrer demais, a suspirar por outros tempos que, provavelmente, nunca foram.

Nelia LIVE - Praia


Tal como já afirmei na minha página do facebook não me envergonho de ter escrito esta letra para este tema cantado pela Nélia. Possuo neste meu blogue outro tema escrito por mim para esta artista luso-americana (um fado/canção).

sábado, 22 de setembro de 2012

Jorge Fernando & Sam The Kid - Pois é

Desorientados

Um dos temas enrodilhados que se aborda uma e outra vez chegando-se sempre a uma espécie de beco sem saída é o da gestão do dinheiro, ou, melhor, da falta de dinheiro.
É público e notório que há menos dinheiro a circular. Mesmo que os jornais e revistas mais rosados transformem em assunto o estilo de vida de alguns jogadores de futebol, uns tantos ex-políticos e um punhado raquítico de empresários de sucesso, o facto é que os cidadãos comuns vão deixando pistas sucessivas sobre o desconforto crescente de tentarem viver como já viveram noutros tempos, com bastante menos dinheiro.
Mesmo os comentários jocosos sobre "onde está a crise?" que se largam a propósito das longas filas de trânsito para as praias ou para concertos rock, dos engarrafamentos aeroportuários relacionados com jogos de futebol ou férias de Verão, não chegam para tapar a sensação de empobrecimento e degradação. São os milhares de casas e escritórios para vender ou alugar, ainda a preços desrealizados, que dão às povoações um ar fantasma; são os espaços públicos malcuidados como se tivessem sido esquecidos; são as lojas cheias de mercadoria a saldar e a liquidar fora de tempo ou, então, aslojas vazias com dizeres "venda" ou "trespassa", como se ainda fosse possível. São os restaurantes vazios a partir de uma certa altura do mês, ou ocupados a alimentar com higiénicas e acessíveis sopinhas e saladas os almoços de meio mundo; é até a bendita lei da proibição de fumar que legitima ocasionais cravanços e facilita o deixar de fumar saudável e muito mais barato.
No meio da situação e dos palpites e remédios que dirigentes e comentadores vão invocando como bons, apareceu noutro dia uma ideia peregrina que fez manchete, mereceu atenção e, de caminho, nos deu uma razoável ideia do nível de desorientação de quem é suposto manter o rumo das coisas.
A lógica é ensandecida e esmagante: alguém vai ter que pagar!
Mesmo que seja uma ideia absurda, mais uma, é também mais um prego cravado na cadeia continuada e teimosa de medidas extravagantes que eram para ser e não foram, mas que se tivesse jeito, se tivessem cabimento e sentido, se tivessem vingado e sido implementadas, seriam espertas e muito eficazes. Clarifica, bem, o que é a desorientação e explica de forma magistral o "desenrascanço" nacional que arranja um problema para resolver o anterior e assim sucessivamente.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

João Pedro Pais - Vens ou Ficas?


Um tema marcante para mim. Quando aceitei o desafio de escrever para o JPP, recebi apenas o piano como alinhamento. Sem conhecimentos musicais, colocar as palavras por entre esta bonita musicalidade, não foi tarefa fácil. Trocaram a palavra «Azeitão» por «estação», mas tudo bem...
Nasceu uma balada linda que tem sido pouco explorada pelas rádios e pelo JPP. Merecia mais!

Espirito de Família

Portugal é um país envelhecido, querendo com isto dizer exactamente o mesmo que as estatísticas exprimem - a existência de mais pessoas na velhice do que na infância - e as famílias sentem dificuldades em conciliar o desejo de procriar com a responsabilidade de apoiar as gerações anteriores.
O envelhecimento, em si mesmo, não tem nada de complicado. Mas o tratamento social que se faz dos diferentes períodos da vida em conjunto quer com a tradição, quer com as políticas de família, acarreta um conjunto de consequências com que depois se tem de lidar. Entre elas há um paradoxal situação: à medida que as famílias foram diminuindo a sua extensão e o seu campo de influência, viram aumentar a sua atribuição de competências.
As famílias actuais têm que providenciar, directa ou indirectamente, além de vínculos afectivos, condições materiais óptimas para os seus velhos e para as suas crianças, sendo que a esmagadora maioria não tem recursos para tal.
Tem que se compatibilizar horários de trabalho com a existência de crianças pequenas que só podem ser cuidadas por dispositivos existentes na comunidade, como sejam infantários, creches e escolas, numa ínfima parte desse tempo. Quer dizer, ou se tem bastante dinheiro, ou se tem a sorte de ter uma rede social de apoio extensa, ou criar dois ou três filhos transforma-se numa tarefa hercúlea, extenuante e, por essa via, pouco gratificante.
Em relação aos idosos, o mesmo se passa. Ou se tem recursos económicos e relacionais enormes ou, tarde ou cedo, o confronto com doenças, lutos, incapacidades funcionais ou mentais dos mais velhos transforma a vida familiar num extraordinário exercício exercício de equilibrismo na gestão, sempre deficiente, das famílias que se vai tendo.
Depois, o Estado, que é suposto administrar os recursos comuns no interesse comum, elege outros interesses como prioritários e endossa às famílias a responsabilidade de descobrir como se pode fazer omoletas sem ovos, quer dizer, proporcionar, além de afecto, condições materiais de desenvolvimento, tratamento e acompanhamento de todos os que necessitam e que, por sorte ou por azar, estão ligados pelos laços de sangue.
Se não se espera que um estado actual seja dono de creches ou residências assistidas, tenha baby-sitters ou cuidadores formais ao serviço, espera-se, legitimamente, que seja capaz de delinear políticas em que esses recursos não sejam um luxo dispendioso mas uma infra-estrutura da vida humana com alguma dignidade.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma certa porcaria

Como sabem, a miséria, a ignorância e mais umas tantas coisas da mesma antipática família vêem-se também pelos sinais que espalham à sua volta.
Alguns países do mundo impressionam pelo facto de chamarem cidades a imensos bairros de lata, sem saneamento básico, sem níveis de salubridade mínimos, sem qualquer noção de ordenamento ou organização que acabou por transmitir uma sensação caótica que, mais do que provavelmente, é a que caracteriza o estilo de vida ou de sobrevivência das populações.
Outros países, mais arrumadinhos e sofisticados, cultivam outros patamares de miséria e ignorância, como o que não se vê não existisse. Aí proliferam outros níveis de porcaria: os metais pesados no mar, os pesticidas nos alimentos, a desconsideração sistemática e tonta sobre aquilo que a comunidade cientifica diz que dstrói e mata, a nós e ao planeta.
Num nívem mais intermédio, mais próximo de nós e da nossa forma de viver e estar, o que vai existindo é uma certa quantidade de sujidade: das pessoas, das ruas, dos espaços públicos e privados que, simultaneamente, informa sobre os níveis de civilidade e cidadania dos sujeitos, sobre os padrões éticos e estáticos que perfilham, sobre a qualidade do investimento que fazem na vida em sociedade.
Curiosamente (e é mesmo curioso) verifica-se que vamos fazendo com os espaços públicos o que as pessoas pouco diferenciadas de outros tempos (e talvez ainda) faziam com as suas casas: tinham uma sala para hipotéticas visitas, muito bonita, muito bem arranjada, com tudo o que consideravam ser do bom e do melhor, e que se esforçavam por manter sempre impecável, mas viviam quotidianamente, nas traseiras, em espaços atabalhoados, enfezados e nem sempre asseados.
Essas salas, tipo montra de uma realidade que não existia, serviam para fazer de conta. Por serem excessivas em relação às necessidades e ao estilo de vida dos sujeitos, eram sítios tratados como santuários onde não se punha os pés, onde não se vivia, mas que pareciam existir para cumprir uma função referencial ou de consolação.
Também nós, hoje em dia, vamos tendo salas de visita que tratamos de idêntica maneira. Falamos delas como se fossem a nossa casa, mas passamos o tempo em subúrbios bons para explodir, em estilos de vida desleixados, em comunidades que não têm grande sentimento de pertença e que, quando o têm, acartam o lixo para a comunidade vizinha como quem esconde a porcaria debaixo da carpete.

PACO BANDEIRA - "O teu VELHO"


Uma certa nostalgia...
A amizade e o amor não se devem mendigar.
Nasce e brota naturalmente!

Minha Velha

Agora és a minha velha
que anda só e caminhando
sua tristeza infinita
de tanto seguir andando.

Para quê tanta tortura
que assaltou os meus dias
eu desculpo a loucura
que marcou a minha vida.

Velha, minha querida velha
agora caminha lenta
como perdoando o vento
eu sou o teu sangue velhota
o teu silêncio e o teu tempo.

Seus olhos são tão serenos
sua figura cansada
pela idade foi vencida
mas caminha sobre estrada.

Eu vivo os dias de hoje
em ti o passado lembra
que só a dor e o sofrimento
tem a sua história sem tempo
velha, minha querida velha.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fernando Tordo canta "Adeus Tristeza"


A vida é um jogo e como qualquer jogo tem que ser jogado. Umas vezes jogamos bem e ganhamos, outras, jogamos menos bem e perdemos. O ganho e a perca fazem parte da vida. Façamos então o jogo da vida!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Pedi ao vento

No mundo com tantas doenças
o povo com pouca crença
eu venho pedir cantando
em sentimentos diversos
eu venho pedir ao vento
dar uma volta pelo Universo.

Pedi ao vento que leve lembrança
prá minha terra
pedi ao vento que leve paz
onde há guerra
pedi ao vento que leve fartura
onde há miséria
pedi ao vento que leve um beijo
nos lábios dela.

O vento foi, o vento veio
será que o vento já me atendeu
só resta agora tu entenderes
que este vento é o nosso Deus.

Pedi ao vento que salve os jovens
perdidos na droga
pedi ao vento que espalhe no céu
o perfume da rosa
pedi ao vento que todas as nações
sejam gloriosas
pedi ao vento protecção
ao filho da mãe amorosa.

Pedi ao vento para acalmar
as ondas dos sete mares
pedi ao vento que leve harmonia
a todos os lares
pedi ao vento que leve embora
a impureza dos ares
pedi ao vento em orações
que fiz nos altares.

Pedi ao vento para nos conduzir
na estrada da vida
pedi ao vento que encontre
as crianças desaparecidas
pedi ao vento que dê ao doente
conforto e guarida
pedi ao vento que a minha prece
seja ouvida.

O Vento foi, o vento veio
será que o vento já me atendeu
só resta agora tu entenderes
que este vento é o nosso Deus.

Sou...

Sou um jornalista por dedicação, um escriba por vocação, inquieto por opção e optimista por voluntária obrigação.

domingo, 9 de setembro de 2012

Oswaldo Montenegro - Metade


Hoje estou como a mensagem deste bonito tema.
 Há dias assim...

O que é que andamos a fazer?

Habituados a pensar que as crises alimentares - e, de caminho, políticas -, do terceiro mundo estão de alguma forma relacionadas com a superabundância destes produtos no chamado primeiro mundo, percebemos as afirmações de alguns dirigentes mundiais que, em plena crise, vêm dizer preto no branco que ela deve ser vista, sobretudo para África, como uma oportunidade de resolução da fome e da pobreza, que têm parecido congénitas.
Se estas podem ser as boas notícias, e se o nosso irracional optimismo nos permite olhar para a questão de uma iminente crise alimentar noutros pontos do globo que até agora não a têm sofrido como resolúvel no curto ou no médio prazo, não dá para contornar o grande mistério de tentar perceber como chegámos aqui. Como é que uma coisa destas pode estar a acontecer? Como é que numa sociedade de abundância conseguimos o novo-riquismo absurdo de deixar que o essencial falhe para que o acessório ou mesmo o supérfluo se mantenham? Como é que nos conseguimos entreter tanto, e fascinar tanto, com os dispositivos e os mecanismos que inventámos para expandir a nossa condição humana que nos esquecemos que, por debaixo dela, está, e estará sempre, uma imperial natureza humana?
De repente, a comidinha, que nos países do círculo de que, mal ou bem, fazemos parte, tem sido um adquirido indiscutível, reentrou na ordem do dia com preocupação.
É que também os países ricos têm pobres, muito pobres, e o aumento galopante de alguns preços faz prever que a fome poderá ser um fenómeno com que teremos de nos confrontar quotidianamente em vez de, como até agora, se manter circunscrito a bolsas populacionais restritas ou como tema longinquo de povos de que apenas ouvimos falar.
O facto de esta e outras situações de igual gravidade estarem a acontecer tem mesmo que nos obrigar a reflectir.
Mas que raio é que andamos a fazer?

Regresso às aulas - Continente 2012


Um anúncio que me deu volta à cabeça. É a minha primeira experiência em publicidade.
Não tinha ideia formada, a responsabilidade era muita e o tempo muito curto.
Aproveitando a boleia do tema do Boss AC, tudo se tornou mais fácil.
Adiciono o primeiro esboço manuscrito que serviu de base para o produto final.

sábado, 8 de setembro de 2012

Jorge Palma - Imperdoável

Distracções

A distracção é uma inefável característica que, desgraçadamente, não conseguimos usar a bel-prazer. Era óptimo sermos capazes de nos distrairmos quando a conversa não nos interessa; quando as preocupações, umas quaisquer, das mais sérias às mais mesquinhas, se resolvem instalar em nós, perturbar-nos o sono e transformar os dias em sobressaltos cansativos. Era uma maravilha podermos desligar a atenção, desinvestir os nossos costumeiros interesses e entretermo-nos a ver a chuva a cair, a erva a crescer, as pessoas a passar na rua com a simplicidade dos eventos sem história, que apenas acontecem, sem sombras nem máculas.
Era um previlégio flutuar no tempo e na vida sem necessidade de concentrações intensas e doloridas, sem esforços permanentes para fazer render mais, ou melhor, qualquer capacidade que nos dá de comer ou nos propicia um espaço de existência que consideramos adequado.
Queríamos todos ser competentes a distanciar pensamento e emoções que nos afligem.
Ás vezes, irritados com a hiperatenção que nos habita e nos coloca em zonas de tensão e contracção como se tudo à nossa volta fosse muito importante, muito definitivo; como se tudo o que nos cerca tivesse de ser minuciosamente observado e arquivado em memória, clamamos por um qualquer estado de ignorância, embotamento ou distracção que nos permitisse a entrada numa imaginária zona de absoluta tranquilidade.
Mesmo que critiquemos os que nunca prestam atenção, os que nunca dão por coisa alguma, os que parecem viver paredes-meias com uma outra realidade mais agradável ou colorida, os que perguntam constantemente o que se passa para no momento seguinte já estarem longíssimo e alheados, temos sempre um momento em que suspiramos por uma genuína capacidade de desleixo selectivo e deliberado.
Quando nos zangamos, o que para quase todos é uma circunstância muito mais recorrente do que gostariamos, juramos a pés juntos que vamos deixar de nos ralar; que vamos adoptar uma atitude leve e descontraída; que no próximo milénio (ou pelo menos na próxima semana) nos vamos conseguir desligar de tudo o que nos mantém tensos, inquietos, responsáveis e muito preocupados.
Desgraçadamente, parece que estamos condenados a distrairmo-nos quando não queremos com o que não dá jeito, não parece útil ou não resulta frutuoso.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

João Pedro Pais - Mentira

A mentira

Ensinamos às crianças, de pequeninas que não se mente. Que mentir é feio, que mentir é mau, que mentir nos desgosta e, em última análise, é passível de punição.
Como de costume, umas aprendem melhor que outras aquilo que pretendemos ensinar. Ou seja, uns aprendem a evitar a mentira, outros a mentir bem e muitos mais aprendem a mentir quando lhes dá jeito.
Os que aprendem a evitar a mentira, em crescidos continuam a corar e a ficar atrapalhados, a bocejar e a baixar os olhos, a emitir sinais antagónicos sempre que as palavras os encaminham para fugas àquilo que eles consideram ser a verdade dos factos.
Mentem na mesma, se quisermos ser rigorosos e precisos, mas mentem vitimizados pelas circunstâncias e aperreados por uma consciência constrangida. Movem-se, por isso, naquela estreita faixa do não dito, entre a omissão e o desvio, a mudança de conversa e as reticências tão pesads que quase se vêem. Mentem triste e atabalhoadamente, pedindo desculpas silenciosas.
Os que aprendem a mentir bem - que, acrescente-se, não são muitos - vestem o relativismo das coisas como uma segunda pele. Mentir bem quer aqui dizer não se desmascarar a cada passo nem inventar histórias inverosímeis.
Quer dizer, ser convicente e sentido, emocional e emocionado. Os bons mentirosos não são, por isso, os grandes mentirosos. Usam a mentira como lhes convém, mas parcimoniosamente e a propósito. Dir-se-ia que têm um sentido político do que deve ser dito e legitimam cada uma das suas falas com à vontade e desembaraço. Mentem artisticamente, o que, pela raridade, quase têm mérito.
A maioria de nós mente quando dá jeito e, por isso, moderadamente.
É uma gama demasiado ampla onde cabem as desculpas ocasionais, que podem ir ao esfarrapamento óbvio até às declarações de principios mais definitivas; as mentiras piedosas; a ocultação da vergonha e segredos; a defesa dos interesses importantes, e por aí fora. Sendo ampla, não é uma categoria muito original nem muito interessante, de tão estafada e conhecida.
De forma extremada e patológica existem ainda os que têm uma relação com a factualidade e, por isso, mentem compulsivamente e, por isso, mentem compulsivamente ou, pelo contrário nuncam mentem. A estes, como se percebe, não se pode responsabilizar pela manipulação que fazem da verdade.

sábado, 1 de setembro de 2012

Oswaldo Montenegro - Lume de Estrelas


Foi com enorme regozijo que recebi o convite deste "irmão" brasileiro para lhe fazer duas letras para musicar, com vista ao seu novo CD a editar antes do Natal.
O Oswaldo Montenegro é um "monstro" da música brasileira e fico feliz por se ter lembrado de mim.

Nélia - Sai da minha vida


Foi um prazer trabalhar com a Nélia, uma luso/americana que soube dar destaque às minhas palavras. Assim dá gosto!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Continuarei...

ESCUTAR; CONTEMPLAR; LER...CONTINUAREI!

Continuarei a acreditar, mesmo quando os outros perderam a esperança.
Continuarei a amar, mesmo quando os outros semearam os ódio.
Continuarei a construir mesmo que os outros destruam.
Continuarei a falar de paz mesmo no meio da guerra.
Continuarei a iluminar, mesmo no meio da escuridão.
Continuarei a semear, ainda que outros pisem a colheita.
Continuarei a gritar mesmo que os outros se calem.
Vou pintar sorrisos em rostos com lágrimas.
Convidarei a caminhar a quem decidir parar.
Porque no meio da desolação, haverá sempre uma criança que nos olhará esperando alguma coisa de nós.
Mesmo no meio da tempestade, por algum lado sairá o sol.
Os impossíveis de hoje serão os possíveis de amanhã...

sábado, 25 de agosto de 2012

Assuntos de família

Envelhecemos todos ao mesmo tempo, num sentido que para uns é só de crescimento e para outros tem que ver com a maturidade.
Tal como para muitos pais é difícil aceitar que os filhos cresceram e são, a partir de certa altura, adultos, pares entre pares, com quem se tem muitas ou poucas afinidades, mesmo que os vinculos continuem poderosos, para muitos filhos o envelhecimento dos pais é custoso.
Provavelmente, a maioria aproveita o facto do desenvolvimento, a partir da adultícia, ser lento, para não dar pelo envelhecimento dos pais, depreciando sinais ou queixas de dificuldades várias qye vão surgindo. Conseguem, numa atitude próxima da navegação, fazer de conta que, se não há queixas é porque não há problemas, e, se elas existem, é de feitio, numa linha de chamada de atenção que sempre esteve presente.
Para outros filhos, no entanto, a asumpção do próprio crescimento e autonomia pode traduzir-se numa tomada de poder, como se doravante fossem eles os responsáveis últimos dos pais, uma espécie de encarregados de educação dos seniores. Neste formato, as reprimendas e ralhetes sucedem-se, bem interncionados, mas desajustados, na postura de que agora eles é que sabem o que convém melhor aos próprios pais.
Há, depois, uma versão "dura" desta atitude, misturada com níveis de uma uma dependência nunca resolvida, em que, não tendo em conta nem a idade cronológica dos pais, nem o seu nível de actividade e funcionalidade, se quer permanecer a figura central e receptiva da relação, mas depreciando as capacidades e competências parentais. Neste desagradável formato, criticam-se todas as opções dos pais que não são viradas para o bem-estar dos filhos e justificam-se com o envelhecimento, ainda que prematuro, decisões que não vão em seu benefício.
É nesta gama, crescente, que se encontram tantos casos de maus-tratos, abuso de confiança ou meras zangas tardias, ocultadas da opinião pública e dos próprios intervenientes, sobre o titulo genérico de assuntos de família.

Casa onde não há pão...

Há muitos anos, um senhor chamado Maslow estabeleceu que os seres humanos, constitucionalmente, têm um conjunto de necessidades físicas e psicológicas que precisam de ser satisfeitas. A não satisfação dessas necessidades pelo ambiente envolvente (as famílias, as escolas, os trabalhos, os amigos, os países) traduz-se num sentimento de mal-estar subjectivo e, frequentemente também em formas de adoecer físicas ou psicológicas devidamente reconhecidas.
Sabe-se hoje, ou deveria saber-se, que estas necessidades humanas não são umas quaisquer, conforme a pessoa, mas têm um carácter universal, fixo, desenvolvimental e hierárquico.
Na base destas necessidades estão obviamente, as de índole fisiológica. Todos nós precisamos de comer, beber e dormir e o comprometimento da satisfação de qualquer dessas necessidades básicas transforma os seres civilizados que costumamos ser em criaturas primitivas.
Depois disso, vem a necessidade de segurança. Segurança que, na medida em que é mediada pela percepção do próprio e sofre as evoluções do próprio percurso de vida, começa por ser estabelecida no contexto das relações interpessoais (do bebé com os seus cuidadores) e, na idade adulta, se exprime de múltiplas e diversas maneiras. Sente-se segurança por viver numa sociedade sem níveis elevados de atentados à própria vida, mas também se sente segurança quando existe estabilidade relacional, de emprego, de expressão de convicções ou ideias.
Só depois vem a necessidade de amor e pertença, ou seja, só depois de satisfeitas as necessidades dos níveis anteriores é que nos disponibilizamos para amar, constituir familia, preocupamo-nos com os grupos sociais a que pertencemos ou não pertencemos e por aí fora.
Depois destas, a lista de necessidades continua, apelando cada vez mais funções superiores e mais sofisticadas. Mas, para o caso vertente, que é no essencial explicar levemente por que é que "em casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão", acho que chega.
Talvez a nossa questão não seja literalmente a do pão, mas, sobre a falta de segurança sentida actualmente, parece que não há grande dúvida.
Feitas as contas, talvez nos enganem ou nos enganemos, sobre o mundo em que afinal vivemos.

                                                          Joaquim Maneta Alhinho


Nota: Esta crónica não está de acordo com o Novo Acordo Ortográfico por expressa vontade do autor.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Vencedor e o Derrotado

Um vencedor enfrenta os desafios um a um. Um derrotado contorna os desafios e nem se atreve a enfrentá-los.
Um vencedor é parte da solução. Um derrotado é parte do problema.